Esportes

O que o São Caetano deve
aprender com essa derrota?

DANIEL LIMA - 31/01/2013

O São Caetano tem muito a aprender com a derrota de ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella ante o Linense por 2 a 0 pela Série A do Campeonato Paulista. As lições são várias e nenhuma deve ser catalogada como catastrófica. Muito menos a própria derrota.


 


Talvez o principal aprendizado é que num campeonato em que pequenos e médios não se diferenciam tanto em força técnica porque a TV injeta recursos financeiros que alavancam contratações, tudo pode acontecer. Só não pode ocorrer desequilíbrio na avaliação dos resultados. Tanto nas vitórias quanto nas derrotas.


 


A ducha de água fria do Linense recompõe o São Caetano na bitola da cautela, que parecia fora de controle após uma vitória e um empate nos dois primeiros jogos fora de casa. O volante Moradei chegou a declarar que a equipe disputaria o título. Agora parte dos torcedores está desconsolada com a derrota em casa e acha que tudo está fora de lugar. São extremos a exorcizar.


 


Assim como vitórias e empates fora de casa costumam encapsular avaliações mais sensatas, também derrotas em casa têm por rotina infernizar os dias seguintes. É contra esses sentimentos que o São Caetano deve reagir. A derrota diante do Linense está dentro da lógica do futebol. O Linense vem de pré-temporada mais completa e está mais bem acabado do que um São Caetano que passa por mudanças estruturais com influências táticas.


 


O Linense ganhou o jogo ontem à noite porque foi mais efetivo, mais letal. O centroavante Fausto fez os dois gols e contabiliza o maior índice de eficiência na competição. Depois de oito meses em recuperação de cirurgia, ele voltou este ano, disputou quatro partidas, chutou duas vezes a gol nesses jogos e fez dois gols. Justamente contra o São Caetano. Ele mesmo, no intervalo, em entrevista à TV, gabava-se da capacidade de traduzir oportunidade em comemoração. Disse que estava 100% eficiente, porque chutara uma vez no gol de Fábio e abrira o placar, aos 2 minutos. Mal imaginava esse centroavante de passos lentos mas de frieza incomum que marcaria de novo aos 30 minutos do segundo tempo, quando concluiu rápido contragolpe de uma equipe que estava acuada. O goleiro Fábio caiu tarde e facilitou o balançar da rede.


 


Melhor posicionamento


 


A derrota em casa não obscureceu alguns pontos positivos do São Caetano, embora a tendência geral seja de desqualificação por conta do resultado. O time foi mais equilibrado no posicionamento. O setor direito passou a ser ocupado mais constantemente e em revezamento, com deslocamentos de Vandinho, Ailton e mesmo Jobson. O lateral Samuel Xavier precisa soltar-se mais, é verdade, e o volante Leandro Carvalho também foi comedido demais. Mas houve avanços sobre os dois jogos anteriores porque aquele corredor estava desértico ofensivamente e descuidadíssimo na marcação. Ontem, Ailton foi um exemplo de dedicação no fechamento de espaços até as imediações da intermediária.


 


Do outro lado, à esquerda, Fernandinho, Pedro Carmona e Danielzinho fizeram raras triangulações e penetrações. Tanto que o técnico Ailton Silva não teve dúvidas em trocar Fernandinho por Pirão no segundo tempo. Pirão entrara antes, substituindo o primeiro volante Moradei, exclusivamente de marcação. Com isso, tornou o meio de campo mais móvel. O risco de contragolpes foi superado pela dificuldade do Linense em organizar avanços. Mas o time visitante esbanjava coletivismo na marcação.


 


As principais deficiências do São Caetano devem ser debitadas principalmente ao início de temporada. Faltam velocidade nos contragolpes e verticalização das jogadas centrais. O distanciamento entre os três setores é latente. Ou seja, a compactação deixa a desejar. Tudo se complicou ainda mais porque o Linense executou com perfeição a marcação das tentativas de infiltrações em diagonal do São Caetano. Danielzinho, Vandinho e Jobson, que entrou no segundo tempo, foram colhidos sucessivamente em posição de impedimento.


 


Tudo poderia ser minimizado se o São Caetano expusesse maior proximidade entre os jogadores, mas errou demais nos passes. Além de tudo isso, não se pode desconsiderar que havia um adversário implacavelmente aplicado do outro lado. Um adversário que teve o trabalho de destruição facilitado com o gol marcado logo aos dois minutos, após cobrança de tiro de meta, desvio mascado do zagueiro Gabriel, rebote dominado pelo meia Gilsinho e passe milimétrico para o infalível Fausto chutar contra a saída do goleiro.


 


Coragem, bom sinal


 


O técnico Ailton Silva tem toda razão em reclamar de torcedores inconformados com a derrota. Ele cumpriu rigorosamente o papel de treinador que reage à derrota parcial em casa, algo que poucos que o antecederam o fizeram com tamanha coragem. Além de substituir um volante fixo (Moradei) por um segundo volante com ares de armador (Pirão), deu mais energia ofensiva ao retirar o inútil Fernandinho, colocar Jobson no ataque e deslocar Pirão à lateral-esquerda, com função de ala. E foi ainda mais agressivo quando trocou um cansado e discreto Pedro Carmona por um mais ofensivo Éder. Ou seja: Ailton Silva utilizou as três substituições a que tem direito com o propósito de dar mais ofensividade à equipe, sem entregar a rapadura aos contragolpes do Linense. O gol foi uma exceção de risco que a desvantagem no placar cobrava.


 


O destino do jogo seria outro se três minutos antes do segundo gol do Linense Vandinho não protagonizasse o lance mais desastroso do jogo quando, sozinho, debaixo da trave, furou cabeçada após cruzamento perfeito de Danielzinho. Na sequência do lance, Jobson chutou, o zagueiro Perone desviou e a bola foi ao encontro do travessão. E aos 37 minutos, já com 2 a 0 no placar, o árbitro não observou que, após um cruzamento de Samuel Xavier da direita, Jobson foi empurrado por um zagueiro quando ia ao encontro da bola, na pequena área.


 


A lista de qualidades e deficiências do São Caetano após o jogo em que perdeu em casa provavelmente seria pouco diferente do que apresentou nos dois jogos anteriores, com avanços e recuos naturais de início de temporada. A estratégia de utilizar o Campeonato Paulista como laboratório de luxo da Série B do Campeonato Brasileiro vale muito mais que a tática de chegar ao G-8 da competição estadual a qualquer custo. Se confundir os objetivos, o São Caetano estará cedendo à tentação de estremecimentos desaconselháveis para quem merecia ter retornado à Série A do Brasileiro no ano passado.


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