Os resultados que São Bernardo e São Caetano alcançaram no final de semana pela 12ª rodada da Série A do Campeonato Paulista foram melhores que o rendimento em campo. O São Bernardo ganhou do Mirassol no Interior por 4 a 3 e deu grande salto para fugir do rebaixamento, estando a cinto pontos do limite provável de descenso. Já o São Caetano empatou de 1 a 1 com o Palmeiras no Anacleto Campanella e segue na lanterninha, mas agora um ponto a menos ante a equipe que está no limite externo da zona de rebaixamento, o XV de Piracicaba -- seis pontos contra 10.
O que houve em comum entre as duas equipes da região é que jogaram menos do que sugerem a importância dos resultados. Os três pontos somados pelo São Bernardo foram mais do que pretendia o técnico Wagner Lopes, enquanto o ponto conquistado pelo São Caetano foi menos do que exigia a situação classificatória, mas importante como ferramenta de motivação às próximas rodadas.
Coincidentemente, as duas equipes reagiram no segundo tempo, após muitas falhas defensivas no período inicial. Quando terminou o primeiro tempo, o São Caetano deveria agradecer aos céus, porque foi dominado amplamente pelo adversário e, mesmo assim, chegou à vantagem de um a zero. Até um pênalti rigoroso marcado pelo árbitro o Palmeiras perdeu: Henrique chutou para fora. Já o São Bernardo reduziu o estrago nos primeiros 45 minutos, quando chegou a estar em desvantagem de dois gols em 12 minutos de jogo. Os 3 a 2 do período deram condições à reação na etapa final.
A distância que separa o São Bernardo do São Caetano na classificação (15 pontos contra apenas seis) e o contraste sobre as possibilidades de escapar da degola retratam o estágio das duas equipes.
Mesmo sem repetir o desempenho defensivo dos jogos anteriores e também sem o mesmo acabamento de contragolpes com a bola em movimento, o São Bernardo mostrou que tem munição para utilizar com sucesso. Os quatro gols marcados em Mirassol tiveram origem em jogadas de bola parada e treinadas: dois após cobranças de tiros de meta e dois após escanteios.
Já o São Caetano não consegue definir com segurança nenhuma jogada que possa assegurar uma válvula de escape em situações menos confortáveis. Depende principalmente da individualidade de Danielzinho, cada vez mais bem marcado. Mas há boas notícias em vista: a estreia do centroavante Jael, expatriado da convulsiva Coreia do Sul, e o retorno do polêmico Jobson.
Buraco explicado
É natural que haja um buraco entre as duas equipes da região. O São Bernardo ganhou moral e entusiasmo desde a chegada do técnico Wagner Lopes com sua filosofia de marcação à exaustão, contragolpes em alta velocidade pelas extremas e aprimoramento da bola parada. O São Caetano ficou sem o frustrante técnico Geninho após seis derrotas e um empate, trouxe de volta Ailton Silva e ainda não encaixou a melhor escalação. Rivaldo segue muito abaixo do esperado porque teima em atuar no meio de campo, quando a lógica dos 41 anos indica que deveria explorar uma das principais características que o levaram a ser considerado um dos melhores jogadores do mundo: a capacidade de transformar jogadas difíceis em gols espetaculares.
Os 4 a 3 do São Bernardo em Mirassol foram totalmente diferentes do que imaginava o técnico Wagner Lopes, que viajou na expectativa de voltar sem derrota. Tanto que colocou em campo um time ultradefensivo, com três volantes (Gleydson, Daniel Pereira e Didi), um meia-de-armação (Bady), um meia-atacante, Gil, e o centroavante Fernando Baiano como pivô. Deu-se mal porque com 12 minutos o Mirassol já vencia por dois a zero, em jogadas articuladas pelo meio. A ausência do volante Dudu mostrava-se fatal. Nenhum dos três volantes escalados tem características de cão farejador.
Porta arrombada, Wagner Lopes radicalizou ao substituir o lento Didi pelo atacante Ricardinho. Logo em seguida Gil, sempre à esquerda do ataque, diminuiu o placar, após uma cobrança ensaiada de tiro de meta que contou com a colaboração do pesado zagueiro Leonardo. O São Bernardo descobrira a mina de ouro com Gil, que se aproveitava dos avanços do lateral Pio, sem cobertura ou com cobertura lenta demais de um dos zagueiros de área. Fernando Baiano empatou aos 41 após rebote de escanteio, mas a deficiência de marcação à frente da zaga do São Bernardo, sempre em linha e descuidada com as penetrações sem bola dos atacantes adversários, determinou o terceiro gol antes que o primeiro tempo terminasse.
O desastre defensivo do São Caetano no primeiro tempo ante o Palmeiras poderia ter sido semelhante ao do São Bernardo em quantidade de gols. O Palmeiras dominou completamente com avanço pelas extremidades, onde laterais e meias-atacantes encontravam espaço de sobra a penetrações. E por dentro os volantes palmeirenses avançavam em revezamento, contando com a omissão na marcação dos meias Eder e Rivaldo, o que sacrificava os volantes Fabinho e Moradei. Quando tudo indicava que o primeiro tempo terminaria sem gols, porque nos últimos 20 minutos o São Caetano aplacou parte da intensidade palmeirense, Eder acertou um improvável chute de direita depois de dar um corte em Weldinho, o zagueiro Henrique encobriu a visão e o goleiro Fernando Prass não conseguiu defender. O São Caetano não chutara uma única vez até então ao gol palmeirense.
O São Bernardo acertou a marcação defensiva no segundo tempo mas perdeu a opção de ataque pela esquerda com Gil porque o Mirassol passou a cobrir o espaço com o deslocamento do ágil volante Alex Silva. Pela direita, o lateral Régis não se desvencilhava de marcação nem tinha tanto ímpeto ofensivo. A entrada de Michael no lugar do apático Bady deu um pouco de dinamismo à equipe, mas foram mais duas bolas paradas que decidiram o jogo para o São Bernardo, escasso em criar oportunidades com a bola rolando. A primeira bola parada surgiu de escanteio que Gleydson completou de calcanhar aos 28 minutos. A segunda, de novo tiro de meta do goleiro Wilson Júnior que Alex desviou mal e Michael fez um passe preciso para Ricardinho avançar livre.
Com muito menos oportunidades no segundo tempo, o São Bernardo virou um jogo que parecia perdido. O Mirassol procurou repetir as jogadas do primeiro, sempre pelo meio, ou procurando o apoio do lateral Pio, mas errava demais nos passes, agora sem tanta liberdade.
Mudanças para melhor
O São Caetano do segundo tempo foi bem melhor do que o do primeiro, até porque piorar seria impossível, mas sofreu o gol de empate logo aos três minutos quando Rivaldo perdeu a bola na intermediária, Wesley foi lançado às costas de Diego e fez um passe preciso para Leandro, que fechava na pequena área. Leandro entrara no intervalo no lugar de Vinícius, deu mais verticalidade ao ataque mas o Palmeira perdeu em recomposição no meio de campo e na exploração do setor esquerdo.
Talvez a história do jogo fosse outra se no lance imediatamente anterior ao gol do Palmeiras o bandeirinha não se equivocasse ao marcar um impedimento inexistente de Geovane em rápido contragolpe. O atacante saiu na cara do goleiro Fernando Prass.
O São Caetano melhorou em movimentação quando Eder passou a ocupar mais espaços além da esquerda, quando os laterais Samuel Xavier e Diego ganharam confiança e se lançaram mais ao ataque e principalmente após a substituição de Rivaldo por Pedro Carmona. Mesmo sem repetir os bons momentos da Série B do Brasileiro do ano passado, o São Caetano pelo menos não passou a rifar tanto a bola. O domínio palmeirense foi se esgotando na medida em que as mudanças do São Caetano faziam efeito e também porque sentia o peso do desgaste do empenho na vitória de quinta-feira à noite ante o Paulista.
Talvez o que de melhor a rodada do final de semana tenha deixado de lição às equipes da região é que há perspectivas em vista. Ao São Bernardo, que agora já começa sonhar com a possibilidade de disputar a Série D do Campeonato Brasileiro (precisa ultrapassar Penapolense, Linense ou Botafogo de Ribeirão Preto,) os confrontos desta semana contra o São Paulo no Primeiro de Maio e Penapolense no Interior são decisivos. Já ao São Caetano não existe escolha nos dois próximos jogos, contra o Ituano no Anacleto Campanella e o União, em Santa Bárbara do Oeste: os seis pontos possivelmente não retirariam a equipe da zona do rebaixamento, mas as cinco últimas rodadas seguintes seriam muito menos desafiadoras do que o que se apresenta agora para evitar o primeiro rebaixamento desde que chegou à elite do futebol paulista.
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