O São Bernardo só conseguiu voltar de Campinas ontem à noite com o empate de 1 a 1 ante a Ponte Preta porque radicalizou a humildade e o adversário enfeitou demais o pavão da arrogância. A diferença entre as duas equipes é gigantesca, mas quando se pratica futebol tudo é circunstancialmente possível. A Ponte Preta só acelerou o jogo no último terço, depois de passar 60 minutos acreditando que venceria quando bem entendesse. Quase se deu mal, ou se deu mal de alguma forma, porque perdeu a liderança para o São Paulo.
O resultado deve mesmo ser comemorado pelo São Bernardo, um dos quatro times na zona de rebaixamento da Série A do Campeonato Paulista, mas não pode ser sacralizado. O time de Wagner Lopes conseguiu o que queria, ou seja, voltar de Campinas sem derrota, mas deixou um rastro de preocupação para quem sabe que ainda há 10 rodadas pela frente. O sistema tático utilizado vale para situações como a do jogo ante um time forte como a Ponte, mas não reduz o desafio do São Bernardo, que é somar pelo menos 14 pontos em 30 que virão.
Como jamais o fez no campeonato até então, o São Bernardo jogou todo o tempo quase que preferencialmente para fechar os espaços defensivos, esperando uma bola parada ou um contragolpe raro para surpreender. E teve duas oportunidades no primeiro tempo. Na primeira, aos 16 minutos, Fernando Baiano completou para as redes um escanteio mal aparado pela defesa. A segunda foi aos 43 minutos, quando o lateral Gleydson fez um lançamento em diagonal nas costas dos zagueiros e Fernando Baiano completou mal para fora.
Foram raras as oportunidades do São Bernardo no primeiro tempo mas a Ponte Preta, com o controle do jogo, fez muito pouco também. Apenas as bolas paradas levavam mais perigo ao gol de Wilson Júnior e revelavam insegurança no posicionamento do adversário. O time de Campinas exagerava nos passes laterais, na morosidade de transposição do meio de campo ao ataque e se mobilizava muito pouco para sair da forte marcação. Até mesmo era negligente na retomada da bola sempre em estado de choque nos pés dos jogadores do São Bernardo. A marcação incluía praticamente todo o time do São Bernardo da linha do meio de campo para trás. Apenas Fernando Baiano ficava à frente, lento como sempre. O mais vertiginoso Ricardinho não conseguia marcar e se desmarcar, por isso optou pela primeira função.
O jogo transmitia a sensação de que a Ponte Preta estava apenas testando os próprios nervos para preparar golpes fatais no adversário, porque não expressava nenhum sinal de estresse ante a mobilização defensiva do São Bernardo.
Mais dinamismo
A Ponte Preta voltou para o segundo tempo com o um a zero nas costas e dando ares de que poderia acelerar o ritmo. A troca do segundo volante Bruno Silva, sempre com dificuldade para finalizações de média distância, foi vantajosa ao time de Campinas. Entrou o mais técnico, vertical e agressivo Ferrugem. O São Bernardo começou a se sentir incomodado.
Quando o rápido Chiquinho substituiu ao lento Wellington Bruno aos 14 minutos e o artilheiro Alemão ao dispersivo Diego Rosa aos 19, a Ponte Preta já emitia sinais de que suaria mais a camisa e exigiria cada vez mais atenção do São Bernardo.
Mas até a terceira substituição ainda não se via o São Bernardo sufocado, embora só tivesse construído uma única jogada de ataque, num contragolpe que o lateral/ala Régis completou com chute defendido pelo goleiro da Ponte. Também foi a única jogada de ataque em todo o segundo tempo.
O torniquete da Ponte Preta foi apertando e era natural que chegasse ao empate. O técnico Wagner Lopes queria apenas preservar a vantagem e afundou o time cada vez atrás da linha de bola do adversário. O São Bernardo que no primeiro tempo jogava num exploratório 4-5-1 com viés extremamente defensivo, agora atuava num 4-6 ultradefensivo. Até o centroavante Fernando Baiano foi substituído, aos 26 minutos, pelo lateral Radar, que reforçou a marcação.
Não ficava absolutamente ninguém em posição de ataque no São Bernardo. E o São Bernardo não atacava também porque a Ponte Preta adiantou a marcação e pressionou para valer. Tudo o que não fez durante dois terços do jogo por achar que a melhor técnica e a organização coletiva muito mais forte resolveriam os contratempos sem dores.
Empate e futuro
O gol de empate aos 37 minutos, quando William completou na pequena área um cruzamento rasteiro de ferrugem perto da linha de fundo, foi o complemento de uma jogada que a Ponte Preta ensaiou durante toda a fase em que decidiu ir mais à frente com vontade. A troca permanente de passes, as triangulações e o avanço dos laterais atrapalhavam o sistema de marcação do São Bernardo. O passe de Chiquinho em diagonal para a penetração de Ferrugem foi uma jogada mortal porque associou competência técnica, velocidade e senso de colocação. Não há antídoto defensivo quando se tem tudo isso numa mesma jogada.
De qualquer forma, nestas alturas do campeonato onde cada ponto fora de casa e os três pontos em casa passam a ser água no deserto, o São Bernardo tem mesmo é que comemorar o resultado em Campinas. Só não pode se iludir, porque o passado recente já lhe deu lições de sobra sobre a mudança de cenário quando se tem a obrigação de ganhar ante o apoio da torcida. O time de Wagner Lopes deu provas de que está engajado na luta para fugir do rebaixamento, mas não é só de boa vontade que se vive no futebol. O adversário nem sempre será uma Ponte Preta acomodada e confiante demais.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André