Esportes

Que modelo de técnico é o ideal
para situações de emergência?

DANIEL LIMA - 13/02/2013

Quem levará vantagem ao final da Série A do Campeonato Paulista, o São Caetano que recorreu na troca de técnico a um profissional experiente como Geninho, ou o São Bernardo que optou pelo jovem e supostamente revolucionário Wagner Lopes para impedir que os danos pós-Luciano Dias se aprofundem? Como não existe verdade absoluta no futebol e tampouco na vida pessoal, institucional ou corporativa, o melhor é esperar. E não custa nada especular.


 


Fosse perguntado pela direção do São Caetano sobre a substituição do então técnico Ailton Silva e também fosse consultado pela direção do São Bernardo quanto à demissão de Luciano Dias, que recomendação daria?


 


Optaria por profissional com o perfil de Geninho, velho de guerra, responsável pela manutenção da Portuguesa na Série A do Campeonato Brasileiro de 2012, ou preferiria alguém com o currículo de Wagner Lopes, com formação profissional praticamente no Japão, onde jogou e virou técnico, e que vinha dirigindo o Comercial de Ribeirão Preto, equipe da Série B Paulista?


 


Diferentemente do presidente do São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira, com mania à radicalização, tanto que desclassificou os treinadores que tenham algo semelhante ao que Geninho acumulou durante anos de carreira, preferiria tomar uma decisão que não implicasse em exclusão de qualquer possibilidade antagônica. Traduzindo: a vinda de um jovem treinador não é um cartão à felicidade nem tampou um recibo visado rumo ao rebaixamento, da mesma forma que o vínculo com profissional semelhante a Geninho não é uma velharia com jeito de sucata nem tampouco a sacralização do caminho à recuperação plena.


 


Ambiente contribui muito


 


Não sei se os leitores me entenderam, mas o que quero dizer é que o modelo Geninho e o modelo Wagner Lopes não são excludentes. Tanto um quanto outro podem se dar muito bem na Série A do Paulista, como também podem se dar muito mal. Tudo vai depender do ambiente em que estarão ou já estão envolvidos e das possibilidades de encaixarem na prática os conceitos táticos já cristalizados. 


 


É verdade que seguindo o senso comum o momento crítico do São Bernardo exigiria um profissional de comando que já tivesse mais rodagem, mais controle dos vestiários e do entorno sempre ebulitivo. Mas não foi assim, com esse tipo de profissional, caso de Estevam Soares, que o São Bernardo retornou à Série B em 2012, após disputar a Série B no ano anterior pela primeira vez?


 


Mas quem disse que necessariamente Estevam Soares representa o estilo de administração de um elenco como Geninho? Seriam eles da mesma escola? É claro que têm suas diferenças porque as digitais de comando jamais são iguais. E detalhes costumam fazer a diferença quando se pretende chegar a um título ou fugir da degola.


 


Fiquei impressionado com o que já li sobre o técnico contratado pelo São Bernardo. Demonstrou ênfase à disciplina e à organização tática que poucos treinadores repassam à Imprensa. Tite é um gentleman público que, dizem seus atletas, joga pesado nos vestiários. Seria essa a senha principal do sucesso na carreira, porque ruminaria internamente, digeriria internamente, trituraria internamente tudo aquilo que aparentemente inexiste ao público externo, sobretudo a mídia.


 


Já Wagner Lopes chegou chutando o pau da barraca com uma imposição explícita de liderança individual que nem sempre agrada aos jogadores quando exposta de forma tão transparente. Os treinadores mais experientes e habilidosos não têm por hábito essa coreografia verbal que impressiona, agrada à mídia, mas faz estragos nos vestiários, sobremodo se os vestiários não forem uma extensão dessa nova liderança. E principalmente quando se dirigem equipes de jogadores experientes e manhosos. Como é o caso do São Bernardo que, após a saída de Luciano Dias e durante o interinato de Edson Boaro, caiu na farra tática e no desgaste disciplinar à medida que os resultados não vieram para amenizar a situação classificatória.  


 


Aposta perigosa


 


Não apostaria um tostão sequer em algo como traçar uma expectativa de sucesso de Geninho ou de Wagner Lopes no restante do Campeonato Paulista, assim como não lhes traçaria um roteiro turbulento na competição. Prefiro esperar. No fundo, no fundo, e não tenho medo de expor a intuição, entendo que Geninho deverá cumprir com menos dificuldades um traçado de tranquilidade no São Caetano. E que destino mais emergencial é esse? Evitar que a equipe seja rebaixada, porque esse é o ponto central na competição, depois de uma série de maus resultados. Aliás, nada diferente do São Bernardo.


 


Cairá numa armadilha provavelmente insustentável quem acreditar piamente que o São Caetano pode chegar ao G-8 e o São Bernardo a alcançar uma vaga à Série D do Campeonato Brasileiro, projetos inicialmente expostos pelos dirigentes. Situar-se nos rigores classificatórios da competição, com o São Bernardo na lanterninha e o São Caetano a um passo da zona de rebaixamento, é o primeiro movimento de uma estratégia que deve ser delineada principalmente para evitar o pior.


 


Uma improvável sequência de resultados positivos numa competição tão concorrida como a Série A do Paulista permitiria redesenhar a projeção inicial, mas é melhor não cair na besteira de correr riscos demais para atingir uma meta praticamente inalcançável.


 


O São Caetano precisa fazer dos dois terços de jogos que lhe restam na competição o caminho da organização tática que lhe falta para voltar a disputar a Série B do Brasileiro com possibilidades de retornar à Série A.


 


Já o São Bernardo completamente atordoado taticamente, precisa entender que a síndrome do bate-e-volta, de subir e descer, não é uma brincadeirazinha qualquer.


 


Fora isso, o que vier é lucro, muito lucro. Pelo qual torcemos, é claro, mesmo com as ressalvas transparentes aos cromossomos institucionais do São Bernardo.


 


Geninho e Wagner Lopes são modelos distintos que não afastam probabilidades de sucesso, de fracasso e mesmo de discrição nos resultados. Estereótipos no futebol, como pretendeu fazer crer o presidente do São Bernardo, são por demais perigosos. Até porque, mais cedo ou mais tarde quem os constrói acaba por queimar a língua, recorrendo àquilo que se pretendia caracterizar como entulho.


 


Competência não tem idade nem temperamento. Muitas vezes, nesse País varonil, não tem nem caráter.


 


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