Não, não há erro de digitação. É São Caetino mesmo, uma fusão de São Caetano e Bragantino. O São Caetano que estreia nesta sexta-feira à noite em casa ante o Ceará na Série B do Campeonato Brasileiro é um time previsível na formação tática, por mais que o técnico Marcelo Veiga tenha escondido a equipe no Interior na fase de preparação. Como imaginar um São Caetano diferente daquele que foi concebido pelo mais longevo treinador dos últimos tempos numa mesma equipe, caso dos cinco anos de Marcelo Veiga no Bragantino? Até porque o treinador foi contratado pelo histórico de 390 jogos em que dirigiu um dos times de conceitos mais conhecidos: um sistema de marcação forte, de velocidade nos contragolpes, de poderio nas bolas paradas, de poucas firulas e de muita transpiração.
Tudo indica que será assim o São Caetano no Brasileiro deste ano. O perfil de time leve, técnico, envolvente, que fez do Azulão a maior expressão entre os times médios do futebol brasileiro na primeira década desse novo século, esse perfil está temporariamente suspenso. O surpreendente rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista desta temporada acendeu a luz vermelha do pragmatismo: é preciso privilegiar a competitividade, já que a plástica não deu os resultados esperados.
A contratação de reforços que somam um time inteiro mostra que o São Caetano cedeu às pretensões táticas de Marcelo Veiga. Vem aí um time definitivamente adepto do sistema 3-5-2, que consiste em reunir três zagueiros fortes, resolutivos, dois laterais que viram alas, dois volantes marcadores, um meia atacante criativo e dois atacantes -- um de velocidade e outro mais fixo -- prontos para incomodar. As variáveis fazem parte da banda larga ou banda estreita de alternativas, aplicadas de acordo com as circunstâncias.
Se Marcelo Veiga fizer do São Caetano um time que honre os calções no Estádio Anacleto Campanella, ou seja, que faça valer o mando de jogo, por mais que a torcida compareça de menos, já terá andado mais de meio caminho ao retorno à Série A do Campeonato Brasileiro.
Sétima tentativa de voltar
Esta será a sétima edição seguida em que o São Caetano embrenha-se no mato sem cachorro pela retomada do espaço no principal campeonato do País. Conseguirá? Se fizer bem feita a lição doméstica, provavelmente sim. Marcelo Veiga não é treinador de aceitar empate ou derrota em casa. O São Caetano presumidamente fará de cada centímetro do gramado do Anacleto Campanella uma trincheira. A força bruta, bem temperada por alguns talentos, poderá dar respostas interessantes.
Não acredito sinceramente que Marcelo Veiga seja avesso ao talento. É verdade que quem vive na roda viva de times médios, como ele, não tem ilusões. A competição cada vez mais desigual com equipes beneficiadas por repasses de dinheiro de transmissão de jogos pela TV aguça a imperiosidade de encarar a realidade sem romantismo. Por isso Marcelo Veiga empenha-se em fazer do coletivo de pouco rebuscamento técnico a salvação da lavoura, já que os principais talentos não estão mais dando sopa e quando são capturados não duram uma temporada. Quando tem em mãos jogadores talentosos, como Romarinho, Marcelo Veiga os aproveita integralmente. Mas nem isso retira o lacre de um sistema defensivo monolítico. Liberdade para um ou outro talento, portanto, não atenua o compromisso com a redução de espaço aos adversários.
Talvez seja um choque para quem está acostumado a ver o São Caetano mais técnico que valente, mas o torcedor provavelmente entenderá. Que adiantou no Campeonato Paulista um time técnico mas preguiçoso na ocupação de espaços, quando outras equipes menos qualificadas transpiraram fundo e chegaram bem mais adiante? O próprio Botafogo de Ribeirão Preto, treinado por Marcelo Veiga nesta temporada, ingressou no grupo dos oito primeiros.
Meta ousada demais?
Se ganhar mais pontos do que de costume no Estádio Anacleto Campanella o São Caetano poderá finalmente chegar à Série A do Brasileiro. Nas seis edições da Série B das quais participou seguidamente, ganhou em média apenas 55% dos pontos em casa (190 do total de 114 jogos). Fora de casa os números representam 44,44% de aproveitamento. No cômputo geral, em 228 jogos em seis temporadas, o São Caetano ganhou 50% dos pontos. Exceto no ano passado, quando atingiu aproveitamento de 62,28%, com 71 pontos, qualificando-se em quinto lugar, jamais chegou a 50%.
A classificação final no ano passado foi um feito extraordinário do São Caetano. Os 71 pontos acumulados superaram em muito o limite das temporadas anteriores que premiaram novos integrantes da Série A. Ou seja: em nenhuma das temporadas anteriores, desde o rebaixamento do São Caetano à Série B em 2006, uma equipe somou tantos pontos e não retornou à Série A. O São Caetano deixou de subir por conta de critério de desempate, já que terminou com a mesma pontuação do Vitória, que somou uma vitória a mais na temporada.
O planejamento de pontos do São Caetano nessa nova edição da Série B do Campeonato Brasileira deveria ser ousado, contemplando trajetória semelhante a da temporada anterior, com um ponto a mais na classificação. Os 72 pontos finais programáveis poderiam ser parametrizados por 80% de aproveitamento nos jogos em casa (o que significaria 45 pontos) e os demais confortáveis 27 (47% de aproveitamento) como visitante.
São números ousados, mas quem garante que não sejam necessários para subir, repetindo-se o desenho classificatório da temporada passada? Quem pode assegurar que a numeralha da Série B de 2012 venha a ser uma nova tendência de pontuação? Sinceramente, não acredito nessa possibilidade, entendo até que aqueles números foram exceção à regra de menos densidade produtiva das equipes, mas é melhor mesmo imaginar o contrário, para estabelecer uma meta mais agressiva.
Apoio dos torcedores
Certo mesmo – e daí a avaliação de que a contratação de Marcelo Veiga foi uma opção sobre a qual não se deve duvidar como a mais sensata – é que a receita do bolo parece clara: o perfil tático-técnico do São Caetano será profundamente alterado e deverá, com isso, inclusive, motivar para valer os torcedores a voltar a prestigiar a equipe. A confiança de que teremos um time que transpirará para valer e que terá alguns jogadores capazes de quebrar a rigidez forjada em treinamentos deverá pautar uma nova forma de compreender o São Caetano desse novo campeonato.
O equilíbrio gerencial do principal representante do futebol da região também não pode ser minimizado após a derrocada no Campeonato Paulista, quando só obteve duas vitórias em 19 jogos. Mesmo a imensa decepção não levou a diretoria à loucura. Tanto que a reformulação de um elenco que, antes daquela competição, parecia apropriado para afiar as garras para a Série B do Brasileiro, foi administrada sem estardalhaço público. Bem diferente do sempre citado exemplo de gestão esportiva, o São Paulo de Juvenal Juvêncio, dirigente que rifou em coletiva de Imprensa supostos sete responsáveis pelo desastre do primeiro semestre deste ano.
O São Caetano que entra pela sétima temporada em busca do passado de glórias é um São Caetano que teve a humildade de recolher-se internamente para repensar que caminho trilhar tendo como ponto de partida um treinador com um currículo coerente com o tamanho dos recursos orçamentários de que dispõe. O São Caetino de Marcelo Veiga é uma esperança de dias melhores entre outras razões porque não brinca de fazer futebol. Marcelo Veiga é um belicista sem pudores românticos, embora não se deva desconsiderar a possibilidade de puxar da cartola de guerreiros em campo algum talento capazes de complicar a vida dos adversários. Romarinho é prova disso.
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