Esportes

São Caetano ainda precisa exorcizar
trauma do rebaixamento no Paulista

DANIEL LIMA - 03/06/2013

Depois de três rodadas da Série B do Campeonato Brasileiro e às vésperas do quarto jogo (nesta terça-feira em casa ante o Atlético Goianiense) o São Caetano passou por muitas transformações, mas ainda não esqueceu o trauma do rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista. Por isso, nas três rodadas que restam antes da pausa da Copa das Confederações a missão do técnico Marcelo Veiga é árdua, porque o time está na zona de rebaixamento.


 


É claro que remeter a classificação atual à zona de rebaixamento da Série B do Brasileiro é uma forçada de barra da mídia. Afinal, são 38 rodadas no total do campeonato. Entretanto, como algumas irracionalidades do futebol viram dogmas (como a de que não se mexe em time que está ganhando) o melhor mesmo é se precaver. O intervalo à retomada da competição pode ser um novo fardo emocional para uma equipe que precisa fazer uma pausa nas dores da queda no Campeonato Paulista, retomando-as em 2014, quando disputará novo acesso.


 


A derrota no Estádio Anacleto Campanella sábado à noite por 1 a 0 (gol aos 46 minutos do segundo tempo) não é o fim do mundo para o São Caetano. A equipe demonstrou evolução em relação aos dois jogos anteriores, quando não saiu do zero a zero. O sistema defensivo melhorou acentuadamente e surpreende porque Marcelo Veiga não faz uso sistemático de três zagueiros, uma marca registrada durante os cinco anos em que dirigiu o Bragantino. O problema é o sistema ofensivo, ainda virgem na competição. Nada que não se integre à lógica do futebol: o São Caetano tem pressa demais para organizar-se no ataque, usa a força em detrimento da habilidade técnica e com isso facilita a vida dos defensores adversários.


 


Passarinho voando


 


A melhor lição que o São Caetano pode retirar do jogo em que perdeu para o combativo e atrevido Chapecoense na noite de sábado é que, além da pressa não ser o caminho mais eficiente ao gol adversário, é melhor segurar um empate desagradável em situação anormal do que tentar uma improvável vitória expondo-se demais.


 


Melhor no primeiro tempo, o São Caetano encontrou um Chapecoense sólido na marcação, com duas linhas de quatro e dois atacantes prontos para receber passes longos. Por isso o técnico Marcelo Veiga mantinha os zagueiros Douglas Grolli e Luiz Eduardo em linha, sempre protegidos pelos volantes Dudu e Leandro Carvalho. De vez em quando o Chapecoense soltava um dos laterais, um dos meias e mesmo um dos volantes, situação que levava Leandro Carvalho a atuar como terceiro zagueiro.


 


Embora os laterais Samuel Xavier e Diego jogassem livres no apoio, inclusive com Diego, muitas vezes de meia-armador, o São Caetano não chegava ao gol do time de Santa Catarina. Faltava aproximação por dentro e pelas extremas. Um excesso de lançamentos a Danielzinho sempre bem marcado e a um Jael que não executava a função de pivô também porque não tinha folga deu o tom tático monocórdio à equipe.


 


Quando o Chapecoense começou a sentir as dificuldades ofensivas do São Caetano, sob o peso de baixo entrosamento por contar com mais da metade de reforços em relação ao que terminou o Campeonato Paulista, o que se viu foi um segundo tempo preocupante. O time visitante soltou mais os laterais, os meias e até os volantes. E criou pelo menos três ótimas oportunidades em contragolpes rápidos. O São Caetano seguia a esticar lançamentos sem alcançar a contundência desejada.


 


Tentando de tudo


 


Marcelo Veiga tentou de tudo para que o São Caetano ganhasse os três pontos. A troca do lateral Samuel Xavier por Geovane foi duplamente decepcionante, porque o atacante não atuou como se imaginava, de ala, como o titular, e o Chapecoense começou a explorar o agora deserto setor direito de marcação do São Caetano. Situação que provocou desarranjos porque havia sempre algum jogador do time de Marcelo Veiga a deslocar-se para cobrir os buracos. Danielzinho voltou a procurar a bola inutilmente, porque cada vez mais tem menos espaço para arrancadas, e foi substituído sem grandes transformações por Cassiano, Eder entrou no lugar do cansado Wagner Carioca, sempre perigoso nos arremates de fora da área.


 


O gol do Chapecoense após cobrança de escanteio e cabeceio na pequena área foi consequência da ausência do zagueiro Luiz Eduardo, que se contundiu aos 33 minutos, tentou ficar no gramado mas acabou desistindo. Com 10 jogadores, o São Caetano não entendeu que a marcação foi abalada, principalmente nas bolas paradas. Luiz Eduardo é fortíssimo no fundamento. O goleiro Rafael Santos, que pouco antes fizera uma grande defesa, tentou corrigir a ausência do zagueiro e saiu indevidamente para cortar o escanteio, chegou atrasado e frustrou a todos que pretendiam reverenciá-lo melhor em campo, porque fizera quatro grandes defesas.


 


Talvez a melhor sugestão para o técnico Marcelo Veiga seja apurar o sistema de marcação e cobertura da defesa, cada vez menos vulnerável em relação à peneira do São Caetano na Série A do Campeonato Paulista, mas também deve dedicar um bom período de preparação tática para esculpir um time menos afobado e que reveze tentativas de contragolpes em velocidade, principalmente em bolas compridas, com jogadas de aproximação tanto pelas laterais como pelo meio.


 


Um time repetitivo e praticamente de uma nota só como tem sido o São Caetano automatiza a tarefa adversária de destruição. A explicação a bons resultados é pegar o adversário no contrapé, algo só possível quando não se tem a certeza de que o que vem a seguir é um lançamento longo para a corrida dos atacantes ou uma trama bem elaborada para a infiltração tanto de atacantes quanto de meias e de laterais vindos de trás.


 


Vice-campeão catarinense, o Chapecoense não é exemplo de multiplicidade tática, mas é uma boa inspiração para o aperfeiçoamento do sistema defensivo. A inspiração ofensiva pode vir quem sabe do Figueirense e do Sport, que jogaram na noite anterior em Santa Catarina e fizeram a bola rolar com muita técnica.


 


O jogo desta terça-feira em casa com o Atlético Goianiense será um novo teste para o São Caetano começar a mudar os rumos dos acontecimentos preocupantes que se iniciaram e se intensificaram no Campeonato Paulista. Nenhum gol em 270 minutos (sem considerar os descontos) é a maior prova de que a equipe ainda está à procura do eixo estrutural que não pode esgotar-se na eficiência defensiva.


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