Empatar de um a um com o Santos de Neymar inspiradíssimo é uma façanha que o São Caetano contabilizou ontem à noite no Pacaembu, mas o resultado obtido principalmente por conta de forte esquema de marcação estreitou ainda mais as possibilidades de escapar do rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista.
Agora o limite máximo atinge 18 pontos, caso vença o Penapolense fora de casa e o Paulista em casa nas duas últimas rodadas. Em oito edições da competição no formato de todos contra todos em turno único somente em duas foi possível escapar com 18 pontos.
O complemento da antepenúltima rodada neste final de semana poderá sinalizar ou não possível ampliação da margem de manobra do São Caetano. De forma mais incisiva, seis equipes lutam para fugir da degola que contemplará os quatro últimos colocados. Guarani (10 pontos), São Caetano (12), União Barbarense (13), Atlético Sorocaba (13), Ituano (14) e Mirassol (15) fazem parte da lista. São Caetano, União Barbarense e Ituano já jogaram na rodada. O Atlético enfrenta o Mirassol em Sorocaba e o Guarani vai enfrentar o Penapolense fora de casa. Uma vitória do Mirassol daria mais esperanças ao São Caetano. Qualquer resultado do Guarani que não seja a vitória também.
Somente nas temporadas de 2007 e 2008 a marca de corte de rebaixamento não ultrapassou a 17 pontos. Em 2007, o América de Rio Preto ficou em 17º lugar na classificação com 17 pontos e quatro vitórias, enquanto em 2008 o Juventus repetiu os números. Em outras duas edições duas equipes escaparam com 18 pontos -- o Ituano em 2011 e XV de Piracicaba em 2012. A diferença em relação ao São Caetano, que também pode fazer 18 pontos, é que tanto Ituano quanto XV somaram cinco vitórias, primeiro critério de desempate. O São Caetano chegará ao máximo de quatro vitórias se derrotar o Penapolense e o Paulista.
Vulnerabilidades numéricas
Esse jogo de números que remonta ao passado em forma de estatística não tem o poder supremo de delinear com segurança o que poderá acontecer nas duas últimas rodadas da competição e nos jogos que faltam na antepenúltima rodada deste final de semana. Se é verdade que há um acúmulo de dados que convergem a determinado rumo de pontos ganhos e sustenta teses sobre limites possíveis, nada impediria o que os matemáticos costumam chamar de ponto fora da curva.
Não existe uma fórmula mágica que determine, por exemplo, que com 17 pontos não seja possível escapar à degola. Ou mesmo com 18 pontos e quatro vitórias, em vez de cinco vitórias. Quanto mais pontos somam os primeiros colocados, menos pontos somam os times que integram o bloco de ameaçados. É desses planos e contraplanos numéricos que podem emergir novidades a contrariar a trajetória estatística. Pelo menos essa é a situação emocional do São Caetano e dos demais times que precisam alimentar a expectativa de salvamento.
Resultado heroico
O empate de 1 a 1 com o Santos ontem à noite no Pacaembu prova que futebol não é uma linha reta em direção ao infinito previsível. Há sinuosidades que podem levar a pontos obscuros e muitas vezes irreparáveis. Mesmo com Neymar iluminadíssimo, a quebrar todas as regras da física, penetrando numa selva de corpos, o Santos não derrotou o São Caetano. O próprio atacante reconheceu ao final, em entrevista, que o resultado não se alteraria mesmo se jogassem até o dia seguinte.
Como o São Caetano flagrantemente apavorado com a possibilidade de rebaixamento saiu do Pacaembu razoavelmente feliz com o empate ante o time de Neymar? Simples: recolheu-se humildemente à defesa, apurou durante o jogo a melhor maneira de fechar todos os espaços possíveis, e utilizou os atacantes Danielzinho e Jael como endereços de contragolpes geralmente em bolas longas. O gol de falta de Jael marcou logo aos sete minutos ajudou no projeto, mas estava difícil demais segurar os laterais, os volantes, os meias e os atacantes do Santos.
Com três zagueiros, dois laterais contidos, dois volantes, um meia de articulação (Eder) e os dois atacantes, o São Caetano era completamente dominado. A substituição de Eder pelo volante Moradei encorpou a marcação à frente da zaga e o Santos passou a ter menos infiltrações centrais. Pelos lados a dificuldade era segurar Neymar.
No segundo tempo o Santos continuou melhor, empatou logo aos sete minutos também de bola parada, em falta batida por Neymar, mas o São Caetano ganhou personalidade o suficiente para aumentar a posse de bola e a articulação no meio de campo com a entrada de Rogério no lugar do lento Pirão.
Se no primeiro tempo, além do gol de Jael, o São Caetano teve a oportunidade de fazer o segundo com Fabinho, que chutou rente a trave uma inversão sob medida de Danielzinho, no segundo foi Diego que quase surpreende, aos 34 minutos, ao acertar o travessão numa cobrança de falta.
Seria um resultado extravagante demais ante o domínio do Santos, mas ideal para o São Caetano enxergar a classificação com mais entusiasmo e menor restrição estatística. O técnico Muricy Ramalho tentou de tudo para transformar o controle tático e técnico do jogo em vitória, potencializando ainda mais o ataque com André e Pato Rodrigues, mas a aplicação defensiva do São Caetano, e algumas tentativas de escapadas com Danielzinho e Jael, contrapuseram-se senão para neutralizar, pelo menos para atenuar o desiquilíbrio no gramado.
Em outras circunstâncias o São Caetano provavelmente comemoraria para valer o empate com os santistas, mas quando só a vitória poderia fazer a diferença, mesmo um empate ante um time que teve o melhor jogador do País em estado de graça parece insuficiente.
As possibilidades matemáticas minguam a cada rodada, mas o histórico do São Caetano na competição, de jamais ter sido rebaixado, também deve entrar na conta dos alquimistas que têm a mania de tentar adivinhar o futuro.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André