Entre seis de fevereiro, quando estreou em Campinas na derrota de 3 a 1 para o Guarani, e 10 de março, quando perdeu de 3 a 1 para a Ponte Preta, também em Campinas, o técnico Geninho viu o São Caetano conquistar apenas um ponto em 21 disputados. Provavelmente em toda a história do Azulão, jamais um treinador obteve sequência de produtividade tão baixa. Portanto, era natural que pedisse para sair. Sim, pediu para sair porque, pelo São Caetano, a demissão não carregava vantagem alguma.
Geninho é reconhecidamente um técnico competente e sua demissão poderia esterilizá-lo de responsabilidade ante eventual rebaixamento. Como no caso de Felipão, demitido pelo Palmeiras que, na sequência, caiu para a Série B do Brasileiro. Felipão safou-se a tal ponto do desastre que acabou na Seleção Brasileira, enquanto à diretoria do Palmeiras sobrou todo o ônus.
Quando observei Geninho ao lado do técnico da Ponte Preta, Guto Ferreira, após o jogo de domingo em Campinas, não tinha dúvidas de que a tolerância da direção do São Caetano não seria correspondida. Geninho estava desolado, como a dizer que entregava os pontos ante a série de seis derrotas e um empate. Deu no que deu. O São Caetano vive situação tão difícil que a ameaça de rebaixamento pode contaminar o que mais lhe interessa: a preparação à Série B do Campeonato Brasileiro.
Não custa lembrar que o Santo André caiu para a Série B do Brasileiro em seguida ao vice-campeonato paulista e que o Guarani caiu no ano passado à Série C do Brasileiro após chegar à decisão da Série A do Paulista. Isolar o vírus da decepção ou do entusiasmo desregrado de uma competição na disputa seguinte é tarefa que compete a todos.
Hora de tranquilidade
O São Caetano da quase Série A do Brasileiro do ano passado, quando só não subiu pelo saldo de gols, vive o que vive agora porque se planejou para fortalecer-se à competição nacional. Talvez tenha subestimado as armadilhas do campeonato regional mais disputado do País. Deve ter considerado que estava pronto para aperfeiçoamento. Até poderia estar, mas a sequência de maus resultados no campeonato estadual pode provocar um efeito contrário e igualmente pecaminoso: pode entender que precisa refazer tudo para disputar a Série B do Brasileiro.
O encalacramento do São Caetano acabou resolvido com a renúncia de Geninho, mas os rescaldos estão aí. Qual seria o perfil ideal de técnico para salvar a equipe na Série A do Campeonato Paulista? O substituto de Geninho deve ser alguém com prazo de validade até o final do campeonato estadual ou deve manter o planejamento que se estende à Série B do Brasileiro? Certo é que o profissional precisa mesmo é bater escanteio e marcar gol de cabeça, ou seja, reanimar um grupo que está emocionalmente em frangalhos e, paralelamente, organizá-lo para a competição nacional.
É muito pouco provável que até o final da fase de classificação da Série A do Campeonato Paulista, em 21 de abril, ou seja, entre a rodada deste final de semana e aquela última, o São Caetano repita os quase 40 dias de calvários de Geninho. Apenas um ponto conquistado em 21 não conta toda a história do período. O time da região não só ganhou apenas um ponto como os demais integrantes do G-9, o grupo das equipes mais ameaçadas de rebaixamento, somaram muito mais em números absolutos e relativos. Para ser preciso, foram 51 pontos que ganharam, em conjunto, Guarani, Mirassol, União Barbarense, Ituano, XV de Piracicaba, São Bernardo, Mirassol e Paulista.
Repetindo: enquanto o São Caetano somou em sete jogos apenas um ponto, seus concorrentes diretos somaram 51 pontos em seis rodadas. O União Barbarense foi quem mais se rivalizou com o São Caetano, ao ganhar apenas dois pontos nesse período, enquanto o Mirassol alcançou 11, o São Bernardo, o Paulista e o Guarani, oito. O Atlético Sorocaba ganhou quatro, ante cinco do Ituano e do Atlético Ituano.
Reparos durante voo
Se o Campeonato Paulista fosse contabilizado apenas a partir da chegada de Geninho ao São Caetano, a lanterninha estaria ratificada. Quando chegou, Geninho encontrou o São Caetano com um jogo a menos disputado e mesmo assim fora da zona de descenso pelo critério de saldo de gols, pois somava os mesmos pontos do União Barbarense, que abria o paredão e contava com as companhias de Mirassol, Guarani e Oeste. Se serve de consolo e de embalo, das quatro equipes que constavam do grupo de rebaixamento na quinta rodada, duas (Mirassol e Oeste) conseguiram recuperação e escaparam. O Oeste ganhou 13 pontos em 18 possíveis e o Mirassol 11 em também 18 possíveis. Por que o São Caetano, ao restarem oito rodadas, não poderia ganhar 15 pontos em 24 possíveis?
A contratação do substituto de Geninho não é uma missão fácil também porque será preciso providenciar reparos num avião em pleno voo. Alguns ajustes precisam ser feitos. A definição de um centroavante que conheça a grande área e seja o centro de referência é vital. Jael chegou para reforçar o time. Rivaldo não pode mais jogar na articulação do meio de campo porque não tem vitalidade e mobilidade para sustentar embates competitivos. Mais próximo à área colocaria toda a experiência a serviço do grupo e exigiria adversários mobilizados a marcá-lo. Seus poucos melhores momentos no São Caetano foram exatamente quando se aproximou da grande área adversária.
O sistema defensivo precisa de reparos urgentes, porque uma das melhores marcas da Série B do Campeonato Brasileiro desapareceu na Série A Paulista. Um time que não marca unido é facilmente batido. Dono da pior defesa da competição, o São Caetano deve priorizar a redução de espaços. Terá de ter paciência num trecho final de campeonato em que os adversários procurarão explorar o desespero de quem precisa de vitórias. É um paradoxo ao qual o São Caetano deverá preparar-se emocionalmente. Se não defender bem, não adiantará atacar.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André