Esportes

São Caetano sofre com ousadia e
São Bernardo com cautela demais

DANIEL LIMA - 18/02/2013

A ousadia em excesso ante o Bragantino explica a derrota do São Caetano sábado à noite no Estádio Anacleto Campanella. A cautela também em excesso do São Bernardo em casa ante o Paulista de Jundiaí traduz o empate de 0 a 0 no mesmo dia e horário. Por isso as duas equipes da região continuam na zona de rebaixamento da Série A do Campeonato Paulista. Mas erra quem acredita que o excesso de um lado e de outro tenha sido usado indevidamente. Havia razões de sobra para uma pitada a mais ou uma pitada a menos de ingrediente tão polêmico no futebol.


 


Na parte que compete ao São Caetano, o adversário estimulava mesmo que o ritmo de jogo fosse ofensivo. Afinal, o Bragantino veio desfalcado do terceiro zagueiro que tanto preza na definição tática, perdeu um dos dois que sobraram com 15 minutos de jogo e com isso ficou ainda mais vulnerável individual e coletivamente. Qualquer iniciativa do técnico Geninho que não fosse cutucar a ferida do Bragantino seria omissão. 


 


Na parte que compete ao São Bernardo, o adversário e a situação na tabela, bem como o contexto de insegurança emocional de então lanterninha, exigiam do estreante técnico Wagner Lopes um misto de personalidade ofensiva sem descuidos defensivos. Foi o que o São Bernardo mostrou regularmente durante todo o jogo.


 


Quem acredita que técnicos não fazem milagres deveria ter assistido ao empate de zero a zero no Estádio Primeiro de Maio. O São Bernardo foi um time rigorosamente dono da situação tática do jogo, mesmo com as restrições ofensivas que só poderiam ser alteradas com uma perigosa ousadia que Wagner Lopes preferiu deixar no banco de reservas.


 


Quem pode condenar um treinador que sabe que há tempo para a recuperação da equipe mas que essa trajetória passa por passos de humildade, de conquistar o terreno gradualmente?  


 


Melhora constante


 


O lado positivo do São Caetano no enfrentamento com o Bragantino é que a equipe melhorou de rendimento a cada minuto de jogo. Depois de os primeiros 15 minutos terem sido terríveis, quando o adversário fez o primeiro gol, o Azulão passou a avançar as linhas, a dar mais correção nos passes, a fazer menos lançamentos longos e lotéricos, a utilizar com mais inteligência as laterais do campo; enfim, a transmitir a ideia de que era um time de futebol. Quando Rivaldo empatou de cabeça aos 32 minutos, completando cruzamento de Pirão, a normalidade restabelecia-se no placar.


 


A fragilidade no setor esquerdo defensivo do São Caetano perdurou durante todo o primeiro tempo e comprometeu o equilíbrio geral. Pirão marcava à distância e mal, deixava as costas livres para o atacante Diego Macedo, e o zagueiro Adriano não chegava a tempo. Nenhum dos dois volantes se apercebia disso. Foi por ali que o Bragantino fez uma passarela de emoções.


 


O São Caetano também sentia a falta de rimo de quatro jogadores incorporados ao grupo, casos de Adriano, Rivaldo, Pirão e Jóbson. Sem contar o goleiro Fábio Costa, fora de ritmo e de forma física mas titular por conta de contusões do titular Luiz, do substituto imediato Fábio Luiz e da falta de experiência do terceiro goleiro.


 


Se no primeiro tempo a ameaça pela esquerda da defesa incomodava o São Caetano, no segundo tempo o perigo passou. Houve mais atenção na cobertura, Pirão virou atacante de vez e com isso exigiu do Bragantino mais cautela com o setor direito de marcação.


 


O técnico Geninho foi para uma espécie de tudo ou nada ao dar mais agressividade à equipe. Trocou o cansado Jóbson por Vandinho, colocou o mais ofensivo e veloz Ailton no lugar de Eder e, golpe fatal na cautela, retirou o segundo volante Leandro Carvalho e colocou o atacante Geovane. O São Caetano dominou o jogo durante todo o segundo tempo, encontrou dificuldades para infiltrações porque o Bragantino defendia-se com quase todos os jogadores, exceto o centroavante Lincoln, pronto para contragolpes, e só não chegou à vitória por ineficiência na finalização. Até Rivaldo, com atuação acima da expectativa, com posicionamento quase sempre perfeito, perdeu um gol de cabeça aos 40 minutos, após cruzamento de Vandinho. Raramente o meia-atacante resvala de cabeça uma bola que se lhe oferece de bandeja ao golpe fatal.


 


Quando tudo parecia definido, aos 43 minutos o Bragantino voltou a marcar com o centroavante Lincoln, apanhando rebote do goleiro Fábio Costa após chute na entrada da área de Matheus. A jogada começou com tiro de meta do Bragantino, o meia Ailton dominou na intermediária, perdeu para um adversário e o Bragantino, pela direita, armou o bote fatal. Geninho ficou inconformado. Nada mais natural: o São Caetano acabara de perder um ponto que já seria injusto.


 


Controle e equilíbrio


 


O São Bernardo poderia ter somado a poucos quilômetros do Estádio Anacleto Campanella. O empate de 0 a 0 com o Paulista não compromete o evangelho por novos elementos táticos do técnico Wagner Lopes, mas uma vitória seria mais bem-vinda e merecida, O São Bernardo organizou pelo menos cinco ótimas oportunidades para marcar, enquanto o Paulista não somou mais de duas e sem a mesma contundência. Sem contar um erro da arbitragem que, aos cinco minutos, anulou um gol de cabeça de Fernando Baiano após falta batida por Bady. Não havia o impedimento apontado pelo bandeirinha.


 


De qualquer maneira, o jogo foi produtivo para o São Bernardo. A equipe mostrou maior equilíbrio e intensidade defensivos, com pelo menos quatro jogadores sempre prontos a desmontar o contragolpe adversário. Os laterais/alas e os volantes do São Bernardo não ficaram o tempo todo na marcação, mas ainda estão longe de combinações bilaterais ou triangulares com atacantes e meias. Falta automaticidade às jogadas. Menos mal também que não se registraram grandes descuidos com o meio de campo adversário e muito menos com os atacantes Marcelo Macedo e Cassiano Bodini, preparados para penetrações em diagonal. O zagueiro Fernando Lombardi, que substituiu a Samuel, mostrou seriedade e senso de colocação que faltam ao titular mais qualificado tecnicamente.


 


Talvez o técnico do São Bernardo vá penar até o final do campeonato com a baixa eficiência ofensiva, principalmente depois que os adversários descobriram os dois jogadores mais importantes do sistema de ataque, o lateral/ala Régis e o meia-atacante Bady. A fórmula adotada contra o Paulista, com Bady, Luciano Mandi e Gil dando suporte ao atacante Fernando Baiano, ainda precisa ser melhorada. Mandi é lento demais para fazer a transposição meio de campo-ataque, Gil é por demais pirotécnico e Bady ainda não se definiu se joga mais tempo em direção à área adversária ou no suporte aos dois volantes. Nem o volante Dudu, marcando com aplicação impecável e aparecendo de surpresa na armação de jogadas, deu ao São Bernardo potencial acima da necessidade para furar o bloqueio do Paulista.


 


Resumo e perspectivas


 


O resumo provisório da campanha do São Caetano e do São Bernardo na Série A do Campeonato Paulista, sob o impacto da zona de rebaixamento, não é dos melhores, mas também não é dos piores, porque se cristalizou perspectiva de avanços. O São Caetano de Geninho quer um centroavante de ofício para contar com o contraveneno de bolas aéreas aos adversários mais fechados na defesa. O São Bernardo não parece querer nada senão manter o equilíbrio emocional que, pelo menos no jogo com o Paulista, esteve longe do descontrole dos jogos anteriores. Por isso o time foi mais estável no rendimento tático e técnico.


 


O problema do São Caetano e do São Bernardo é que a Série A Paulista não oferece horizontes mesmo que de curto prazo a vitórias seguidas. Os times pequenos e médios não têm disparidades de forças e podem vencer ou perder a qualquer momento. Estar na zona de rebaixamento é um alerta tanto para quem cantava as pedras de disputar o grupo dos finalistas, como o volante Moradei do São Caetano, como para quem antecipava uma vaga sem dificuldades à Série D do Campeonato Brasileiro, caso do São Bernardo. O buraco é mais embaixo. E pode ser mais profundo se a reação em forma de resultados positivos não vier logo.


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