Esportes

São Caetano é metade acesso e
metade rebaixamento. O que fazer?

DANIEL LIMA - 22/07/2013

O São Caetano ainda não encontrou o ponto de equilíbrio tático após nove rodadas na Série B do Campeonato Brasileiro e, com isso, pode tornar mais difícil o retorno à principal competição do País, na qual, até a metade da primeira década do novo século, acumulou grandes resultados. A parada técnica da Copa das Confederações com três semanas de treinamentos atrapalhou o São Caetano. O time do técnico Marcelo Veiga vinha subindo de produção, chegara ao oitavo lugar e agora, três rodadas, dois empates e uma derrota depois, caiu para o 14º. Está ameaçado de frequentar a zona de rebaixamento já no próximo final de semana, quando enfrenta o Figueirense em Florianópolis.


 


A derrota de 1 a 0 em casa sexta-feira à noite para o Guaratinguetá revelou um time que já se incomoda com os resultados. Depois de um primeiro tempo razoavelmente bom, quando criou oito oportunidades de gol mas sofreu um contragolpe que o colocou em desvantagem no placar, o São Caetano se desintegrou no segundo tempo. Muito da queda se deve à instabilidade emocional. O time parece despreparado para assimilar um golpe. O gol do Guaratinguetá logo aos 17 minutos do primeiro tempo não chegou a abalar tanto. A confiança em virar o placar parecia identificada em cada semblante na descida aos vestiários, mas se transformou em desespero na etapa final. A queda de rendimento foi brutal e em três contra-ataques o Guaratinguetá poderia ter aumentado a diferença.


 


O técnico Marcelo Veiga tem o desafio de ajustar a equipe. Entre os 20 concorrentes a quatro vagas à Série A, o São Caetano é o que menos patrocina emoções. Em nove jogos marcou nove gols e sofreu sete. Ou seja, um total de 16 gols. Se a defesa só perde para um dos ocupantes do G-4 (O Palmeiras sofreu seis gols, enquanto o Chapecoense os mesmos sete do São Caetano), o ataque é uma decepção: só supera dois dos ocupantes da zona de rebaixamento, o ASA de Arapiraca e o lanterninha ABC de Natal, que marcaram sete e quatro gols.


 


Está na cara que há complicações estruturais a resolver o quanto antes. O time de duplo um dígito no ataque e na defesa precisa desencabular ofensivamente. Afinal, quais são os problemas do São Caetano para estar tão mal colocado na artilharia da competição?


 


Paradoxo tático


 


A concepção tática gerada por Marcelo Veiga não está na raiz das dificuldades, porque ele adota o sistema da moda, um 4-2-3-1 de viés ofensivo, com laterais que apoiam, um dos volantes que se soltam, três meias-atacantes ofensivos e um centroavante de referência. O nó está nas individualidades que afetam o conjunto da obra. O São Caetano não tem velocidade nos contragolpes, excede-se em lançamentos lotéricos, não aproveita os deslocamentos e o suporte do centroavante Jael para infiltrações e as jogadas pelas laterais carecem de triangulações em velocidade. Tudo isso foi visto principalmente durante todo o segundo tempo do jogo com o Guaratinguetá e também nos jogos anteriores, após a Copa das Confederações.


 


O São Caetano só melhorará ofensivamente se tiver mais compactação entre os setores, quando não se precipitar para construir os ataques, quando não trocar a posse de bola pelo aceleramento infundado, quando calibrar melhorar as finalizações e também quando não se desesperar com a marcação adversária na proteção aos zagueiros. Renato Ribeiro está congelado à armação e ao ataque pela esquerda, Danilo Bueno perdeu o senso de posicionamento dos primeiros jogos, Geovane e Jael precisam se aproximar mais mutuamente para que as jogadas de pivô tenham sequência e os laterais devem contar com o suporte de meias e atacantes nos apoios porque são cada vez mais vigiados. Falta mais verticalidade por aproximação e sobra profundidade inócua ao São Caetano.



Dualidade dos números


 


Por tudo isso não é obra do destino a equipe ter ficado sem marcar um gol sequer em seis dos nove jogos disputados até agora. É um índice elevadíssimo para quem quer subir e também para quem não quer sofrer ameaça de rebaixamento. Menos mal que o sistema defensivo funcione a contento. Nesse ponto, a maioria dos jogadores assimilou os ensinamentos de Marcelo Veiga e participa do jogo quando a bola está com o adversário. Ainda há ruídos na linha, com um ou outro adversário aparecendo livre pelas extremidades, principalmente quando se utiliza alta velocidade. Está faltando concentração a alguns jogadores tanto nos bons quanto nos maus momentos da equipe. Contra o Guaratinguetá, o segundo tempo foi de muito desleixo defensivo, com ataque, meio de campo e defesa distanciados demais. O adversário nem precisou jogar na retranca para ser melhor durante todo o segundo tempo. Bastou marcar com três volantes, utilizar-se do criativo Juninho na armação e manter dois atacantes prontos para dar o bote. 


 


Está faltando urgentemente ao São Caetano uma jogada que faça estragos nos adversários, até que os adversários estudem as virtudes da equipe e exijam novas iniciativas. O time que quase subiu no ano passado tinha em Danielzinho um jogador de velocidade em diagonal, a válvula de escape para surpreender os zagueiros. Há sempre defasagem de tempo entre a aplicação de uma jogada mortal e a cautela dos adversários. O tempo é mais elástico quando um time está fora dos primeiros lugares. O São Caetano precisa aproveitar a discreta campanha até agora para reagir com alguma jogada de laboratório, além das bolas paradas que todos os times organizam.


 


Talvez o mapa da mina da reação seja o centroavante Jael, menos como artilheiro e mais como arrumador de arremates de terceiros. Jael é forte, protege bem a bola mas não tem encontrado um ou dois companheiros que se intrometam por dentro ou em diagonal entre os zagueiros para aproveitar a preparação de jogadas. Um jogada convencional no futebol, é verdade, mas que, executada, pode proporcionar outras ações paralelas, com o desbloqueio das laterais para arremetidas menos congestionadas.


 


O que o São Caetano precisa deixar claro nas próximas rodadas é que não é um time condenado a poucas emoções no placar. Se o sistema defensivo tem o desempenho dos times que sobem de divisão, porque bastante eficiente, o sistema ofensivo é sinônimo de zona de rebaixamento. Essa dualidade precisa ser resolvida da melhor maneira possível e a melhor maneira possível é sustentar o poder de marcação aliando-o a uma nova etapa ofensiva. Esse time metade acesso e metade rebaixamento precisa ser dissolvido na metade que não interessa. Uma metade mais resistente, porque criar é sempre mais complexo que destruir.


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