A penúltima rodada da fase classificatória da Série A Paulista foi terrível para o futebol da região: o São Caetano empatou com o Penapolense (1 a 1) sábado à tarde no Interior e foi rebaixado pela primeira vez desde que, há 13 anos, passou a disputar o principal campeonato regional do País, enquanto o São Bernardo, jogando em casa domingo à noite, perdeu para o Mogi Mirim (2 a 1) e agora disputa um jogo decisivo com o Oeste, no Interior, na última rodada, para tentar escapar. O São Bernardo talvez escape até com derrota ou empate, mas o melhor mesmo, para não depender de ninguém, é voltar com vitória.
O rebaixamento do São Caetano só teria sido evitado no final de semana se vencesse o Penapolense. Aí, decidiria permanência em casa com o Paulista. Já o São Bernardo deixou escapar uma vitória que o levaria a jogar a última partida como amistoso. Agora tem 20% de possibilidades de rebaixamento, contra 40% do Mirassol, 25 do Ituano e 15 do Paulista de Jundiaí, conforme projeção matemática de CapitalSocial. No site “Chance de Gol”, o Mirassol reúne 59,5% possibilidades de queda, o Ituano 18,4%, o São Bernardo 15,2% e o Paulista 7,0%.
Mirassol, São Bernardo, Ituano e Paulista têm quatro vitórias no campeonato (primeiro critério de desempate) mas há diferenças no saldo de gols (segundo critério de desempate): o Mirassol tem cinco gols de saldo negativo, ante 10 gols do São Bernardo, 10 do Ituano e oito do Paulista de Jundiaí. No terceiro critério de desempate (gols marcados), o Mirassol também está melhor com 28, contra 20 do São Bernardo, 18 do Ituano e 17 do Paulista. Não seria previdente descartar a possibilidade de a última vaga ser decidida pelo terceiro critério de desempate.
Muitas alternativas
O Mirassol é o maior favorito a ocupar a última vaga do rebaixamento (além do São Caetano caíram o Guarani e o União Barbarense) com 40% de potencialidade porque só a vitória lhe interessa em casa ante o Linense e também porque é o único do quarteto de ameaçados que enfrenta um adversário com grandes pretensões no campeonato. Depois de vencer o Corinthians, o Linense pode ocupar uma das duas vagas que restam ao G-8, o grupo dos oito melhores colocados que disputarão a primeira fase de mata-mata. Com 15 pontos, o Mirassol chegará a 18 e dependeria de apenas um desses resultados: derrota ou empate do Ituano em casa contra o Palmeiras, derrota ou empate do Paulista em São Caetano e derrota ou empate do São Bernardo em Itápolis ante o Oeste. Portanto, caso derrote o Linense, o Mirassol só cairia se os três concorrentes (São Bernardo, Paulista e Ituano) vencerem na rodada.
O São Bernardo depende de uma simples vitória em Itápolis ante o Oeste para garantir vaga na Série A do Paulista no ano que vem. Se empatar terá de torcer por um dos seguintes resultados: empate ou derrota do Mirassol ante o Linense, empate ou derrota do Ituano ante o Palmeiras e empate ou derrota do Paulista ante o São Caetano. Se perder para o Oeste, o São Bernardo só escapará do rebaixamento se o Mirassol não vencer o Linense ou se Paulista e Ituano também forem derrotados. Nesse caso, a decisão ficaria para o saldo de gols que é dramático para o São Bernardo.
O Ituano depende também de suas próprias pernas para seguir na Série A Paulista. Basta vencer o Palmeiras. Se empatar, terá de torcer por empate ou derrota do Mirassol ante o Linense ou por derrota do São Bernardo em Itápolis ou ainda por derrota do Paulista ante o São Caetano. Com 10 gols negativos contra oito gols negativos do Paulista, o Ituano só escapará do rebaixamento no caso de embate direto com o time de Jundiaí se não perder por diferença superior a dois gols em relação ao resultado do Paulista.
O Paulista de Jundiaí joga fora de casa contra um São Caetano provavelmente pouco animado por conta do rebaixamento. O empate só provocaria rebaixamento se Mirassol, Ituano e São Bernardo vencerem na rodada. E mesmo assim, no caso de Ituano e São Bernardo, se as vitórias forem por diferença de mais de dois gols para evitar possível desempate pelo critério de melhor ataque. Nesse quesito, o Paulista perde para todos os outros concorrentes que buscam fugir da queda. O Paulista também escapa do rebaixamento mesmo que perca para o São Caetano, desde que o Mirassol não vença o Linense, ou que São Bernardo e Ituano sejam derrotados.
Empate e derrota
O São Caetano do empate em Penápolis e o São Bernardo da derrota no Estádio Primeiro de Maio foram sobretudo contrastantes. Ao time do técnico interino Daniel Martine sobrou ousadia num esquema camicase doutrinado pela emergência da alternativa única de tentar superar o Penapolense para fugir do rebaixamento. Ao time de Wagner Lopes sobrou esquematismo, ou seja, excesso de cuidados táticos, além de uma tensão emocional evidente de tentar resolver a classificação antes da última rodada. O empate seria bom porque o adversário é muito mais qualificado, mas acabou desprezado com mudanças no segundo tempo, daí a derrota.
A tática do São Caetano em Penápolis foi camicase. Depois de enfrentar o Santos no Pacaembu com praticamente todo o time na defesa, o jogo no Interior foi levado ao extremo oposto. Abriu-se mão de um terceiro zagueiro, os volantes ficaram presos à marcação, mas os laterais e os demais jogadores só cuidaram do ataque. Rivaldo, Jobson, Danielzinho e Jael juntos num mesmo time não é exatamente algo que dê tranquilidade defensiva. Do outro lado, também em busca da vitória, o Penapolense não abriu mão de três volantes. A diferença é que o time do técnico Pintado tem mais mobilidade, não passou pelas transformações individuais e coletivas do adversário ao longo do campeonato e por isso mesmo disputa um lugar no G-8, enquanto o São Caetano acabou rebaixado.
Mesmo na base do tudo ou nada o São Caetano fez um primeiro tempo parelho com o Penapolense. Perderam-se oportunidades dos dois lados. O Penapolense marcou primeiro num previsível contragolpe e, surpreendente, sofreu o empate também em contra-ataque, numa das raras oportunidades em que Rivaldo foi visto um pouco adiante da linha intermediária ofensiva. No restante do jogo, até ser substituído, o craque atuou como espécie de terceiro volante, distribuindo passes e lançamentos com correção, mas sem intensidade, combate e infiltrações que mesmo os volantes de verdade do adversário repetiram durante todo o jogo.
Na medida em que o segundo tempo se desenvolvia, o predomínio do Penapolense se configurava porque o São Caetano dava sinais de desgaste físico. Mudanças foram feitas exatamente por conta disso. O Penapolense poderia ter vencido, mas o rápido e habilidoso atacante Silvinho não estava numa tarde inspirada nas finalizações, embora tenha marcado gol no primeiro tempo. O São Caetano só teve uma grande oportunidade com Eduardo, que substituiu ao cansado e isolado Jael, mas o goleiro salvou. No final, o empate decretou o rebaixamento de um time que entrou na competição para se preparar à Série B do Campeonato Brasileiro e agora começa a buscar explicações para a pior campanha estadual em todos os tempos.
Tecnologia demais?
Mais de 24 horas depois, o técnico Wagner Lopes pronunciou uma frase à TV por assinatura que sinalizava o estado de espírito do São Bernardo no confronto que se iniciaria com o Mogi Mirim: “Esse não é o jogo do ano, é o nosso jogo da historia” – exagerou o treinador sobre a importância da vitória que retiraria o São Bernardo da lista de rebaixáveis. Em campo, o São Bernardo parece ter decorado a lição de como impedir que a máquina de passes certos, de deslocamentos contínuos, de infiltrações laterais e centrais, de redução de espaço defensivo do Mogi Mirim se materializasse com toda a contundência. O problema é que o São Bernardo deixou de jogar. É verdade que parte do imobilismo ofensivo da equipe se explica pela forte marcação do Mogi Mirim. Mas também houve a submissão da coragem controlada pela cautela tática saída das planilhas tecnológicas que Wagner Lopes exalta como ferramental indispensável.
Por isso, quando o primeiro tempo terminou sem gols, o São Bernardo deveria agradecer aos céus. O Mogi Mirim foi sempre melhor, controlou o tempo todo o jogo e só não marcou porque exagerava na plástica em detrimento da letalidade e também porque o adversário não abria mão do fechamento de espaços. Mesmo dominado, o São Bernardo arranjou dois ou três lances para os melhores momentos, mas nada de ameaçasse para valer o adversário, embora pudesse ludibriar o telespectador sobre a realidade daqueles 45 minutos.
O Mogi Mirim seguia melhor no segundo tempo mas ainda sem a contundência dos ambiciosos quando o técnico Wagner Lopes fez duas substituições que rebaixaram a consistência defensiva: Kleber substituiu o volante Dudu e Gil deu lugar a Jean Carlos. Sem um dos cães de guarda dos zagueiros – o outro é Daniel Pereira -- e sem o escape ofensivo de Gil, o São Bernardo perdeu perspectivas de sustentar a inviolabilidade defensiva e também eventual escapadela em contragolpe.
Não demorou para o Mogi Mirim pressionar e encontrar espaços que pareciam indevassáveis antes. Aos 18 minutos Bruno Nunes fez 1 a 0 depois de livrar-se do zagueiro Lombardi na pequena área. Nem um chute de longa distância de Jean Carlos que o goleiro Daniel transformou em gol porque caiu tarde deixou o São Bernardo à vontade no jogo. O empate lotérico logo se desfez quando, aos 34 minutos, Val acertou uma cobrança de falta cometida em Roger e desempatou. A diferença abissal entre as duas equipes como forma técnica e conteúdo tático era razoavelmente restabelecida.
Faltou ao São Bernardo a humildade de, dominado, fazer do empate o resultado prioritário. Ao arriscar mudanças para vencer, desdenhou dos riscos de perder. Agora vai ter de correr do prejuízo na última rodada, quando tudo pode acontecer. Inclusive muitas malas brancas pelos quatro campos onde se darão as batalhas para fugir da Série B. Mala branca é o incentivo financeiro prometido para estimular resultado favorável em confronto que interessa a quem quer escapar da queda ou chegar ao título, entre alternativas classificatórias. A multiplicidade de malas brancas deverá marcar a última rodada em estreita ligação com as alternativas que se desenham.
É pouco provável que o Oeste jogará descompromissado com o São Bernardo domingo em Itápolis, assim como o São Caetano ante o Paulista. Palmeiras e Linense não precisarão de incentivo extra, porque correm atrás de seus próprios interesses: o time da Capital para chegar ao G-4 e o Linense ao G-8.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André