Ainda não se descobriu nada melhor no futebol do que o poder regenerador e desafiador da rivalidade. Esse sentimento que emociona muitas vezes além da conta, mas que é o combustível das transformações, corresponde à concorrência nos negócios. O estrondoso sucesso do São Caetano na Taça João Havelange levou o Santo André a acelerar o ritmo e anunciar planos para disputar a Segunda Divisão de São Paulo, de onde pretende catapultar o caminho de volta ao principal campeonato regional do País, com possibilidades de estender o projeto em direção à Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro, programado para o segundo semestre.
O Santo André vai contar com muito mais suporte empresarial para a sustentação de um time que, pelo menos no papel, praticamente só terá o Etti Jundiaí como concorrente ao título. Como há duas vagas em aberto, a probabilidade de chegar ao Acesso depois de seis anos de ausência deixa de ser apenas sonho que se desvanece a cada final de competição, quando sempre falta alguma coisa que só competência e dinheiro são capazes de resolver. Diário do Grande ABC, Coop e Rotedali vão garantir ao Santo André orçamento financeiro que permitirá a montagem de um time de ponta.
Jantar alegre
O anúncio dos novos planos do Santo André, e também das primeiras contratações, foi festejado durante jantar no Baby Beef Jardim pouco mais de 48 horas depois de o São Caetano ter massacrado o Grêmio em pleno Estádio Olímpico. E, ao contrário do que se poderia imaginar, os 200 convidados do presidente Jairo Livolis demonstraram durante todo o tempo entusiasmo há muito distante do clube. A supremacia regional do São Caetano, depois de mais de 30 anos de domínio do Santo André, mexeu com o brio de dirigentes, conselheiros e torcedores. A unanimidade de admiração ao futebol do rival se misturou com a expectativa de que o Santo André deverá pelo menos dividir os holofotes com o São Caetano.
Se não bastasse a lógica de que uma grande equipe de futebol é resultado principalmente de estrutura organizacional e qualidade da comissão técnica e dos jogadores, o Santo André conta também com uma coincidência. Trata-se do fato de que a maior parte de suas conquistas -- durante três períodos em que integrou a Primeira Divisão de São Paulo -- sempre foi comemorada quando o calendário gregoriano registrava número ímpar. O primeiro acesso, por exemplo, foi conquistado em 1981.
A contratação do técnico Vágner Benazzi, chamado de Rei do Acesso pela frequência com que dá a volta olímpica dos campeões do torneio, é uma aposta em quem tem currículo. O noticiário esportivo deve estar registrando por estes dias o aumento da lista de reforços que, em meados de dezembro, já contava com César, Elói, Adeílson, Sérgio Baresi, Carlos Roberto, Betinho, Sérgio Soares, Nei Júnior, Leo Mineiro e Da Guia.
Para quem acompanha o mundo do futebol, trata-se de elenco bastante respeitável.
Um dos maiores reforços do clube e que por motivos óbvios jamais entrará em campo para correr atrás de uma bola passou a ocupar a vice-presidência administrativa, anunciado durante a festa pelo presidente Jairo Livolis. Trata-se do secretário municipal Klinger Luiz de Souza, segundo vereador mais votado em Santo André e uma das principais lideranças da administração Celso Daniel. Klinger acompanha jogos do Santo André há mais de quatro anos e resolveu arregaçar as mangas para trazer recursos que garantam a proposta de levar o Santo André de volta à Primeira Divisão.
Aproveitando o momento em que a auto-estima esportiva da região chegou ao extremo com o São Caetano, e paradoxalmente atingiu em cheio o ego da torcida do Santo André, Klinger já articula movimento para levar estudantes do Ensino Fundamental aos jogos da equipe no Estádio Bruno Daniel. Um velho grito de guerra da torcida, aposentado em nome do elitismo, vai voltar às arquibancadas. Ramalhão, Ramalhão, Ramalhão é o contraponto ao Azulão que lidera as paradas de sucesso.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André