É pouco provável mas não está descartada a possibilidade de, pela primeira vez desde que a Série B do Campeonato Brasileiro é disputada em turno e returno, 40 pontos assegurem fuga do rebaixamento. A notícia é boa para o São Caetano, penúltimo colocado com 23 pontos ao final de 24 rodadas. Ao restarem apenas 14 jogos, bastariam novos 17 pontos, ou 40,47% de rendimento. Mas o mais recomendável mesmo é buscar margem de segurança. Não há garantias de que a equipe a abrir a zona de rebaixamento, ou o 17º lugar, terá aproveitamento de 33,33% dos pontos como agora.
Uma atenta observação sobre a tábua classificatória da Série B indica que há oito equipes potencialmente ameaçadas de queda. Algumas mais que outras, evidentemente. Guaratinguetá (13º lugar) e Oeste de Itápolis (14º) totalizam individualmente 30 pontos. Um pouco abaixo com 26 pontos está o América de Natal. Um degrau depois, o Atlético Goianiense com 25 pontos. Essas equipes estão ameaçadas, mas fora do chamado Z-4. Paysandu (24 pontos), ASA (23), São Caetano (23) e ABC de Natal (20) estão no paredão.
Embora faltem 37% dos pontos a disputar, é inevitável a contabilidade para fugir do descenso, da mesma forma que as equipes no alto da classificação fazem projeções para chegar ou se manter no G-4, o grupo de quem vai disputar a Série A no ano que vem. Por isso a atenção do São Caetano está concentrada mesmo na necessidade de fugir das últimas colocações. A derrota de sexta-feira à noite no Estádio Anacleto Campanella ante o Bragantino por 1 a 0 faz uma diferença enorme. Um resultado favorável teria colocado o São Caetano na 15ª posição, com o mesmo número de pontos do América de Natal mas com vantagem no número de vitórias. Faria uma enorme diferença. Como se vê, a rodada foi ruim tanto para o São Caetano quanto para a maioria dos rebaixáveis.
Geovane, a diferença
O resultado negativo se deve principalmente ao atacante Geovane. Ele foi expulso no final do primeiro tempo depois de sofrer uma falta comum do adversário e de reagir com um pontapé. A expulsão de Geovane rachou o sistema tático preparado pelo técnico Sérgio Guedes. Pouco antes, ao perder a melhor oportunidade de todo o jogo, quando à frente do goleiro, após cruzamento de Diego e corta-luz de Jael, chutou por cima, Geovane confirmou a dificuldade de se completar como atacante. Faltam-lhe frieza e precisão nos momentos decisivos.
Sem Geovane e também sem o goleiro Luiz, que sofreu contusão no segundo tempo e deve ficar afastado até o final do campeonato, o técnico Sérgio Guedes poderá potencializar o São Caetano. Primeiro, porque Luiz está visivelmente fora de ritmo de jogo. O gol do Bragantino, logo no começo do segundo tempo, após rebote mal executado pelo zagueiro Douglas Grolli e um chute sem força do atacante Lincoln, contou com a colaboração do goleiro do São Caetano. Luiz estava mal posicionado e nem o fato de a bola resvalar levemente em Luiz Eduardo pode minimizar a falha, porque a trajetória não foi alterada. Rafael Santos, até então titular, dá mais segurança porque está atuando desde o início da temporada. Segundo, porque sem Geovane é possível que Marcelo Soares, um reforço contratado outro dia, ganhe titularidade.
Marcelo Soares é um atacante de menos movimentação mas mais contundente que Geovane. É na verdade um segundo atacante, desses que passam a dividir preocupação dos zagueiros adversários com o centroavante. Jael e Marcelo Soares, principalmente nos jogos no Anacleto Campanella, podem dar mais força ofensiva ao São Caetano. Desde que Marcelo jogue mais próximo da área e não da forma que foi escalado ante o Bragantino, vindo de trás, deslocado à direita. Um problema para quem não tem velocidade e agilidade para penetrações rápidas em diagonal.
Ataque, o desafio
Acertar o ataque é um desafio ao técnico Sérgio Guedes. Se conseguir encontrar uma boa alternativa para jogos em casa, como parece existir no aproveitamento da Jael e Marcelo Soares, restará que busque uma outra quando jogar fora de casa, quando teria de associar um atacante veloz para completar Jael, centroavante invariavelmente isolado entre os zagueiros.
O sistema defensivo parece ter mergulhado nas águas da solução. Com os volantes Leandro Carvalho e Dudu, os zagueiros e os laterais passaram a contar com anteparos. Os espaços defensivos agora são preenchidos com eficiência. O Bragantino praticamente não criou uma única oportunidade em todo o primeiro tempo. Teve de recorrer a chutes de fora da área. No segundo, por causa da expulsão de Geovane, ganhou mais liberdade. Até porque Dudu saiu aos 20 minutos por cansaço e também porque Sérgio Guedes arriscou com Eder para ganhar mais poder ofensivo.
O São Caetano já parece consciente de que não pode abrir mão do pragmatismo de somar pontos. Por isso não tem vergonha de marcar o tempo todo. A escalação de Dudu e de Leandro Carvalho torna a equipe mais previsível na armação e no ataque, mas há como surpreender o adversário. Os laterais precisam apoiar mais e os meias ancorarem triangulações pelas laterais e também por dentro. Fernandinho foi o melhor do time contra o Bragantino. Improvisado na meia-armação, o lateral-ala correu o tempo todo, preocupou-se com a posse de bola dos volantes adversários e ajudou muito na recomposição defensiva. Pedro Carmona não completou o quarteto de meio de campo com eficiência porque se movimentou pouco. Geovane aparece muito como atacante que volta até a intermediária mas a eficiência se esgota em áreas neutras.
Vencer o Oeste de Itápolis sexta-feira no Anacleto Campanella é compulsoriedade para quem não só precisa fugir do rebaixamento como também segurar um dos potenciais concorrentes. Sérgio Guedes terá uma semana inteira à preparação de um time que lutou bravamente contra o Bragantino. Equivoca-se quem entende que esteja a faltar coração e alma ao São Caetano. É tão transparente o empenho do grupo que, ao se cobrar publicamente por mais transpiração, caso do presidente Nairo Ferreira, corre-se o risco de exacerbar ainda mais o já esgarçado equilíbrio emocional que está na raiz de expulsões como a de Geovane, inexplicável e inoportuna.
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