Esportes

Três em um, São Bernardo precisa
se encontrar para evitar complicações

DANIEL LIMA - 28/01/2013

O São Bernardo jogou pela terceira vez na Série A do Campeonato Paulista ontem à noite em Ribeirão Preto e a derrota de 2 a 0 pode ser simplificada sem risco de tornar-se superficial: a equipe do técnico Luciano Dias se dividiu em três durante os 90 minutos: duas equipes ruins e uma equipe boa. A equipe boa jogou um terço do jogo, dominou o Botafogo, perdeu pelo menos três gols e não fez nenhum. Os dois terços do São Bernardo ruim receberam uma profusão de cartões amarelos, um cartão vermelho e sofreram os dois gols. Esta será uma semana decisiva -- enfrenta o Palmeiras na Capital na quinta-feira e domingo faz o clássico regional com o São Caetano, no Estádio Primeiro de Maio.


 


Só o fato de ter existido um São Bernardo múltiplo, não muito diferente dos dois jogos anteriores (derrota em casa para o Santos e empate fora com o Guarani) já dá a ideia do desgaste do técnico Luciano Dias. Aliás, o próprio treinador precisa repensar alguns pontos. Se acertou em Ribeirão Preto ao escalar desde o começo o mais ofensivo Ricardinho no lugar do sempre reticente Kleber, depois de nos dois jogos anteriores insistir na formação 4-2-3-1 sem poder de letalidade, acabou errando mais uma vez em expor demais a equipe a contragolpes, agora com a adoção do 4-2-2-2. Está demorando para Luciano Dias entender que por mais que uma equipe tenha limitações na Série A Paulista, caso do Botafogo igualmente em fase de estruturação, sempre haverá um risco de surpresa, porque um ou outro jogador tem qualidade técnica para transformar erro em gol.


 


Foi exatamente o que aconteceu ontem quando, aos 19 minutos do segundo tempo, um escanteio colheu a defesa do São Bernardo mal posicionada e um goleiro Wilson Júnior perdido na saída da meta: o zagueiro Cris subiu sozinho e fez 1 a 0 de cabeça para o Botafogo. Um castigo enorme, porque o São Bernardo estava melhor ao soltar os laterais/alas para funções mais ofensivas (até então estavam mais preocupados em marcar a subida dos dois alas do Botafogo) e ao começar a trocar os lançamentos compridos demais por passes progressivamente mais curtos e evolutivos.


 


O gol desnorteou o São Bernardo, mas não decorreu da mudança do Botafogo, que substituiu o inútil meia-atacante Francis, sempre embolado com o centroavante Nunes, pelo também meia-atacante Otacílio Neto, que pouco apareceu mesmo atuando mais à esquerda. Seis minutos depois do primeiro gol, um lançamento para Zé Antônio entre os zagueiros Daniel Marques e Samuel virou uma jogada fatal porque a bola sobrou para Nunes dominar e arrematar ante a saída do goleiro. O Botafogo acabara de liquidar um jogo que lhe parecia complicado.


 


Cartões em excesso


 


Se o resultado tivesse sido construído nos 30 minutos iniciais do primeiro tempo teria sido até natural, porque o São Bernardo excedia-se em nervosismo. Em apenas 34 minutos recebeu quatro cartões amarelos. O Botafogo não jogava um primor, mas impunha certa velocidade no meio de campo e colhia o São Bernardo sempre mal posicionado. A linha de defesa jogava próxima demais da linha de fundo e concedia ao adversário espaço para construir jogadas no vácuo entre volantes e zagueiros. O meia Zé Antônio apareceu duas vezes com arremates perigosos. Tudo seria pior se os alas Régis e Gleison não cumprissem à risca as orientações do técnico e dessem liberdade ao apoio dos alas do Botafogo, Daniel e Fernando. De vez em quando o São Bernardo acertava um contragolpe, principalmente ao utilizar a velocidade de Ricardinho pela esquerda, mas era pouco. Fernando Baiano, lento e sem reflexos, não ganhava uma jogada no interior da área e ao recuar se distanciava demais da especialidade de finalizador. 


 


O São Bernardo ajustou as peças aos poucos e depois dos 30 minutos do primeiro tempo conseguiu temperar o jogo, embora seguisse expondo-se demais a contra-ataques de um Botafogo com três zagueiros. Quando começou o segundo tempo o time da região foi à frente, teve dois gols perdidos com Régis e Ricardinho, o primeiro após um contragolpe rápido e o segundo numa roubada de bola. Dava a impressão de que venceria o jogo. Até que veio o escanteio que o grandalhão zagueiro Cris transformou em gol.


 


O São Bernardo do terço final do jogo foi um time completamente atrapalhado. Tentou chegar ao gol de qualquer forma, abandonando por completo o pouco de cautela que restava. Arriscou-se a sofrer mais gols, principalmente após a expulsão injusta do zagueiro Daniel Marques. Apenas um chute de fora da área de Bady, rente ao travessão, causou alguma preocupação ao Botafogo.


 


O time de Luciano Dias dividido em três pedaços precisa juntar os cacos táticos e emocionais para sair das últimas colocações. A tabela de jogos e a classificação são totalmente desfavoráveis para quem quer se utilizar da Série A do Paulista para disputar a Série D do Campeonato Brasileiro e, com isso, finalmente, usufruir de um calendário anual.  Enfrentar um Palmeiras após derrota humilhante para o Penapolense e, em seguida, dar de cara com o São Caetano, não formam um roteiro água com açúcar. Está mais para drama.


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