Esportes

Depois do jogo de xadrez de sábado,
o que teremos em Itápolis amanhã?

DANIEL LIMA - 10/06/2013

Juntos, antes do jogo de sábado à noite em Bragança Paulista, São Caetano e Bragantino haviam marcado e sofrido 16 gols em quatro rodadas da Série B do Campeonato Brasileiro. O Bragantino ganhou de 1 a 0 num autêntico jogo de xadrez que foi decidido num descuido de um zagueiro do Azulão. O que esperar do jogo desta terça-feira em Itápolis, quando o São Caetano volta a campo antes de descansar três semanas por conta da Copa das Confederações? O Oeste, time da casa, contabiliza quase o mesmo número de gols marcados e sofridos por São Caetano e Bragantino na competição – 15 contra 17.


 


A pergunta pode parecer sem propósito, mas tem tudo a ver com algo que poderia ser chamado de cardápio do jogo desta terça-feira. Conseguirá o São Caetano, com o jogo coletivo acentuado a cada nova rodada, surpreender um time mais ousado e também mais descuidado, que fez oito e sofreu sete gols em cinco rodadas?


 


A resposta só vai ser possível encontrar durante o próprio jogo. E será um grande teste ao São Caetano do técnico Marcelo Veiga. A derrota em Bragança Paulista foi um acidente. O time da região mostrou que está em franca evolução. A paralisação vai ajudar muito a apurar as forças para as 33 rodadas que restarão quando a Copa das Confederações se encerrar. Afinal, nada que treinamentos tático e técnico bem apurados não acrescentem qualidades a um grupo que já deu saltos de melhoria.


 


Certo mesmo é que o São Caetano não pode se deixar levar por eventual ameaça de ficar entre os quatro últimos colocados da Série B nas primeiras 10 rodadas do campeonato – ou um quarto da competição. Até agora foram disputados apenas 13% dos pontos previstos e nada mais absurdo do que se deixar levar por catastrofismos que remetem precocemente à fuga do rebaixamento.  


 


Derrota motivadora


 


A derrota em Bragança Paulista foi muito mais motivadora quando se tem o futuro próximo como objetivo do que o empate na segunda rodada de zero a zero com o Paraná em Curitiba. Naquele jogo o São Caetano foi um amontado de jogadores a defender o tempo todo, sem arte alguma para atacar. No Interior de São Paulo o time de Marcelo Veiga jogou futebol. É verdade que ainda sem a força, sem a velocidade, sem as alternativas e a impetuosidade dos grandes times. Mas seria exigir demais. O São Caetano passou por forte reformulação e requer tempo para acertar os ponteiros.


 


Quando se considera essa mesma reformulação, a vitória de 4 a 2 na rodada anterior, ante o Atlético Goianiense, e o jogo em Bragança Paulista devem servir de referência ao rendimento da equipe no campeonato. Marcelo Veiga está dando cara, corpo e alma ao São Caetano. E, surpreendentemente, não tem tudo a ver com os cinco anos e 390 jogos no Bragantino. O São Caetano de Marcelo Veiga começou a Série B no sistema que virou sinônimo do treinador – um ortodoxo 3-5-2 bastante forte na marcação e rápido nos contragolpes – mudou para um 4-2-2-2 que de vez em quanto virava 3-5-2 e agora, ao que parece, está sacramentado no 4-2-3-1, a moda mundial. O volante Leandro Carvalho, que muitos veem jogando de terceiro zagueiro, ocupa apenas circunstancialmente a função. Foi assim com o time venceu o Atlético Goianiense e perdeu em Bragança.


 


A derrota foi um lance de esperteza associada a descuido, porque o Bragantino do técnico Wagner Benazzi jamais imprimiu ritmo de mandante. O treinador que salvou o Atlético Sorocaba de rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista nesta temporada utilizou-se da herança tática de Marcelo Veiga de forma ainda mais radical, ao adotar o 3-6-1 que reservava ao grandalhão Lincoln função exclusivamente ofensiva.


 


Havia um ambiente de enxadrismo no Estádio Nabi Abi Chedid. Sentia-se no ar a armação de arapucas mútuas. Marcelo Veiga e Wagner Benazzi não se descuidaram da marcação, da cobertura, não deram espaços a contragolpes, não tiveram pressa em aquecer o jogo. Tudo muito bem pensado. Alguém haveria de errar e o placar poderia ser mexido. Os movimentos pareciam decorados, medidos, esquadrinhados.


 


O placar foi mexido aos 30 minutos do segundo tempo, quando tudo dava a entender que não haveria gol algum, até porque jogadas contundentes praticamente inexistiram. Tudo se deu porque o São Caetano descuidou-se da marcação, preocupado com a contusão de Danielzinho, que entrou pouco antes e foi atingido pelo volante Elias. O atacante acabou substituído pelo estreante Paulo Henrique e o São Caetano se desconcentrou na marcação. Foi o suficiente para Deyvid Sacconi, que praticamente acabara de entrar, lançar da intermediária ofensiva em direção à entrada da área. Uma jogada que o Bragantino tentou repetir o tempo todo, com algum atacante entrando em diagonal, e sempre superada pela defesa. Desta feita, Douglas Grolli deixou o rápido Léo Jaime tomar-lhe a frente, dominar e bater no canto. Bastava antecipar-se e tudo estaria resolvido.


 


A reação do São Caetano foi imediata, com muita ofensividade, agressividade pelas laterais e pelo meio, mas faltavam apenas 15 minutos. Nos descontos, depois de um escanteio, Renato Ribeiro de cabeça e Jael, no rebote do goleiro, quase empataram. A derrota foi um castigo para um time que demonstrou personalidade, cadenciou o jogo, amordaçou os pontos fortes do adversário, mas não contava com um descuido individual tão grave de um zagueiro que é um dos destaques na competição.


 


Por conta da postura do Bragantino – e também do ambiente de jogar no campo adversário – era natural que o São Caetano não jogasse em Bragança Paulista com a mesma desenvoltura ofensiva da goleada que aplicara em casa no Atlético Goianiense. Faltaram mais infiltrações, Jael foi um pivô perfeito mas não teve companhia ofensiva com mais assiduidade e Geovane não conseguiu achar o melhor posicionamento. Sem contar que os laterais não avançaram tanto. Tudo dentro do script de quem precisava somar pelo menos um ponto.


 


Um outro jogo


 


O jogo desta terça-feira ante o Oeste apresenta-se completamente diferente. O time interiorano é elétrico, usa a velocidade na transposição do meio de campo, tem um repertório ofensivo mais coreográfico, mobiliza-se mais na construção de jogadas por aproximação, mas, por outro lado, está longe da rigidez defensiva e da inteligência tática do Bragantino de Wagner Benazzi.


 


Em resumo, o São Caetano terá um jogo de perfil totalmente inverso nesta terça-feira. Por isso são mais que 90 minutos que estão em jogo. Estará em análise a capacidade do time de Marcelo Veiga adaptar-se aos diferentes cenários na competição. Tão importante como dar cara, corpo e alma ao São Caetano vale muito uma projeção do que se pode esperar da equipe na imposição do ritmo que mais lhe interessa e que estaria mais de acordo com as potencialidades dos jogadores. 


 


Terminar essa primeira etapa de seis jogos com pelo menos oito pontos ganhos seria bastante razoável para o São Caetano, depois de um começo muito preocupante por conta da algazarra tática que parece ter sumido. Salvo retrocesso, os dois últimos jogos sugerem que o Azulão está ganhando forma confiável. Os resultados virão se houver suficiente calma. A mobilização intensa do Oeste é um teste de fogo para um time ainda em formação e que, portanto, não tem a mesma automaticidade de movimentos que as três semanas de interrupção do campeonato poderão acrescentar.


Leia mais matérias desta seção: Esportes

Total de 985 matérias | Página 1

05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André
26/07/2024 Futuro do Santo André entre o céu e o inferno
28/06/2024 Vinte anos depois, o que resta do Sansão regional?
11/03/2024 Santo André menos ruim que Santo André. Entenda
05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?
01/03/2024 Só um milagre salva o Santo André da queda
29/02/2024 Santo André pode cair no submundo do futebol
23/02/2024 Santo André vai mesmo para a Segunda Divisão?
22/02/2024 Qual é o valor da torcida invisível de nossos times?
13/02/2024 O que o Santo André precisa para fugir do rebaixamento?
19/12/2023 Ano que vem do Santo André começou em 2004
15/12/2023 Santo André reage com “Esta é minha camisa”
01/12/2023 São Caetano perde o eixo após saída de Saul Klein
24/11/2023 Como é pedagógico ouvir os treinadores de futebol!
20/11/2023 Futebol da região na elite paulista é falso brilhante
16/10/2023 Crônica ataca Leila Pereira e tropeça na própria armadilha
13/10/2023 Por que Leila Pereira incomoda tanto os marmanjos do futebol?
10/10/2023 São Bernardo supera Santo André também no futebol
10/08/2023 Santo André prestes a liquidar R$ 10 mi de herança do Saged