Esportes

Está se aproximando a hora
de fazer cálculos matemáticos

DANIEL LIMA - 22/03/2013

A partir da próxima desta segunda-feira, quando faltarem apenas cinco rodadas para o encerramento da fase classificatória da Série A do Campeonato Paulista, vou fazer cálculos matemáticos sobre as possibilidades de São Caetano e São Bernardo na competição.


 


Prometi que só iria me dedicar a essa espécie de chutometria quando o campeonato chegasse aonde vai chegar neste final de semana. Antes disso, seria loucura. Tanto que um site supostamente especializado cravou, cinco rodadas atrás, que o São Bernardo chegara a 96% de possibilidades de rebaixamento. O time está praticamente livre da queda, após fulminante reação.


 


Diria que é menos tortuoso o caminho do São Caetano para fugir do rebaixamento, depois da vitória de ontem à noite por 3 a 0 ante o Ituano, no Estádio Anacleto Campanella, do que o São Bernardo furar o bloqueio em busca de uma vaga à Série D do Campeonato Brasileiro, após a derrota em casa na noite anterior para o São Paulo por 2 a 1.


 


A distância que separa o São Caetano do primeiro posto fora do grupo dos quatro rebaixáveis é de apenas dois pontos, já que conta com nove e o XV de Piracicaba tem 11, enquanto o São Bernardo com 15 está a seis pontos do Linense, com 21, e sete do Botafogo de Ribeirão Preto, com 22. Sem contar ainda a desvantagem de dois pontos ante o Penapolense. Essas três equipes interditam o caminho do São Bernardo em direção ao Brasileiro.


 


Disputar o Campeonato Brasileiro da Quarta Divisão é vital a quem quer entrar no calendário nacional, porque terá praticamente um ano inteiro de disputas. O São Bernardo deixaria de ser um time sazonal, que atua para valer apenas quatro meses no ano. Não há planejamento que resista a montagens e desmontagens de elencos.


 


Boas notícias


 


Como pretendo esmiuçar as possibilidades de São Caetano e São Bernardo na próxima semana, não convém enveredar por caminhos específicos agora. O mais importante mesmo é curtir duas constatações que os jogos do meio de semana proporcionaram.


 


Primeiro, o São Bernardo não corre risco algum de rebaixamento não só pela situação razoavelmente confortável na tabela, mas porque encontrou o eixo tático, técnico e motivacional para lutar por uma vaga à Série D do Brasileiro.


 


Segundo, o São Caetano finalmente exorcizou o fantasma de derrotas mais derrotas e alguns empates que se arrastou por 11 rodadas. Ganhar do Ituano foi mais importante que a apresentação em si. O time de Ailton Silva manteve o padrão dos jogos anteriores, ou seja, está muito aquém da soma das individualidades que o compõem e oscilou de rendimento com breves momentos de acertos e longos períodos de descontroles.


 


Tanto o São Bernardo quanto o São Caetano oferecem perspectivas de resultados satisfatórios neste final de semana. A parada para o São Bernardo é mais dura, porque joga em Penápolis ante uma equipe que respira Série D do Brasileiro, mesmo objetivo do time da região. O empate no meio de semana em Lins deixou o Penapolense vivo.


 


São Bernardo cresce


 


Não vi um único jogo do Penapolense na competição, mas assisti a todos do São Bernardo para não ter receio de afirmar que é possível sim conseguir bom resultado. A derrota para o São Paulo não se configurou, como alguns escrevinhadores de pós-resultados afirmaram, favas contadas. O time de Wagner Lopes poderia até ter saído com empate, não fosse Fernando Baiano impreciso na última bola, sozinho, ao cabecear uma falta livre na pequena área e errar o alvo.


 


Mas não foi somente pelo gol perdido por Fernando Baiano que o São Bernardo poderia ter saído do Estádio Primeiro de Maio com bom resultado. O São Paulo foi melhor até os 25 minutos do primeiro tempo quando Luiz Fabiano fez o primeiro gol. E também nos últimos 20 minutos. Mas nada de massacrante. Nada que identificasse e carimbasse o São Bernardo como time pequeno, entrincheirado na defesa. Nada disso. Aos poucos o São Bernardo ganha personalidade tática. É um grupo combativo, solidário, objetivo e inquietante a qualquer adversário. Diferentemente do São Caetano, a soma das partes é muito maior do que as individualidades.


 


E olhe que o time da derrota para o São Paulo perdeu praticamente toda a defesa titular – os zagueiros de área e o lateral-esquerdo – e teve a infelicidade de registrar um raro momento – o goleiro Wilson Júnior falhou na saída de bola do cruzamento que redundou no segundo gol são-paulino. Em compensação, Fernando Baiano garantiu novamente 60 minutos de bom rendimento, Régis voltou a apoiar mais pela direita, Dudu voltou com o senso de marcação sempre impressionante e o rápido Gil se converteu no melhor do time, explorando os fundos de campo.


 


Wagner Lopes chegou falando grosso, deu a impressão de que seria uma cópia do fanfarrão Felipão, mas tem comportamento exemplar à beira do gramado. É discreto, atento, observador e, mais que isso, ajustou as peças do São Bernardo com rapidez. O time peladeiro e pouco responsável das primeiras rodadas transformou-se em grupo inteligente, incansável, determinado. E com jogadas mortais com Gil e Ricardinho ocupando as extremidades, os apoios de Régis, a bola parada de Bady e as inversões dos laterais com lançamentos em diagonal. Simples, muito simples, mas eficaz.


 


Peso da vergonha


 


Já o São Caetano pode ganhar em Santa Bárbara porque deverá ter retirado a tonelada de vergonha que a sequência de derrotas e empates impôs ao longo de 11 rodadas, até que, finalmente, não só veio a vitória como também o repasse da lanterninha ao adversário deste domingo. Sem estabilidade emocional o São Caetano jamais atuará em nível compatível com a qualidade individual dos jogadores. A retirada de Rivaldo do time titular é medida certíssima. Não se joga com o passado. Rivaldo não tem condições fisiológicas para atuar no meio de campo e reluta em virar pivô ofensivo. Tê-lo em campo durante mais que 30 minutos é renunciar à igualdade numérica de jogadores. São 11 contra 10.


 


Apesar do resultado ante o Ituano, o São Caetano foi ainda bastante frágil coletivamente no sistema ofensivo. O sistema defensivo, com o empenho da maioria dos jogadores, deu conta do recado, embora com alguns momentos de sufoco. Danielzinho continua a ser o grande destaque da equipe. Ele está a serviço do grupo. De seus pés nascem as melhores jogadas. A estreia de Jael mesmo fora de forma sinaliza que a função de centroavante pode ter encontrado um titular indispensável nessa reta de chegada. Os laterais precisam apoiar mais, mas para isso os volantes e os meia-articuladores devem enxergar os lados do campo. Ou seja, o São Caetano está longe de ser uma equipe. Talvez sem o peso emocional os jogadores joguem futebol de verdade.


 


Diferentemente do São Bernardo, o São Caetano ainda não tem jogadas mortais para contrabalançar a ausência de um coletivismo mais sólido. As bolas paradas são comuns, há falta de uma jogada de contragolpe que tire o apetite ofensivo dos adversários e resta apenas Danielzinho, por enquanto, como fonte de esperança. Ganhar do União neste domingo é assinar o passaporte rumo à salvação. Qualquer outro resultado aumentará o drama.


 


Esperem pelos meus cálculos matemáticos. Se os sites ditos especializados cometem tantas barbaridades, por que não posso repetir temporadas anteriores e lascar alguns números? Garanto que não proporcionarei vexames. Nem vou revelar detalhes da alquimia. É a fórmula Coca Cola do futebol.


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