Esportes

O que dizem alguns números das
Séries A e B do futebol paulista?

DANIEL LIMA - 19/02/2013

A Série A do Campeonato Paulista oferece um balanço parcial, após oito rodadas da fase classificatória, de mais gols, de menos empates e de jogos com placares mais folgados do que os jogos da Série B, também conhecida por Série A-2. O que significam esses dados? 


 


Ao contrário daquele brilhante apresentador esportivo do Fantástico, a resposta não é um “nada” debochado. Pode até não ser tudo, mas é estimulante desvendá-la. Sempre com as devidas ressalvas de que são números precários, de uma temporada ainda incompleta.


 


Não fui aos arquivos para preparar um tratado que possivelmente revelaria tendência diferenciadora incontestável. Nem tenho tempo a tal empreitada, mas acho que vale a pena, pelo menos, especular sobre os números deste ano. Bem diferente do que normalmente faço quando o assunto é economia e, especialmente, a economia da Província do Grande ABC, porque o buraco é mais embaixo e os acompanho há toneladas de anos.


 


Provoco o leitor e lhe dou dois minutinhos (seria pouco?) para pensar comigo sobre as razões que determinam, pelo menos até agora, que a Série A tenha mais gols, menos empates e mais jogos com diferença superior a um gol de vantagem. Pare com esta leitura, marque no relógio dois minutos e volte ao texto. Vou fazer o mesmo aqui, combinado? Então, vamos tomar um cafezinho, vamos dar uma passeada por outro endereço eletrônico, vamos fazer pipi, vamos fazer qualquer coisa e, em dois minutos voltaremos ao nosso diálogo virtual.


 


Estamos de volta


 


Bem, passados os dois minutos de reflexões, listo rapidamente alguns pontos centrais que acredito justificarem as diferenças mais proeminentes entre a Série A e a Série B do Campeonato Paulista. A ordem de importância foi relegada a segundo plano, porque é desafiador, em dois minutos, estabelecer não só uma grade de motivos como hierarquizá-los.


 


 Maior qualidade técnica dos jogadores.


 


 Maior capacidade tática das equipes.


 


 Maior diferenciação de competências entre as equipes.


 


 Maior nível de conhecimento de qualidades e deficiências dos treinadores e jogadores sobre os adversários.


 


 Maior empenho físico, técnico e tático por conta da visibilidade da competição.


 


 Melhor nível técnico das arbitragens.


 


 Melhor preparação física das equipes.


 


Talvez tenha esgotado, com essa breve lista, os pontos mais relevantes importantes que responderiam à seguinte questão: por que a Série A tem mais gols, menos empates e mais jogos com placares largos do que a Série B?


 


É claro que existe uma armadilha implícita a envolver os quesitos apresentados. As qualificações mais nobres dos integrantes da Série B poderiam, na argumentação dos contestadores, gerar grau muito maior a neutralidades mútuas. É um bom argumento, convenhamos, mas que deixa um buraco ao contragolpe interpretativo, ou seja, o mesmo fenômeno de neutralizações se daria também na Série B, com a desvantagem de que a qualidade técnica e a organização tática estariam bem abaixo daquela concorrência. Onde prevalecem mais atributos individuais e coletivos, a tendência é de se construírem mais positividades. No caso específico, “positividades” se manifestam naqueles indicadores dissecados, ou seja, número de gols marcados, vitórias mais largas e maior número de vitórias.


 


Para mim, um peso forte no distanciamento desses quesitos entre a Série A e a Série B está concentrado na visibilidade da competição mais nobre, com jogos transmitidos ao vivo. Há um grau muito superior de informações dos adversários do que na Série B, onde, por conta do apagão televisivo, as equipes mal se conhecem, por mais que os jogadores sejam praticamente os mesmos de sempre a cada temporada. Ter os mesmos ingredientes disponíveis não significa que o resultado final será igual ao do passado. Até porque, há condicionalidades que estabelecem novos valores individuais e coletivos.


 


Quem se conhece mais e trabalha mais intensamente sabe como extrair dos adversários os melhores resultados. A visibilidade televisa e as abordagens críticas da Imprensa exigem dos profissionais de futebol dedicação plena a perscrutar o que lhes espera nas próximas rodadas. 


 


Realidade econômica


 


Outro ponto prevalecente na distinção entre uma competição e outra, e também bastante relevante, está na realidade econômica e estrutural das equipes, além de institucionalidades que interferem sobretudo em benefício dos clubes de maior tradição.


 


A Série A tem as chamadas grandes e populares equipes, as equipes de porte médio que disputam alguma divisão do Campeonato Brasileiro e também equipes praticamente sem calendário anual, restritas à própria competição doméstica. São desequilíbrios que interferem nos campos de jogo. Na Série B, exceto a Portuguesa, rebaixada no ano passado, nenhuma outra agremiação participa de qualquer uma das versões do Campeonato Brasileiro.


 


Na linguagem esportiva, na Série B do Paulista “tudo é japonês”. Um certo exagero, mas que não está desgrudado da realidade. A diferença de estrutura a separar os 20 participantes da Série B é muito menos profundo do que o que se verifica na Série A. Com isso, a competição vira uma sucessão de batalhas cujos maiores vencedores, os quatro primeiros colocados que subirão à Série A, são uma dúvida permanente. Uma bolsa de apostas sobre os quatro primeiros colocados da Série A e os quatro primeiros da Série B, ou sobre os quatro últimos da Série A e os quatro últimos da Série B, comprovaria essa argumentação.


 


Também a arbitragem entra na contabilidade geral, embora com peso muito aquém dos demais fatores. Apitadores menos qualificados ou em fase de testes para galgar a Série A são um prato cheio a polêmicas inerentes ao futebol. Os melhores árbitros deixariam os jogos correrem sem preocupações maiores e tornariam a Série A mais inclinada à produção de maior número de minutos líquidos de bola, ou seja, de bola rolando. Mas isso é mais que especulação, porque faltam bases estatísticas. É pura intuição.


 


Agora, para completar, revelo os dados que coletei para preparar essa breve exposição sobre as duas competições. A Série A do Campeonato Paulista desta temporada, com 78 jogos em oito rodadas (o São Paulo ainda enfrentará o São Caetano e o Linense) apresentou total de 224 gols (média de 2,87% por partida), 25 empates (32,05% do total de jogos) e 27 jogos (34,61% do total) nos quais os vencedores registraram mais de um gol de vantagem. Na Série B, com 80 jogos, foram apenas 14 com diferença superior a um gol da equipe vencedora (ou 17,5% do total), registraram-se 30 empates (37,5% do total) e 158 gols (1,97 por jogo).


 


Parece não haver dados que possam ser desprezados pelo menos como material à combustão de debates sobre os motivos que separam um campeonato do outro.


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