Que evolução mostrará o São Caetano na tarde deste sábado no Estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo, na retomada da Série B do Campeonato Brasileiro? As três semanas de trabalho, muito trabalho, no vácuo do calendário proporcionado pela Copa das Confederações, provavelmente terão significado especial para o time de Marcelo Veiga. O treinador que desembarcou de mala e cuia sugerindo que o São Caetano seria São Caetino, ou seja, um time de muito mais força que técnica, como o Bragantino, provou nas rodadas iniciais que a história é outra.
Sim, o São Caetano que, principalmente nas três últimas partidas, fez a bola rolar com inteligência, competitividade e controle tático, é um time surpreendente. Esperava-se evolução, mas Marcelo Veiga atropelou o tempo. Se o fez nos seis primeiros jogos, com avanços significativos entre um jogo e o jogo seguinte, certamente as três semanas que se passaram desde a categórica vitória em Itápolis ante o Oeste foram ainda mais promissoras.
Não é fácil para o comandante de uma equipe de futebol manter o foco num determinado trabalho quando o ambiente nacional de junho foi marcado por dois megaacontecimentos, ou seja, a participação vitoriosa da Seleção Brasileira na Copa das Confederações e o turbilhão nas ruas das regiões metropolitanas.
Possivelmente Marcelo Veiga e outros treinadores tiveram de redobrar esforços para evitar dispersão. Fechar-se ao mundo mais próximo que transpirou daqueles dois eventos não é tarefa simples, porque cidadania e esportividade não são filhos desgarrados como supõem intelectuais de gabinetes.
Aperfeiçoando as linhas
Tomara que o São Caetano tenha aperfeiçoado nos treinamentos vários fundamentos que Marcelo Veiga tanto preza e que tenha elevado o índice de aproveitamento técnico-tático. A sequência dos seis primeiros jogos da competição que leva à elite do futebol brasileiro mostrou um São Caetano em evolução em vários quesitos. Inclusive nas bolas paradas que tanto Marcelo Veiga preza. As cobranças de infrações na entrada da área e os escanteios tiveram melhoria. Já há jogadores definidos às operações. O zagueiro Marcelo Grolli é o executor de faltas que exigem potência e colocação. O meio-campista Danilo Bueno sabe onde encaixas a bola nos escanteios. O São Caetano deverá fazer mais gols de bola parada do que nos primeiros jogos. Mas isso é apenas parte do repertório.
Muito provavelmente assisti a quase todos os jogos do São Caetano nas últimas temporadas. O saldo final das apresentações, em média, deixou muito a desejar. Sobretudo pela intermitência de rendimento. Nenhum grupo de jogadores formado pelo São Caetano nos últimos anos, mesmo o time que chegou à porta da Série A do Campeonato Brasileiro no ano passado, me entusiasmou. Havia debilidade coletiva exasperante. A cultura de jogar e deixar o adversário jogar parecia uma praga. Trocava-se de técnico, mas as digitais eram praticamente as mesmas. A equipe não alcançava estabilidade de rendimento defensivo combinado com rendimento ofensivo. A estrutura do sistema defensivo sempre foi comprometida porque atacantes e meio-campistas desprezavam a marcação sem bola. Havia baixa combatividade.
Relatividade de forças
Essa é a transformação mais relevante no São Caetano de Marcelo Veiga. O time parece compenetrado sobre a complementaridade de funções táticas. Não existem defesa e ataque no futebol moderno, como provam as grandes equipes internacionais. Existem sistema defensivo e sistema ofensivo. Quem não ocupar mais espaços a maior parte do tempo está fadado à derrota. O São Caetano parece impregnado pelo discurso de mútua colaboração destilado por Marcelo Veiga. Certamente as três últimas semanas de treinamentos deram ênfase à doutrina da multiplicidade de funções.
Futebol só é caixa de surpresa quando visto em situações específicas, sob a circunstancialidade de um determinado jogo. No conjunto da obra, ou seja, no desenrolar de uma competição, o que se encontra na fita de chegada é o resultado lógico de uma longa jornada bem planejada ou não. O São Caetano parece organizado para uma temporada especial na Série B do Campeonato Brasileiro. É claro que isso não significa acesso garantido. Há outros 19 competidores em campo e uma dificuldade imensa de monitorá-los para traçar mapeamento seguro sobre as forças relativas que determinariam ajuizamento de valor mais apropriado. Mas o mais importante mesmo é que a equipe parece preencher os espaços que lhe competem a fim de potencializar-se a cada rodada. O jogo deste sábado contra o Avaí pode ser emblemático à retomada ascendente.
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