O empate de 0 a 0 ontem à noite em Campinas ante o Guarani pela segunda rodada da fase classificatória da Série A do Campeonato Paulista foi um resultado melhor do que a apresentação do São Bernardo. Embora ainda seja muito cedo para sentenças definitivas, mas com base no perfil do técnico Luciano Dias, não cometeria heresia ao afirmar que a equipe da região joga no fio da navalha uma competição curta e cruel. Por isso tanto pode se dar bem como se dar mal. Série A não é Série B, talvez seja recomendável lembrar o treinador gaúcho. Transformar cada rodada da competição em roleta russa é um risco enorme.
Estou me referindo ao modus operandi tático do São Bernardo, já observado ante o favorito Santos e repetido ontem ante um Guarani que passa por reformulação. Se diante do Santos o São Bernardo, mesmo com 10 jogadores, arriscou as vulnerabilidades defensivas, ontem à noite foi demais. O técnico Luciano Dias avançou excessivamente o sinal do bom senso e só não perdeu os três pontos em disputa porque o Guarani errou muito nas conclusões.
Não tem cabimento o São Bernardo, ainda um time pequeno na estrutura histórica do futebol paulista, meter-se a besta em Campinas nos últimos 20 minutos, quando retirou o primeiro volante do combate e abriu-se aos contragolpes de um adversário que retomou o controle das ações. Arriscou demais Luciano Dias. Ganhar fora de casa é um ótimo negócio porque três pontos valem muito mais que um ponto de empate, mas há situações em que o mínimo positivo é mais valioso do que o risco exagerado, como se deu ontem.
Talvez o técnico Luciano Dias devesse estudar a fundo o sucesso do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado. O Azulão ganhou mais pontos fora do que em casa entre outras razões porque jamais transmitiu a ideia ao adversário de que pretendesse vencer a qualquer custo. E se deu mal em casa exatamente porque se excedeu na transparência de procurar a vitória de qualquer maneira.
Oscilação demais
No cômputo geral do empate em Campinas, o São Bernardo deixou impressão diferente da do jogo com o Santos. Desta vez o time oscilou demais e sofreu para sustentar a igualdade no placar. Os primeiros 30 minutos foram integralmente do Guarani, com melhor ocupação de espaços e explorando as deficiências defensivas do lateral/ala Régis, além de marcar mais à frente. No terço seguinte do jogo, entre os 30 minutos do primeiro tempo e os 15 primeiros minutos do segundo tempo, o São Bernardo equilibrou o jogo com maior mobilidade e poder de infiltração. Já no terço final, aos poucos, o Guarani retomou o controle e foi beneficiado pela generosidade defensiva do adversário. A compensar a loucura tática de Luciano Dias, apenas dois contragolpes sempre com Ricardinho, que entrou no segundo tempo. O time da região poderia ter vencido, mas ficou a nocaute mais vezes.
Que lições o São Bernardo deixa para aprender no futuro próximo de um campeonato de curta duração (são apenas 19 rodadas) e de alto grau de rebaixamento (os quatro últimos caem para a Série B)? Talvez seja muito cedo para diagnósticos definitivos, mas a ponderação tática é essencial. Diferentemente da Série B Paulista, cuja maioria dos times é de muito menor qualificação, a Série A não admite vacilos. Erros são traduzidos em gols. Por isso o São Bernardo exagera ao buscar a vitória a qualquer preço. Na medida em que os adversários também se ajustam, mais complicações poderão vir.
Ainda mais que o São Bernardo tem problemas ofensivos crônicos. A começar porque depende demais do experiente centroavante Fernando Baiano, muito isolado à frente. Os três meias de aproximação (Cleber, Michel e Bady) não são infiltradores por excelência. Por isso, a dependência do avanço dos laterais Régis e Gleidson é essencial. Mas eles estão encontrando dificuldades ante a maior qualificação dos adversários, porque às costas abrem-se avenidas. A saída para traduzir ambições ofensivas em materialidade prática é utilizar o atacante Ricardinho, alterando-se o sistema de 4-2-3-1 para 4-2-2-2. Sem contar que os laterais precisam cuidar primeiro de funções defensivas, embora sejam por característica mais agressivos.
Disciplina funcional
Também vai pesar no cômputo geral do São Bernardo no campeonato maior disciplina funcional, no sentido de não abusar do cometimento de infrações, principalmente nas proximidades da área. Os adversários sempre têm um e outro bons batedores e também treinam à exaustão essas bolas paradas. O Guarani de Fumagalli por pouco não superou o goleiro Wilson Júnior numa cobrança no primeiro tempo.
Ainda faltam ao São Bernardo naturais ajustes de marcação, de compactação e de manutenção do ritmo durante todo o jogo, mas isso é questão de tempo, de treinamentos e de concentração psicológica. Quando mais rapidamente reduzir essas deficiências, menos problemas terá para fugir das últimas colocações e mais palpáveis serão as possibilidades de alcançar uma classificação final que lhe permita ganhar mais alguns meses importantes de calendário, metendo-se entre as equipes da Série D do Campeonato Brasileiro.
A formação do grupo de jogadores indica um sentido positivo nas projeções, porque, diferentemente de 2011, quando foi rebaixado ao estrear na competição paulista, desta vez há um banco de reservas com meia dúzia de jogadores à altura dos titulares.
Se segurar o ímpeto do técnico Luciano Dias, o São Bernardo necessariamente não perderá o potencial ofensivo, mas não será um convite aos adversários sempre loucos pela generosidade alheia. Deixar zagueiros expostos com três meias nem sempre dispostos a colaborar e com a cobertura de apenas um volante -- no caso Naldinho, que de fato é um segundo volante --, jogando fora de casa, como ontem à noite, é de lascar.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André