Simples, muito simples: porque o imponderável jogou em Campinas e a lógica jogou em São Bernardo. Sei que o leitor deve estar embaralhado com a resposta, mas vou esclarecer. O imponderável jogou em Campinas na síntese de que o São Caetano que caiu ante o Guarani por 3 a 1 atuou durante um terço da partida com um atacante vestindo a camisa de goleiro e, mais que isso, com dois jogadores a menos, por conta de expulsões. Já a lógica passeou pelo Estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo, na vitória do XV de Piracicaba por 3 a 0, porque os visitantes marcaram as duas principais virtudes ofensivas do time da casa e o manietou completamente.
Série A do Campeonato Paulista, tenho advertido, não permite vacilos gigantescos nem acomodação. O São Caetano teve a má sorte de perder o goleiro Fábio por contusão aos oito minutos do segundo tempo, quando o empate de 1 a 1 era ótimo resultado, já que o Guarani voltara bem melhor após o intervalo. O São Bernardo caiu na armadilha velha de guerra de achar que chegou ao topo das necessidades, repetiu o esquema do jogo com o São Caetano, na goleada de 4 a 1 de domingo passado, e esqueceu que há um adversário do outro lado, um técnico astuto e que se não houver cuidado permanente com o guarda-roupa técnico-tático, o que é sensacional num domingo vira sucata três dias depois.
Estreia desastrosa
A estreia de Geninho no São Caetano não poderia ter sido pior. A derrota de 3 a 1 seria mais elástica não fosse o Guarani tão desconfiado da própria competência. Mesmo com dois jogadores a mais (o goleiro Fábio foi expulso após cometer pênalti transformado no segundo gol, e o volante Zé Vitor também foi para os vestiários, quatro minutos antes, numa punição excessivamente rigorosa do árbitro) o time do técnico Branco, campeão mundial, preferiu a cautela. Só se lembrou do exagero de manter três zagueiros aos 30 minutos do segundo tempo. Três minutos depois marcou o terceiro gol.
O empate de 1 a 1 no primeiro tempo refletiu o jogo. O Guarani tomava a iniciativa com alas liberados e muita movimentação ofensiva enquanto o São Caetano fechava os espaços com três volantes, explorava Ailton na organização e contava com Danielzinho e Vandinho à frente e alguns avanços esporádicos dos laterais e volantes. Um jogo amarrado, pobre de emoções. O São Caetano fez primeiro com Vandinho, numa das poucas infiltrações do lateral Samuel Xavier, e o Guarani empatou após cobrança de escanteio. O volume de jogo do Guarani não correspondeu a oportunidades criadas de forma a merecer outro resultado.
O segundo tempo foi complemente anormal depois da expulsão de Zé Vitor aos oito minutos e do goleiro Juninho aos 12. O mesmo Juninho que substituíra o contundido Fábio aos 23 minutos do primeiro tempo. Quando a Série A começou Juninho era o terceiro goleiro do São Caetano, atrás de Luiz e Fábio. Acabou virando primeiro do dia para a noite e agora nem enfrentar o Corinthians poderá, porque terá de cumprir suspensão automática. É possível que o experiente Fábio Costa, que mal chegou ao São Caetano, seja escalado emergencialmente neste sábado de Carnaval. O São Caetano vive antecipadamente uma quarta-feira de cinzas.
A expulsão de Juninho seguida da conversão do pênalti em gol, quando o atacante Vandinho travestido de goleiro foi para um canto e a bola para o outro, abriu a porteira a uma goleada. Mas o Guarani jogou na segurança e só fez um novo gol, o terceiro, aos 33 minutos, num chute cruzado de Tiago Gentil. Vandinho ainda fez uma defesa de goleiro de verdade antes que se encerrasse um jogo que o São Caetano precisa esquecer. E se preparar para atuar com dignidade e empenho sábado no Pacaembu. Qualquer outro resultado exceto dedicação é pedir demais.
XV muito melhor
Já o São Bernardo jogou praticamente o que pode ante o XV de Piracicaba no Estádio Primeiro de Maio. E o que pode é mais se o adversário deixar o ala Régis solto para atacar e o armador Bady livre para enfiar bolas em diagonal. O XV do técnico Sérgio Guedes veio preparadíssimo e matou as duas alternativas com muita marcação, empenho, velocidade, contragolpes e personalidade. Poderia ter vencido até por maior diferença, embora o São Bernardo tivesse melhorado no segundo tempo com a entrada do ágil e agressivo Gil, substituindo o fora de forma Fernando Baiano. Luciano Mandi acrescentou pouco. A entrada de Ney Mineiro quebrou a dinâmica que se pretendia sem Fernando Baiano. Eles são semelhantes nas deficiências como propagadores de ações coletivas.
O principal equívoco do técnico Edson Boaro foi manter o esquema do clássico com o São Caetano. Um time excessivamente cauteloso, com três volantes. Naquelas circunstâncias o sistema tinha razão de ser, pelo contexto do jogo. Bem diferente de ontem. Mas provavelmente nada teria se alterado no placar. O XV soube neutralizar os dois principais e praticamente únicos pontos de desequilíbrio do São Bernardo e jogou com tamanha dedicação que, em dois terços da disputa, poderia inadvertidamente sem confundido como mandante. Os três zagueiros, os dois alas e a ocupação territorial do meio de campo com marcação permanente, além de dois atacantes velozes e contundentes que também colaboraram na marcação, determinaram a diferença que se espelhou no placar.
São Caetano e São Bernardo não estão na zona de rebaixamento por obra do acaso. As duas equipes ainda não acordaram para a realidade da Série A do Campeonato Paulista. Há times pequenos e médios que estão voando baixo, como se não tivessem voltado de férias recentemente. É melhor passar sebo nas canelas.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André