Esportes

Ramalhão, da Primeira à Sexta
Divisão em apenas cinco anos

DANIEL LIMA - 02/04/2013

O Ramalhão, como é conhecido popularmente o Santo André, terminará a temporada com um recorde nacional: provavelmente será a equipe brasileira que mais desabou no ranking nacional em tão pouco tempo. Entre a Primeira Divisão (Série A do Campeonato Brasileiro) de 2009 e a Sexta Divisão (Série B do Campeonato Paulista) terão se passado apenas cinco anos e um Saged. Saged é a empresa à qual o Ramalhão foi entregue como solução imaginada para um futebol de alto nível, mas virou pó após seis rebaixamentos em 12 competições entre 2007 e 2012.


 


Mal comparando, não será exagero se o Ramalhão alinha-se ao Íbis Sport Club de Pernambuco como agremiação submetida à curiosidade geral. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, o Íbis ganhou fama mundial graças a nove derrotas consecutivas e depois, a uma sequência de 23 jogos sem vitórias. Foram três anos e onze meses sem comemorar uma única vitória, recorde registrado no Livro Guinness dos Recordes. A fama de pior time de mundo veio com uma brincadeira de jornalistas da época, mas pegou.


 


O Ramalhão é o Íbis no atacado, ou seja, sofre rebaixamento atrás de rebaixamento, mesmo quando não disputa competições. Como desgraça pouca é bobagem, deverá sofrer duplo rebaixamento nesta temporada, da Quarta para a Sexta Divisão do Brasileiro.


 


Destrinchando o desastre 


 


Vou explicar como o Ramalhão chegará iminentemente à Sexta Divisão do futebol brasileiro.


 


Em 2009 disputou a Série A do Campeonato Brasileiro, resultado de uma intensa e desgastante história que começou no começo dos anos 2000 quando, finalmente, chegou à Série C nacional. Foi sob a batuta do Saged, a tal empresa esportiva miraculosa, que o Ramalhão chegou à Série A Brasileira. Deu o passo muito maior que as pernas. Na sequência, caiu para a Série B, para a Série C e no ano passado para a Série D.


 


O que tem a ver, então, série D com a Série F (Sexta Divisão), se o calendário do futebol brasileiro só reserva jogos em competições nacionais até quem disputa a Série D?


 


Como o Santo André foi deslocado à Série D, não lhe resta saída nesta temporada senão subir para a Série C do Brasileiro. A competição reunirá 40 equipes divididas em oito grupos na fase classificatória. Só se classificam às etapas seguintes, as duas primeiras equipes de cada agrupamento. Só um maluco apostaria no Ramalhão. Ora, se não conseguir chegar entre os quatro primeiros ao final da linha (os quatro que sobem para a Série C do Brasileiro), o Ramalhão volta automaticamente à fase classificatória.


 


A fase classificatória à Série D do Campeonato Brasileiro é a Série A do Campeonato Paulista. Nesta temporada, por exemplo, Penapolense e Botafogo de Ribeirão Preto são os maiores candidatos às duas vagas reservadas às equipes paulistas na Série D do Brasileiro.  O São Bernardo se planejou para ficar com uma das duas vagas mas está praticamente fora da disputa. Tanto quanto da ameaça de rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista.


 


Circuito nacional fechado


 


Voltando ao Ramalhão, o não acesso à Série C do Brasileiro neste ano implicará em retomar a caminhada àquela competição a partir da porta aberta do campeonato estadual. Como foi rebaixado à Série B do Campeonato Paulista no ano passado e não se classificou entre os quatro primeiros neste ano (ficou em 13º lugar) voltará a disputar a competição no ano que vem. Na melhor das hipóteses, o Ramalhão só retornaria mesmo assim precariamente ao circuito nacional em 2015, caso consiga o acesso à Série A do Paulista no ano que vem. Diferentemente, portanto, do São Bernardo, que poderá chegar à Série D do Brasileiro no próximo ano.


 


Já o São Caetano, mesmo eventualmente rebaixado à Série B do Campeonato Paulista neste ano, não sofrerá danos no calendário nacional. Vai disputar a Série B do Brasileiro desta temporada e se chegar entre os quatro primeiros alcançará a Série A, mesmo estando na Série B Paulista. Como a Portuguesa no ano passado, rebaixada que foi no Paulista.


 


Tudo isso pode parecer um labirinto aos aprendizes de futebol, mas quem tem vivência cultural na atividade tira de letra a compreensão de um processo que é histórico. Ou seja: a escalada ou a queda na hierarquia do futebol brasileiro não é etapa de curto prazo. O pouco comum e até que alguém me socorra inusitado é o Ramalhão mergulhar tão profundamente no ranking.


 


Se é verdade que o Saged acelerou a exaustão da agremiação, sem o Saged nada garantiria que algo semelhante não houvesse florescido, porque as sementes dos infortúnios foram lançadas há mais tempo. A baixa representatividade social do Santo André se agravou durante o período em que o Saged prometia promover grandes transformações. Chegou-se ao fundo do poço, em proporção semelhante à debacle no gramado.


 


O momento do Ramalhão é também semelhante ao esvaziamento de Santo André como endereço de institucionalidades, de cidadania, de comprometimento com o amanhã. Santo André reúne uma sociedade morta ou quase morta em larga escala. Sobrevivem apenas alguns fiapos de capital social. O futebol não poderia integrar esse cenário não fosse com a realidade nua e crua de uma sucessão de fracassos. Sexta Divisão do futebol brasileiro é mais que o fim da picada, é o fim do caminho, é o resto do troço.


 


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