Ao restarem apenas nove rodadas para o encerramento da fase classificatória da Série A do Campeonato Paulista o São Caetano ainda não conseguiu emitir sinais consistentes de que poderá escapar do rebaixamento, enquanto o São Bernardo ensaia recuperação providencial. A rodada do final de semana manteve as duas equipes na última linha de descenso, mas o domingo foi excelente para o São Bernardo, que venceu ontem à noite no Estádio Primeiro de Maio o Ituano por 2 a 0. Na noite de sábado o São Caetano perdeu em casa para o Botafogo de Ribeirão Preto por 1 a 0. Dos 27 pontos a disputar, o São Caetano precisa ganhar 15 e o São Bernardo 11.
A principal diferença entre os dois resultados do final de semana é que o São Bernardo contou com um centroavante iluminado, o ex-corintiano Fernando Baiano, lento para ações que exigem força e explosão mas letal dentro da área. Já o São Caetano sofreu com um pênalti inexistente marcado pelo árbitro Paulo César de Oliveira. A bola que roçou levemente no braço de Fabinho não tinha direção do gol. Foi uma marcação mais cruel do que a do árbitro do recente amistoso entre Inglaterra e Brasil. Um lance corriqueiro que a maioria dos apitadores deixa de lado.
Em comum entre o futebol da derrota do São Caetano para o Botafogo e a exibição do São Bernardo na vitória ante o Ituano é que as duas equipes da região demonstraram evolução defensiva. O São Caetano que passa por várias mudanças individuais nos três setores ganhou o reforço do experiente Fabinho, um dos melhores do jogo de sábado mas penalizado pelo árbitro com a marcação do pênalti. Fabinho liderou o sistema de marcação atuando tanto como volante como terceiro zagueiro.
Já o sistema defensivo do São Bernardo está mais consolidado desde a chegada do técnico Wagner Lopes. Há um engajamento geral da equipe, com todos os jogadores, menos Fernando Baiano, no combate aos adversários. Ao São Caetano falta ainda essa disposição, embora já tenha melhorado ante o Botafogo.
São Bernardo melhor
Há outros pontos em comum entre as duas equipes da região, mas negativos. Falta maior densidade de jogo, com baixa posse de bola e muita dispersão nas tentativas de ataque. Nesse ponto o São Bernardo está menos comprometedor, com menos deficiências. Ao explorar o lateral/ala Regis o São Bernardo cria desconforto ao adversário. E agora a equipe passou a contar com dois meias-atacantes abertos, Gil e Ricardinho, que auxiliam na marcação o tempo todo e usam a velocidade para aproveitar lançamentos em diagonal, principalmente do meia-armador Bady.
O São Bernardo joga deliberadamente no contragolpe. O São Caetano ainda não conseguiu definir a melhor tática. Falta sincronia entre os laterais, Jobson é mal aproveitado na velocidade, Rivaldo já não tem a intensidade dos bons tempos, embora seja importantíssimo na posse de bola e nas viradas de jogo, enquanto os laterais custam a avançar em sincronia com os meias ou com atacantes.
Mesmo reticente, o São Bernardo é melhor na construção ofensiva. E conta com um centroavante à moda antiga, que, fora da zona de atrito, é um peso morto, mas na grande área, é sempre um perigo. Foi assim que Fernando Baiano fez os dois gols de ontem. O problema do São Bernardo é não contar como um centroavante espelho de Fernando Baiano que tenha a vantagem da idade, da impetuosidade e da velocidade entre os zagueiros para ser mais aproveitado principalmente fora de casa. Fernando Baiano transmite sempre a sensação de que, aos 34 anos, não suporta mais que 60 minutos de jogo. O centroavante de referência que o São Caetano está introduzindo no grupo, Eduardo, está fora de ritmo por conta de ter sido repatriado da Europa. Ele só pode ser utilizado no segundo tempo dos dois últimos jogos.
Também o São Caetano perde para o São Bernardo no controle emocional. Está estampado no semblante que a zona de rebaixamento é um espantalho que tira a confiança dos jogadores. O coletivismo sofre muito com isso. Jogadas de ultrapassagens, de penetrações centrais e de aproximações entre os setores se diluem facilmente. Prefere-se recorrer a chutões e a lançamentos lotéricos. Já o São Bernardo não está livre do trauma de adentrar os vestiários e ver o quadro classificatório manchado de vermelho, mas exibe capacidade de enfrentar o desafio de fugir da queda com maior naturalidade na combinação coletiva de jogadas.
Pênalti desequilibrador
O empate ante o Botafogo teria sido um resultado mais ajustado à apresentação do São Caetano, mas o pênalti rigoroso marcado pelo árbitro atrapalhou. Até então o São Caetano estava longe de uma grande exibição ofensiva, mas tinha o controle defensivo. O Botafogo no velho estilo do técnico Marcelo Veiga, que consolidou no Bragantino o espírito destrutivo e de contragolpes, sempre com três zagueiros fortes, jogava por uma bola. E a conseguiu aos 25 minutos do segundo tempo.
O técnico Geninho tentou dar mais ofensividade à equipe com Vandinho no lugar do inútil Geovane, Eder no lugar do cansado Rivaldo e Eduardo no lugar do segundo volante Pirão. Durante os 20 minutos finais, por conta da desvantagem no placar e da expulsão do zagueiro Cris, o São Caetano foi praticamente empurrado ao ataque, quebrando o ritmo morno e cauteloso de então, mas defender é a especialidade do técnico Marcelo Veiga. Talvez tudo tivesse sido diferente se as duas penetrações surpreendentes de Pirão no primeiro tempo resultassem em gol. Essa foi a principal jogada de ataque do São Caetano naquela etapa. Depois, Pirão saiu cansado para dar lugar ao centroavante Eduardo.
O São Bernardo foi praticamente dominado durante todo o primeiro tempo, com poucas escapadas em contragolpes com os velocistas Gil e Ricardinho e com o sempre atrevido Régis, mas o Ituano encontrava muitas barreiras para penetrações laterais e centrais. O São Bernardo que entrou no campeonato com o peito estufado de quem conseguiria uma vaga à Série D do Campeonato Brasileiro vestiu as sandálias da humildade e sob o comando de Wagner Lopes joga como time pequeno sem a bola. Um bloqueio que já se manifestara produtivo ante a Ponte Preta, em Campinas. No segundo tempo o Ituano cansou o São Bernardo soltou-se um pouco mais sem abandonar a rigidez de marcação e Fernando Baiano, que marcara no tempo inicial ao bater da entrada da área, desta vez fez 2 a 0 ao jogar-se de joelhos num cruzamento fechado de Gil, após cobrança de lateral. Uma jogada típica de atacante que sacrifica a forma pelo conteúdo.
Perspectivas complicadas
A perspectiva para as duas equipes da região ainda continuam complicadas. É claro que é pior para o São Caetano. Ganhar 15 pontos em 27 significa 55,55% de produtividade, muito acima dos 17% contabilizados até agora e um pouco abaixo dos 57% do surpreendente Linense. Mas é um índice abaixo dos 62% registrados durante o Campeonato Brasileiro da Série B do ano passado. O São Bernardo precisa ganhar 11 dos 27 pontos, com aproveitamento mais palatável de 40,70% ou 30% acima dos 30% alcançados até agora.
Parece cada vez mais evidente que o São Caetano depositará as melhores possibilidades de recuperação em jogos que historicamente costuma render muito mais do que ante adversários de menor porte. Ponte Preta, Palmeiras e Santos são as opções para somar pontos que perdeu para Linense, Botafogo e Bragantino no Estádio Anacleto Campanella. Sem desconsiderar, ainda, os confrontos com adversários de menor tradição. Será que conseguirá?
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André