Agora sim é possível utilizar a matemática como suporte prospectivo razoavelmente confiável e não como chutometria para diagnosticar a situação das duas equipes da região que disputam o principal campeonato regional do País, a Série A do Paulista.
O São Caetano empatou ontem em Santa Bárbara com o União por zero e zero e segue ameaçadíssimo de rebaixamento. E o São Bernardo, apesar de perder na tarde de sábado no Interior para o Penapolense por três a zero, está praticamente livre da queda. O São Caetano tem 50% de possibilidades de disputar a Série B Paulista no ano que vem, ante apenas 5% do São Bernardo. Outras seis equipes estão ameaçadas.
A lista de equipes que flertam com a degola envolve São Caetano, São Bernardo, Atlético Sorocaba, XV de Piracicaba, União Barbarense, Guarani, Mirassol e Ituano.
Os números que aparecerão neste trabalho estabelecem diferentes de potencialidades de queda e estão longe de qualquer resquício de cientificidade, como querem fazer acreditar sites especializados em cometer barbeiragens. Um exemplo é que o São Bernardo estava carimbado ao rebaixamento com 95% de possibilidades há cinco rodadas e hoje está praticamente livre.
Resolvemos introduzir e divulgar os cálculos que somente a partir de agora, porque o campeonato entrou na reta de chegada. Os números decorrem de algumas análises importantes, as quais, entretanto, estão a léguas de distância de qualquer pretensão à infalibilidade. Vejam alguns vetores considerados:
a) Jogos em casa.
b) Jogos fora de casa.
c) Jogos contra os chamados grandes.
d) Jogos entre as equipes ameaçadas.
e) Possíveis contextos das próximas rodadas.
f) Situação na tábua de classificação de pontos ganhos.
g) Número de vitórias, primeiro critério de desempate.
h) Saldo de gol, segundo critério de desempate.
Isto posto, veja como ficou a grade de rebaixamento:
1. Atlético Sorocaba tem nove pontos ganhos, duas vitórias e saldo negativo de sete gols. Vai enfrentar o São Bernardo (f), Guarani (f), Mirassol (c), Oeste (c) e Corinthians (f). Possibilidades de queda: 90%.
2. União Barbarense tem oito pontos ganhos, uma vitória e saldo negativo de 12 gols. Vai jogar com o Linense (f) São Bernardo (c), Ituano (f) Santos (c), Guarani (f) e São Paulo (c). Possibilidades de queda: 80%.
3. Guarani tem nove pontos ganhos, duas vitórias e saldo negativo de 10 gols. Vai jogar com o Oeste (f), Atlético Sorocaba (c), Penapolense (f), Palmeiras (f) e União Barbarense (c). Possibilidades de queda: 70%.
4. São Caetano tem 10 pontos ganhos, duas vitórias e saldo negativo de 12 gols. Vai jogar com o XV de Piracicaba (c), Mogi Mirim (c), Santos (f), Penapolense (f) e Paulista (c). Possibilidades de queda: 50%.
5. Mirassol tem 12 pontos ganhos, três vitórias e saldo negativo de cinco gols. Jogará com o Palmeiras (c), Penapolense (c), Atlético Sorocaba (f), Ponte Preta (f) e Linense (c). Possibilidades de queda: 40%.
6. Ituano tem 13 pontos ganhos, três vitórias e nove gols de saldo negativo. Vai jogar com o Bragantino (f), Botafogo (c), União Barbarense (c), Paulista (f) e Palmeiras (c). Possibilidades de queda: 40%.
7. XV de Piracicaba tem 14 pontos ganhos, três vitórias e cinco gols de saldo negativo. Vai jogar com o São Caetano (f), Ponte Preta (c), Bragantino (c), São Paulo (f) e Botafogo (c). Possibilidades de queda: 25%.
8. São Bernardo tem 15 pontos ganhos, quatro vitórias e saldo negativo de sete gols. Vai jogar com Atlético Sorocaba (c), União Barbarense (f), Corinthians (f), Mogi Mirim (c) e Oeste (f). Possibilidades de queda: 5%.
Empate e derrota
São Caetano e São Bernardo somaram apenas um dos seis pontos em disputa na rodada do final de semana. O ponto conquistado pelo São Caetano foi heroico, porque sofreu quase o tempo todo pressão desordenada do União Barbarense, no Interior. Já o São Bernardo voltou com revés de 3 a 0 do Penapolense por uma razão simples: o Penapolense praticamente o impediu de jogar e fez o feitiço da eficiência da bola parada voltar-se contra o feiticeiro.
O São Caetano não jogou mais que 20 minutos razoáveis em Santa Bárbara. Depois de sofrer bombardeio do União a partir dos 10 segundos do jogo, quando Wagner falhou e o goleiro Fábio teve de fazer a primeira grande defesa, o São Caetano recuperou-se a partir dos 25 minutos a ponto de equilibrar o jogo. Mas foi só. O segundo tempo foi todo do adversário. Menos mal que o saldo do estrago tenha sido apenas três bolas na trave. O zero a zero foi mantido a muito custo e principalmente porque o zagueiro Wagner recuperou-se da falha inicial e se tornou o melhor em campo.
Mais preocupante que os 50% de possibilidades de rebaixamento pela primeira vez na história no futebol paulista foi o pobre futebol do São Caetano. Vulnerável demais na marcação do meio de campo e sem contundência ofensiva, o time de Ailton Silva praticamente não incomodou o mandante. No primeiro tempo Eder e Pedro Carmona deram alguma organização ao setor, mas desapareceram na etapa final. O técnico Ailton Silva demorou a fazer substituições. Rivaldo e Samuel Santos entraram apenas aos 32 minutos para dar alguma força ao setor.
O acúmulo de falhas coletivas do São Caetano localizou-se principalmente no sistema ofensivo. O centroavante Jael ainda está fora de forma física, os meias Eder e Carmona penetraram pouco, os laterais passaram quase todo o tempo na marcação, os volantes deram algum apoio no primeiro tempo mas desapareceram no segundo e Danielzinho não repetiu os últimos jogos entre outras razões porque raramente recebeu em boas condições de lançamento e finalização.
Sobrou ao São Caetano disposição para marcar o adversário, contando sempre com as limitações de um time que só anotou sete gols até agora na competição e é disparadamente o pior entre todos os ataques. Mesmo assim o São Caetano passou sufoco. Principalmente porque se descuidou durante os 90 minutos do lateral/ala Alex, quase sempre livre. Sorte que Alex é limitadíssimo. Mas mesmo assim, deslocado ao meio, acertou o travessão num chute de fora da área que resvalou em Fabinho, volante taticamente irrepreensível.
Talvez a melhor lição ao São Caetano que voltou com um ponto razoavelmente satisfatório de Santa Bárbara é que não se pode confiar demais em fatalidades. A vitória de 3 a 0 ante o Ituano, na rodada anterior, foi obra do acaso, de chutes desviados que enganaram o goleiro. A repetição de erros de posicionamento e a vulnerabilidade de marcação no meio de campo podem custar caro ante um adversário mais qualificado. Jogasse num padrão mais elevado, os 50% atribuídos ao São Caetano como margem de rebaixamento seriam menos.
Adversário maduro
Já a derrota do São Bernardo em Penápolis foi consequência do time mandante coletivamente superior e tecnicamente preparado para usar o tempo conforme a situação do jogo. Depois de fazer 2 a 0 no primeiro tempo, após cobranças de escanteios, o primeiro dos quais contando com falha do goleiro Wilson Júnior, o Penapolense administrou o resultado. Administrou com competência porque inutilizou todas as armas ofensivas que o São Bernardo de Wagner Lopes exibe com letalidade: fechou as laterais por onde Régis pela direita e Gil pela esquerda costumam atacar em velocidade, cercou o artilheiro Fernando Baiano que mal tocou na bola e interrompeu o circuito central por onde Bady costuma ameaçar com finalizações, mantendo três volantes cuidadosos na marcação. Nem quando Wagner Lopes substituiu um dos três volantes e colocou o atacante Jonathan à direita o jogo se alterou. O Penapolense soube fechar aquele espaço.
Não fosse um chute do volante Dudu na entrada da área contra o travessão o Penapolense não teria passado nenhum aperto durante todo o jogo. Sem pressa, passando a bola de pé em pé, virando o jogo quando lhe interessava e esperando o momento certo de contragolpear, o Penapolense impediu que o São Bernardo reagisse e pautasse o ritmo. Como reagir sem ter a bola nos pés? Como reagir se as válvulas de escape ofensivas estavam ilhadas? No final, depois de um segundo tempo monótono e com a vantagem de um jogador, já que Daniel Marques foi expulso, o Penapolense desperdiçou nos últimos cinco minutos três gols, até que aumentou a diferença aos 46 minutos.
Talvez fosse interessante e pedagógico aos jogadores e à comissão técnica do São Caetano assistir à gravação da vitória do Penapolense ante o São Bernardo. Com jogadores tecnicamente mais modestos que a maioria à disposição de Ailton Silva, o time do Interior dirigido por Pintado não somou até agora 20 pontos, com possibilidades de classificar-se ao G-8, por obra do acaso. Eles formam um coletivo que está na essência do futebol. Transmitem a sensação de que estão proibidos de dar um chutão sequer e que seriam punidos se o time adversário de porte semelhante somar mais posse de bola e controle tático.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André