O futebol profissional do Grande ABC terá um ano de ouro, provavelmente o mais intensamente fértil das últimas décadas. A possibilidade não é desdobramento do triunfalismo tão comum em manifestações de lideranças econômicas que tentam dissimular a desgovernança regional. A perspectiva é de que o futebol do Santo André tem grandes possibilidades de conquistar o acesso à Série A do Campeonato Paulista e o São Caetano de ser finalista da mesma Série A, depois de alcançar o vice-campeonato brasileiro e de classificar-se para a Taça Libertadores da América.
Na rodada de domingo, 4 de fevereiro, o Santo André superou um trauma de nove anos e começou a disputa pelo Acesso com vitória -- 1 a 0 sobre o velho inimigo São José -- enquanto o São Caetano somava oito pontos em nove disputados e passava a ocupar a vice-liderança de um campeonato no qual o Corinthians não somava mais que um ponto.
O grande equívoco do Santo André na estreia contra o São José num Estádio Bruno Daniel com mais de sete mil torcedores que receberam ingresso grátis mas tiveram de enfrentar uma chuva mais ameaçadora que real a 30 minutos do jogo foi o técnico Wágner Benazzi exagerar na dose de marketing.
Conhecido como Rei do Acesso, pela assiduidade com que leva equipes a novos degraus na hierarquia do futebol, Benazzi cometeu a bobagem de usar as páginas do Diário do Grande ABC do dia do jogo para dizer que faria da equipe algo semelhante à do São Caetano. Não é preciso dizer que o torcedor do Santo André foi ao estádio para ver uma réplica do rival que tanto sucesso anda fazendo e nem a vitória final o levou à satisfação plena.
Tempo e competência
O São Caetano brilhante que faz da bola uma referência de eficientíssima coreografia coletiva que há muito tempo o futebol brasileiro desconhecia, é uma equipe basicamente de três temporadas, cujos jogadores se entendem num olhar. O Santo André montado para o Acesso é um amontoado de jogadores que colecionaram sucesso em várias equipes, justificam o investimento recorde dos últimos anos, agora sob a articulação do secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira, mas não têm o coletivismo como digital de capacitação.
Por isso, o que separa o Santo André do São Caetano é algo que pode ser definido como o dia da noite. Ao Santo André, louco para retornar à Série A depois de cinco anos de invernada, o que deve ser levado em conta são os resultados. Ao São Caetano, que se transformou em namoradinha do Brasil durante a etapa final do Campeonato Brasileiro, vencer não é tudo: é preciso manter a fama do futebol descontraído, quase irresponsável, de girar a bola com classe e enfiá-la nas redes adversárias.
Ao tomar o São Caetano como referência, o Santo André pode cometer o erro estratégico de cultivar na torcida o ideal da quase perfeição do vizinho e, mesmo vencendo, desagradar o público. Queiram ou não os torcedores mais fanáticos do Santo André, a vinculação entre o futebol do Azulão e do Ramalhão é um péssimo negócio para uma equipe recém-formada.
O que mais deve interessar ao Santo André é subir de divisão e levar o Grande ABC à catarse no ano que vem em clássicos regionais. Por isso, o futebol pragmático deve prevalecer. Ao técnico cabe não vender ilusões, porque se a essência do futebol não fosse o coletivismo, haveria pelo menos uma dezena de Azulões por aí.
Conquistar o Acesso é decisivo para os planos do Santo André. A disputa do Campeonato Brasileiro da Série C em condições igualmente de conquista depende da Série B do Paulista. Aliás, toda a estrutura empresarial que o Santo André precisa montar, aí sim com base no que o São Caetano faz com esmero, será consequência do que acontecer no atual campeonato. Por enquanto, o que se tem são patrocinadores pontuais que se uniram sob o comando de Klinger de Oliveira e resolveram custear o projeto do Acesso. Para superar o estágio de fragilidade do sistema e chegar à solidez do empresarial São Caetano existe a obrigatoriedade de vitórias. Mesmo sem brilho. Porque isso só o organizado Azulão é capaz de oferecer.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André