Esportes

Contagem regressiva para Azulão e
Tigre escaparem do rebaixamento

DANIEL LIMA - 26/02/2013

São Caetano e São Bernardo caíram na real e já começaram a traçar planos matemáticos para escapar do rebaixamento. Nada mais natural que o alarme tenha soado, porque, após nove rodadas da competição estadual mais difícil do País, as duas equipes estão na zona de queda. Caem quatro.


 


Vou aplicar aqui a contagem regressiva para acompanhar a fuga do inferno. E recorro à estatística para deflagrar a corrida em busca da salvação. Ao São Caetano faltam 15 pontos e ao São Bernardo 14 em 30 pontos que cada equipe disputará. A estatística diz que com 20 pontos é possível fugir da queda. Talvez até com 19, mas é melhor ficar nos 20.


 


É uma meta precária, entretanto, sujeita a modificações no decorrer das rodadas. Mas fixá-la significa definir objetivo central. Se a meta fosse determinada pelos números atuais, de 10 rodadas, 17 pontos seriam suficientes, porque o primeiro time fora do grupo do descenso, o Oeste de Itápolis, tem 8 pontos em 27 disputados, o que dá 29,62% de aproveitamento, ou 17 pontos redondos ao final da competição. Um número por demais escasso levando-se em conta a possibilidade de a média de aproveitamento aumentar nas rodadas que faltam.


 


Por essa ótica, a ótica da contagem regressiva, as duas equipes da região não têm escapatória: devem fazer de cada jogo em seus domínios uma batalha particular. Ninguém conhece melhor o gramado em que pisa senão o mandante. Pois é sob essa verdade, que prevalece estatisticamente em todos os cantos do mundo, que tanto São Caetano como São Bernardo devem se lançar ao campo de jogo.


 


Mandante manda


 


Ganhar mais pontos em casa do que fora é uma verdade universal que envolve equipes de todos os tamanhos. O mando de jogo é elemento fundamental, embora nem sempre decisivo, em todos os jogos. Mesmo os melhores times do mundo, aqueles que mais títulos conquistaram, perdem eficiência quando jogam fora de casa.


 


Sem entrar em detalhes técnicos e táticos que poderiam ser esgrimidos para tornar, quem sabe, São Caetano e São Bernardo mais competitivos em casa, não há nada mais importante como elemento aglutinador de força senão a dedicação intensa de quem se sente protegido em seu próprio reduto.


 


Não interessa quantos torcedores estarão apoiando o São Caetano, porque certamente não serão muitos, não interessa quantos torcedores incentivarão o São Bernardo, porque serão muitos, embora bem menos que no ano passado. O que interessa para valer é que o espírito de competição do mandante, que não pode ser confundido com qualquer coisa que lembre excesso de força e abusos disciplinares, deverá ser aplicado.


 


Fosse dirigente de qualquer uma das duas equipes não teria dúvidas de enfeitar os vestiários com um enorme cartaz cujos dizeres seguiriam mais ou menos esta linha: “Faltam 15 pontos para a próxima Série A do Campeonato Paulista”. E a cada rodada realizada, a cada novos pontos conquistados, aqueles números da meta projetada seriam atualizados.


 


Sim, é preciso explicitar e ambientalizar a situação em que se encontram as duas equipes da região. Tratar a possibilidade de rebaixamento de forma envergonhada, como assunto-tabu, como pecado de adolescente, seria uma tremenda besteira. Veículos de comunicação estão aí a esfregar na cara de todos o que se passa na competição.


 


É impossível esquecer a tabela de classificação? Então que se faça da situação incômoda um desafio a ser batido. Quanto mais São Caetano e São Bernardo assumirem as responsabilidades das 10 rodadas que faltam – e felizmente já acordaram, ao que parece – mais claramente terão a noção exata do significado de zerar o déficit da contagem regressiva.


 


Outra vantagem de assumir-se rebaixável e, portanto, traçar os planos para uma rota de fuga minimamente serena, é a pressão natural de uma numerologia com a qual não concordo porque é apressada e açodada, fruto do mundo em que vivemos em que a espetacularização está acima da racionalidade.


 


É claro que estou falando da invencionice de probabilidades matemáticas de sucesso ou de fracasso numa competição, a medir ou supostamente medir o percentual de cada equipe. É defensável que se utilize da metodologia na reta final de qualquer competição, porque aí o agregado numérico já consolidou uma tendência a ser considerada plausível. Entretanto, como se vem produzindo numeralhas, quando a competição não chegou sequer à metade, é demais. É uma busca por audiência que acaba por conduzir os despreparados ao desespero.


 


Estresse elevado


 


Ainda na semana passada li no Diário do Grande ABC que o São Bernardo era apontado por um site especializado com mais de 90% de possibilidades de rebaixamento. Juro que não procurei saber os detalhes porque não se deve buscar detalhes de bobagens. Exceto se o objetivo é produzir uma tese que comprove na prática determinadas idiotices estruturadas sobre números porque números costumam transmitir credibilidade, mesmo que sejam odiosamente frágeis.


 


Imagino o estrago que aquela notícia provocou na equipe da região. Imagino, não, tenho certeza. Aquele amontoado de jogadores que se colocou em campo ante a Ponte Preta em Campinas não era necessariamente algo que possa ser chamado de um time de futebol. Era mesmo um amontado cuja missão exclusiva era evitar que a Ponte Preta chegasse a seu gol.


 


Que São Caetano e São Bernardo vistam mesmo a carapuça de rebaixáveis mas com senso crítico controlado, de quem sabe que qualquer outro objetivo no campeonato seria autoengano. E que façam da contagem regressiva de cada rodada um elemento de catequese e empenho coletivos. Só assim escaparemos da degola.


 


Basta o Santo André na Série B do Campeonato Paulista. Quem sabe o Ramalhão, que também andou flertando com a queda e já se recupera, não resolva surpreender mais uma vez e ressurja das cinzas, juntando-se aos rivais na Primeira Divisão do ano que vem?


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