A rodada do final de semana foi divina para o São Bernardo e infernal para o São Caetano na Série A do Campeonato Paulista. O São Bernardo ganhou nada menos que 21 pontos nos sete jogos que lhe interessavam, enquanto o São Caetano perdeu nove.
Tamanha diferença se refletiu na classificação geral: o time do técnico Wagner Lopes venceu o Linense no Estádio Primeiro de Maio por 2 a 0 e deixou a zona de rebaixamento (era o 17º colocado) e subiu para o 14º lugar, com 12 pontos ganhos, três acima da linha de corte dos degolados. Já o São Caetano perdeu em Campinas para a Ponte Preta por 3 a 1 e segue na última colocação com apenas cinco pontos, a seis da zona de corte do rebaixamento.
O somatório de pontos do São Bernardo na rodada do Campeonato Paulista não é fantasmagórico. É o pragmatismo matemático na quase reta de chegada da competição. O G-9, grupo que envolve equipes suscetíveis ao rebaixamento, se envolveu em sete dos 10 jogos da rodada. Dois dos quais disputados por São Caetano e São Bernardo.
Os 21 pontos conquistados pelo São Bernardo se deram da seguinte forma: três na vitória sobre o Linense, três na derrota do São Caetano ante a Ponte Preta, dois no empate do União Barbarense com o Bragantino, quatro no empate do Guarani com o Mirassol, três na derrota do Atlético Sorocaba ante o Santos, três na derrota do Ituano ante o Corinthians e três na derrota do XV de Piracicaba ante o Oeste.
O São Bernardo teve o mérito da vitória diante do Linense e ainda o sortilégio da quase totalidade das equipes do G-9 perderem pontos importantes, em derrotas e empates. Para quem está no G-9 não há resultado melhor que vencer e contar com derrota dos demais integrantes ante adversários fora do grupo e também com empate entre as equipes envolvidas. Foi isso o que ocorreu na rodada.
Já os nove pontos perdidos pelo São Caetano têm contabilidade semelhante, mas reversa por conta da própria derrota: três para a Ponte Preta, três da vitória do São Bernardo e três da vitória do Oeste ante o XV de Piracicaba. Quem está no G-9 e perde o jogo da rodada obrigatoriamente passa a fazer as contas de perda de pontos também em relação aos concorrentes de infortúnio.
Os resultados do final de semana mudaram levemente a lista do G-9. Houve a substituição do Oeste (que subiu para 14 pontos) pelo Paulista de Jundiaí (com 13). Os demais são o Mirassol (12), São Bernardo (12), XV de Piracicaba (10), Ituano (10), Atlético Sorocaba (9), Guarani (9), União Barbarense (6) e São Caetano (5). Faltam apenas oito rodadas para o encerramento da fase classificatória. O São Caetano precisa ganhar 15 pontos em 24 e o São Bernardo apenas oito para não terminarem a competição entre os quatro últimos.
Contrastes demais
O que se viu em termos matemáticos ao final da rodada da Série A do Campeonato Paulista envolvendo São Bernardo e São Caetano reproduziu as diferenças dos jogos que realizaram no domingo. O São Caetano sofreu duramente com a atmosfera do Estádio Moisés Lucarelli e a organização tática da Ponte Preta, enquanto o São Bernardo do Primeiro de Maio fez mais uma vez a lição de casa com humildade estonteante: marcou obcecadamente o Linense durante todo o jogo, e foi incisivo nos poucos e bem preparados contragolpes. O experiente Fernando Baiano fez a diferença mais uma vez ao marcar um gol, dar o outro e se entregar para valer em cada lance, desafiando a si próprio, já que está visivelmente ainda mais lento que nos tempos de sucesso em grandes times. Aos 34 anos, Fernando Baiano explora com frieza a experiência acumulada entre os zagueiros e se dá ao luxo, como domingo, de atuar fora da zona de arremate, atraindo a marcação e abrindo espaços aos companheiros velocistas.
A principal diferença entre o desempenho do São Bernardo e do São Caetano é que o técnico Wagner Lopes segue simplificando a atuação da equipe. Já se foi o tempo em que o São Bernardo entrava em campo imaginando-se protagonista. Mesmo em casa ante um Linense de ótima campanha na competição o São Bernardo foi humilde. Todos marcam atrás da linha de bola. E só Fernando Baiano fica além da linha de bola. E os contragolpes são um inferno para quem acredita que posse de bola é tudo. O Linense tinha posse de bola mas não conseguia penetrar. E deixava os lados do campo às investidas em profundidade ou em diagonal dos atacantes adversários. Bady, meia de articulação, estava sempre desmarcado. O Linense talvez tenha subestimado um até então frequentador assíduo da zona de rebaixamento.
Já o técnico Geninho foi a Campinas com experimentos que não deram certo. Não faltou dedicação à equipe, mas a flutuação de Marcone entre a função de combate à frente da zaga e a recomposição como terceiro zagueiro tornou-se problemática por falta entrosamento. Por isso o jogo começou com buracos pela direita da defesa do São Caetano e logo no primeiro minuto a Ponte Preta abriu o placar ao entrar por ali. Além de um sistema defensivo instável, a articulação do meio de campo e ataque não funcionou durante todo o primeiro tempo. Rivaldo não encontrava espaços e nem tem mais vitalidade para criá-los. Poderia jogar mais adiantado, onde sempre é mais incisivo e onde também pode dosar melhor o fôlego sem comprometer a marcação no meio de campo.
Se no Primeiro de Maio o jogo era uma tranquilidade e não se modificou nem mesmo com o gol de Bady aos 25 minutos, em Campinas a tensão tomou conta dos jogadores e da torcida após os estragos de uma imprudente tentativa de desarme de Danielzinho, no meio de campo, ao atingir o meia Ferrugem num carrinho fatal: o jogador da Ponte Preta saiu de campo seriamente contundido, com fratura. A torcida da Ponte Preta começou a perseguir o atacante do São Caetano com gritos de “assassino”, mas não houve desdobramentos lamentáveis porque os jogadores não perderam o respeito mútuo. Mas o jogo não foi mais o mesmo pelo menos até o final do primeiro tempo.
Mais que matemática
Tanto em São Bernardo como em Campinas os jogos mudaram na etapa final. No Primeiro de Maio o Linense decidiu sair do marasmo de passes sonolentos e de movimentação programada demais, mas o São Bernardo não perdia a postura defensiva com Fernando Baiano espetado no ataque. Houve mais velocidade na transposição ofensiva, mas o São Bernardo seguia soberano na marcação. Ao que parece está consolidada a grande transformação do técnico Wagner Lopes: um time de combatentes no sistema defensivo e pragmático no ataque. No final do jogo Fernando Baiano fez 2 a 0 ao roubar uma bola no meio de campo, servir Gil em velocidade e completar a jogada na pequena área, aproveitando furada de um zagueiro.
O São Caetano melhorou em Campinas no segundo tempo, foi ao ataque principalmente ao explorar o lateral Samuel Xavier, criou algumas oportunidades mas se descuidou numa bola parada que Ramirez levantou para o zagueiro Cleber fazer 2 a 0. Danielzinho diminuiu ao completar um lançamento comprido de Eder, mas a pressão virou combustível aos contragolpes da Ponte, que fez 3 a 1 no final com Alemão. O São Caetano cauteloso do primeiro tempo com três zagueiros ou três volantes, dependendo das circunstâncias, foi totalmente ofensivo mesmo após ficar reduzido a 10 jogadores com a expulsão de Pirão. Só poderia mesmo sofrer gol em contragolpe ante um adversário que segue invicto no campeonato e é dono da melhor defesa.
O retrato do final de semana não é preocupante para o São Caetano e deslumbrante para o São Bernardo apenas por conta da matemática. Enquanto o time de Wagner Lopes encaixa um sistema tático do qual os adversários não se aperceberam (finge que está dominado, e muitas vezes está mesmo, mas prepara o bote de jogadas esticadas em velocidade) o time de Geninho pena para escalar os melhores valores: além da expulsão de Pirão e também de Marcone (aos 44 minutos), perdeu o zagueiro Bruno Aguiar, que fez boa estreia mas sentiu estiramento muscular. Para quem já teve de escalar o terceiro goleiro num dos jogos, por conta de contusões, nada é novidade no São Caetano. A maré está mesmo de lascar.
A oito rodadas do final da Série A tudo pode acontecer, ainda é cedo para definições, até porque o G-9 é um barco que balança sem se saber quem vai às águas mesmo, mas a realidade é que o São Caetano parece um tripulante exausto. Já o São Bernardo, um time de operários, talvez só não consiga uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro porque começou o Paulista imaginando-se o mesmo time grande que é na Segunda Divisão, de onde veio.
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