A derrota de 4 a 2 ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella para o São Paulo colocou o São Caetano na lanterninha da Série A do Campeonato Paulista, mas não é hora para desespero e muito menos de se deixar pautar por especialistas em probabilidades classificatórias que já já meterão a equipe entre as rebaixadas inexoráveis, mesmo com mais da metade da competição a disputar. O risco de rebaixamento existe mas mensurá-lo agora é uma alquimia com pretensões científicas. Como, aliás, se anunciou em relação ao São Bernardo, igualmente de campanha decepcionante na Série A.
Está certo que o conjunto da obra classificatória não pode ser desprezado por conta de o São Caetano ter sido derrotado por um adversário muito superior, mas uma análise mais cuidadosa impedirá que se coloque a equipe como um amontoado ao descarte.
O São Caetano passa por processo de mudanças que precisam ser observadas com cuidado. Não será com pedidos públicos de reforços, como o técnico Geninho fez após o jogo, que a situação se alterará. O São Caetano precisa voltar a jogar com a segurança defensiva da Série B do Campeonato Brasileiro. Uma segurança que se dissolveu. Tanto que além da lanterninha entre os 20 participantes do Campeonato Paulista, registra a pior defesa da competição, com 19 gols em oito jogos.
A derrota para o São Paulo se deve principalmente a erros individuais de um sistema defensivo profundamente alterado. O goleiro Luiz e o zagueiro Wagner estão fora do time faz tempo por contusão. Já o central Gabriel cumpriu suspensão automática. Nem mesmo a correta escalação de três volantes (Moradei, Leandro Carvalho e Marcone) deu tranquilidade ao setor ante o São Paulo.
O zagueiro Bustamante, experimente de meia dúzia de Libertadores, jogou após de sete meses de espera e foi uma calamidade. Acostumado com dois companheiros na marcação, desta vez formou dupla com um Eli Sabiá também fora de ritmo de jogo. O recomendável é que atuasse mais fixo, na sobra – daí os três volantes à frente da zaga. Mas Bustamante saiu demais da área e abriu uma avenida por onde o São Paulo matou o jogo.
Do outro lado o experiente Lúcio não foi visto uma vez sequer correndo atrás de atacantes pelas extremidades do campo. Se o fizesse contra Danielzinho e Jóbson, teria sofrido um bocado. Foi o mais jovem Tolói que se submeteu à tarefa, com perdas e ganhos.
Resultado melhor
Mesmo com falhas individuais defensivas e um Rivaldo pouco inspirado tecnicamente mas nem por isso inútil, o São Caetano poderia ter alcançado resultado melhor porque chegou a marcar 2 a 1 no primeiro tempo, de virada, contando com Jóbson em noite de craque dos bons tempos e com o lateral Samuel armando os contragolpes pela direita, como lateral/ala que avançava sobre o pesado Cortez e aproveitava a baixa combatividade do meio de campo tricolor. Jóbson participou dos dois gols: o primeiro ao dar um nó em Lúcio e passar na medida para Danielzinho completar e o segundo ao finalizar um lançamento em diagonal de Samuel às costas de Tolói.
O São Paulo pagou no primeiro tempo o preço da ousadia de jogar com apenas um volante – Denilson – que na verdade é mais um segundo volante. Wellington, rastreador incansável, estava no banco de reservas. Com Ganso nos piores momentos de sempre desde que deixou o Santos, o São Paulo dependia demais das arrancadas em diagonal de um Oswaldo sempre insinuante e do posicionamento mortal de Luiz Fabiano. Jadson compensava apenas em parte a baixa mobilidade de Ganso.
O primeiro gol são-paulino saiu dos pés de Oswaldo, após cruzamento da esquerda, quando se livrou de dois zagueiros praticamente em cima da linha lateral, Bustamante entre eles. Luiz Fabiano só completou livre na pequena área. O São Paulo fez 2 a 2 antes que terminasse o primeiro tempo, quando um chute travado de Maicon enganou o goleiro Fábio, que esperava conclusão direta à meia altura. A bola mascada perdeu velocidade mas ganhou altura e o encobriu.
O São Paulo ganhou o jogo num segundo tempo de mais equilíbrio entre as equipes até os 20 minutos. Os erros de passe e a falta de infiltrações laterais e centrais tornavam o jogo enfadonho. A entrada de Diego no lugar de Pirão deu mais consistência à marcação defensiva do São Caetano. O jogo começou a mudar quando, aos 18 minutos, o técnico Ney Franco acertou em cheio ao dar mais robustez na marcação e cobertura defensivas com Wellington substituindo a Maicon e o mais rápido e finalizador Carleto ocupar o lugar de um sonolento Cortez. Do outro lado, no mesmo instante, Geninho incorreu em avaliação típica de quem parece não conhecer os jogadores de que dispõe: substituiu um Rivaldo já cansado pelo centroavante Eduardo, ainda fora de forma e de ritmo. Havia melhores alternativas no banco de reservas.
Erros demais
O erro de Geninho não foi apenas colocar em campo um centroavante convencional que poderia ganhar ritmo de jogo num outro compromisso. Geninho errou porque desmontou o setor de meio de campo, agora limitado a três volantes marcadores. Com três atacantes mais adiantados (Eduardo, Jóbson já cansado e Danielzinho) o São Caetano ficou órfão de articulação, função que Rivaldo desempenhava com discrição técnica mas com relativa eficiência tática. Além disso, a entrada de Eduardo arrumou o posicionamento defensivo do São Paulo, se já não bastassem os efeitos de marcação de Wellington. Com um centroavante fixo, o São Caetano deu a oportunidade para Lúcio e Tolói se revezarem pelo meio. Antes, não sabiam a quem vigiar mais de perto.
Geninho errou na substituição e tentou corrigir logo depois, aos 35 minutos, quando retirou o volante Moradei e colocou em campo Eder, um meia de articulações. Mas aí o São Paulo já vencia por 3 a 2: aos 28 minutos Luiz Fabiano fez aos trancos e barrancos numa arremetida pela direita em direção a área na qual contou com o auxílio de Douglas e Jadson.
Cansado da inutilidade de Ganso, o técnico Ney Franco o substituiu pelo mais agressivo Aloisio que, aos 47 minutos, fez o quarto gol ao completar cruzamento do fundo de Carleto ante um São Caetano mais vulnerável na marcação e sem poder algum de contragolpe.
O técnico Geninho não pode eximir-se dos erros de avaliação que cometeu nem tampouco ignorar os fundamentos que levaram aos erros individuais. O São Caetano não é um time qualquer para ser rifado nos vestiários. Até porque, perdeu com erros próprios e também por conta de virtudes de um grande adversário.
Devagar com o andor do São Caetano, que não é de barro como parece, mas também não é de bronze, como já foi.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André