O São Caetano está a nocaute na Série A do Campeonato Paulista. A derrota de 3 a 0 sábado à noite para o Mirassol, no Interior, coloca definitivamente a equipe na zona de turbulência do rebaixamento. Entretanto, nada é inexorável. Ainda restam 10 jogos, seis dos quais no Estádio Anacleto Campanella, onde é sempre possível pressionar os adversários, cinco dos quais considerados pequenos. Ganhar 15 dos 30 pontos que restam disputar é essencial. Com 20 no total, a queda seria evitada. Mas é preciso começar a reagir depois de oito jogos sem vitória. Sábado contra o Botafogo de Ribeirão Preto é uma ótima oportunidade.
Apesar do resultado em Mirassol, o diabo não foi tão feio como pareceu. Até porque o diabo não estava sozinho em campo. A maioria esquece as qualidades do adversário que vestia uniforme amarelo. O Mirassol de Ivan Baitello, treinador formado nas divisões de base do São Caetano, deu uma lição ao adversário de como se deve jogar em casa. Se o time de Geninho quer atingir a barreira dos 15 pontos que restam para sair do sufoco, deve priorizar o aprendizado que o Mirassol impôs.
O São Caetano não decepcionou inconsolavelmente na derrota porque as virtudes do Mirassol foram maiores e brilhantes. É verdade que os dois primeiros gols do time do Interior saíram de erros individuais do São Caetano, mas nem assim é possível descredenciar o resultado. O Mirassol teve competência para transformar as falhas individuais do São Caetano em gols.
Foi a primeira vez nos últimos tempos que o São Caetano não chegou a ameaçar o gol adversário uma única vez em 90 minutos. A responsabilidade deve ser compartilhada com o Mirassol. O São Caetano bem que tentou associar segurança defensiva e contundência ofensiva. Com três volantes cobrindo uma defesa que liberava comedidamente os laterais Edson Ratinho e Diego, o time de Geninho dependia demais da armação de Pedro Carmona e da movimentação dos atacantes Danielzinho e Jóbson. Tudo bem esquadrinhado para dar certo. Bastava o adversário cair na armadilha e um contragolpe fatal se faria, Como o futebol mostra em tantos jogos. O problema é que o Mirassol não caiu na arapuca.
E não caiu porque combinou intensidade na marcação com iniciativa de ataque. Uma marcação severa sobre Pedro Carmona impedia a organização do São Caetano. Os volantes Moradei, Marcone e Leandro Carvalho mal passavam do meio de campo. Os laterais eram bem vigiados também. Danielzinho e Jóbson não encontravam espaço, quanto mais a bola.
Um descuido fatal
Depois de um início forte, quando Camilo e André Luiz levaram perigo ao gol de Fábio, o Mirassol foi contido pelo São Caetano. Fecharam-se os espaços. A dinâmica de jogo do Mirassol exigia determinação de encurtamento de espaços do São Caetano. E o time de Geninho conseguia neutralizar. Apenas duas oportunidades foram criadas até que o gol saísse. Em ambas houve erros técnicos. Wagner errou numa antecipação e Moradei num passe. O Mirassol, sempre esperto, ameaçou.
O gol aos 46 minutos foi um castigo pelo terceiro erro técnico. Danielzinho e Edson Ratinho ficaram em dúvida sobre quem dominaria com tranquilidade uma bola no meio de campo, junto à lateral, Bruno Recife intercedeu, dominou e lançou o centroavante Marcel próximo à grande área. A defesa do São Caetano estava naturalmente adiantada. Marcel acertou um chute lotérico no ângulo e fez mais que o primeiro gol: levou a tensão da desvantagem e a exposição defensiva ao vestiário do visitante.
E nessa hora o técnico Ivan Baitello mostrou como um time mandante pode explorar o desespero adversário. Ele ficou no intervalo sem o artilheiro Marcel, por contusão, e não teve dúvidas em reforçar a marcação do meio de campo com a entrada do volante Mineiro. O Mirassol passou a jogar no 4-3-1- 2, ou seja, sem centroavante fixo, depois de atuar todo o primeiro tempo no 4-2-3-1, com dois volantes pegadores, três meias de articulação com viés ofensivo e Marcel mais avançado. No 4-3-1-2 sem centroavante fixo e com Camilo como armador, o Mirassol replicava o São Caetano do primeiro tempo. A diferença é que é um time mais entrosado, estava em vantagem no placar e o adversário começava a deixar espaços às costas da defesa mais adiantada.
Mexendo no esquema
Já o São Caetano voltou para o segundo tempo com um sistema utilizado em tantos outros jogos, o 4-2-2-2, com a entrada de Eder no lugar do volante Moradei. A forte marcação adversária combinada com uma mobilidade de contragolpes mantinha o São Caetano longe da área adversária e o colocava em tensão. Cartões amarelos começaram a aparecer. Wagner, Danielzinho e Gabriel foram advertidos num intervalo de sete minutos, período no qual o Mirassol começara a aperfeiçoar a valorização da posse de bola. Jogadores brasileiros têm muita dificuldade em assimilar inferioridade no placar e volume de jogo do adversário.
A estratégia do técnico Ivan Baitello deu certo. Ao substituir um centroavante fixo por um terceiro volante deu maior obrigatoriedade de movimentação aos meias André Luiz e Thiago, agora mais atacantes. Com isso obrigou a defesa do São Caetano a inquietar-se mais. O Mirassol insistia em jogar por aproximação e a evitar lançamentos lotéricos. O lançamento às costas de um Wagner que já dava sinais de esgotamento físico após longo período de contusão foi fatal, aos 16 minutos. O zagueiro do São Caetano perdeu o tempo de antecipação, André Luiz penetrou, bateu, a bola rebateu em Gabriel, André Luiz acertou o travessão e Edson Ratinho, que vinha na cobertura, marcou contra, de cabeça.
Perdido por dois, perdido por mais. O técnico Geninho fez duas substituições seguidas e alterou o regime tático da equipe. Eduardo entrou no lugar de Pedro Carmona para virar centroavante de referência, e Vandinho tomou o posto de Jóbson, já cansado mas mesmo assim mais produtivo que Danielzinho. O São Caetano passou para o 4-2-3-1 que inspirou o técnico adversário a escalar sua equipe no começo do jogo. A diferença é que o jogo já estava 2 a 0. Quando Bahia fez 3 a 0 aos 47 minutos, recebendo livre na entrada da área um passe de Camilo, o São Caetano já tinha entregado a rapadura havia cinco minutos.
As lições que ficam para o restante do campeonato, e principalmente para os jogos no Anacleto Campanella, só não incluem maior empenho físico dos jogadores. Quem viu um São Caetano apático durante a maior parte do jogo não sabe distinguir desinteresse de desvantagem. Houve empenho até o limite máximo do que significa correr em busca de um bom resultado. E o limite máximo é a força e a organização do adversário.
Seria mais confortável até mesmo para uma reação mais provável no campeonato que ao São Caetano tivesse faltado dedicação. Não foi o caso. Faltou coletivismo organizado. Situação miseravelmente normal para um time que vem sofrendo tantas mudanças individuais e vem sendo corroído por contusões. Talvez esteja na hora de treinar muito mais e, também, de começar a rezar.
Qualquer cálculo matemático sobre as possibilidades de rebaixamento, restando mais da metade da competição, é chutometria travestida de ciência. Mas daqui a pouco, com cinco rodadas, a matemática já poderá ser considerada sinalizador mais confiável do que alarmista.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André