Esportes

São Caetano pode ter encontrado
encaixe tático para o Brasileiro

DANIEL LIMA - 21/03/2014

É possível que o São Caetano tenha aprendido ou se aproximado da lição de como disputar a Série B do Campeonato Paulista e, mais que isso, encontrado uma das fórmulas para se dar bem na Série C do Campeonato Brasileiro. Pena que, pressuposto verdadeiro, a equipe não reúna condições de recuperar-se na competição estadual e disputar uma das vagas à Série A.


 


Isso é impossível, mas se o encaixe técnico-tático finalmente chegou, a fuga do rebaixamento não será uma tremenda dor de cabeça. O time que empatou em Sorocaba com o então líder da competição, São Bento, poderia até ter voltado com a vitória. As duas grandes oportunidades de gols do jogo foram desperdiçadas pelos atacantes Marcelo Soares e, principalmente, Danielzinho.


 


O São Caetano que jogou em Sorocaba foi um time inédito na competição, tanto na organização tática quanto na formação coletiva. Pela primeira vez a equipe atuou no sistema 3-5-2, que consiste em fortalecer o arcabouço defensivo e contragolpear. O São Caetano fez mais que isso em determinados períodos do jogo: manteve forte marcação e controlou o jogo também tecnicamente. Principalmente nos 20 minutos finais do primeiro tempo.


 


As novidades individuais do São Caetano incluíram o goleiro Beliatto, os zagueiros Gabriel e Cleiton, o volante Rodrigo Thyssen e o meio-campista Anselmo. Entre eles, apenas Gabriel estreou como titular na competição. Os demais recuperaram posições (casos de Cleiton e Rodrigo Thyssen), ganhou espaço de titularidade que não poderia ter perdido (caso de Paulinho, das equipes de base) e atuou em função tática diferente (Anselmo, que, de segundo ou mesmo terceiro volante, virou meia de armação).


 


Ajustes ofensivos


 


O São Caetano foi defensivamente tão bem em Sorocaba (e a medida preventiva se justifica porque o empate ante o líder seria uma façanha) que o adversário praticamente não construiu uma única jogada frontal que ameaçasse o goleiro Beliatto. O máximo a que chegou o São Bento, principalmente no terço do jogo em que teve iniciativa de ataque, foi chegar à linha de fundo ou às imediações da intermediária e alçar bolas rasantes na área. A defesa do São Caetano, especialmente Gabriel, deu conta do recado tanto nessas arremetidas quanto nas poucas vezes em que o adversário procurou penetrações em diagonal.


 


O sistema ofensivo do São Caetano não teve a mesma eficiência. O pressuposto de suprimir espaços em primeiro lugar implicou em baixa frequência no campo de defesa do adversário que, somente nos últimos 20 minutos, cedeu espaços a contragolpes. Mas mesmo criando pouco, o São Caetano não se perdeu durante a maioria do tempo: trocou passes, ameaçou com infiltrações, fez a bola girar e raramente deu chutões. Danielzinho e Marcelo Soares perderam dois gols que, filmados, integraram a galeria do Inacreditável Futebol Clube.


 


Resta saber que pito tático tocará o São Caetano no jogo deste domingo à tarde no Vale do Paraíba ante o praticamente rebaixado São José. A vitória é o único resultado que interessa, mas não necessariamente por causa da fragilidade do adversário o esquema deveria ser radicalmente alterado. Jogar com três zagueiros parece importante demais sobretudo porque Gabriel passa à condição de titular que não se entende por que deixou de ser.


 


Uma das maneiras de potencializar o ataque é reduzir o número de meio-campistas para a entrada de Janílson na lateral/ala esquerda. Quem ocupou a função em Sorocaba foi o volante Esley, sobretudo para vigiar o ofensivo lateral Veloso. O ideal é que dois atacantes sejam mantidos (começaram Marcelo Soares e Danielzinho e se terminou com Cássio e Caleb) e que a escalação de um ala pela esquerda com ordens para atacar, tendo sempre a cobertura de um volante, complete uma nova estrutura ofensiva.


 


Confundindo as bolas


 


Quem assistiu ao jogo do São Caetano em Sorocaba e desconhecesse o posicionamento a classificação da Série B não teria dúvidas em afirmar que ali estavam duas equipes com potencial de acesso. Nenhum engano. O São Caetano fez a melhor exibição na temporada ante um adversário que não é tão brilhante tecnicamente quanto a segunda colocação na competição sugere, mas é bem organizado taticamente. Sem invenções, o técnico Paulo Roberto joga na simplicidade de um 4-2-2-2 que preserva mais o lateral esquerdo às funções defensivas e explora um lateral-direito habilidoso e impactante, caso de Veloso.


 


Se não foi uma recaída em sentido metafórico, o São Caetano finalmente encontrou uma maneira de jogar fora de casa contra adversário forte, o que pode ser importante às disputas da Série C do Campeonato Brasileiro, que começam logo na sequência. Resta saber se o novo desenho tático que se espera de um jogo também fora de casa mas contra adversário que cai pelas tabelas será igualmente positivo. Quanto à forma de jogar em casa três vezes ainda na Série B desta temporada, o melhor mesmo é esperar. Mas não parece ajuizado trocar o sistema com três zagueiros quando há recursos humanos para compensar o viés defensivo com ingredientes ofensivos.


 


Como o futebol está cansado de provar, não há enquadramento tático que seja sinônimo de vitória ou de derrota. O que interessa é a compatibilidade entre os jogadores disponíveis e a melhor forma de escalá-los, levando-se em conta não necessariamente o resultado do jogo anterior, mas as condições circunstanciais e o perfil do adversário.


 


O São Caetano que foi a Sorocaba praticamente não deixou o São Bento aquecer um jogo acompanhado por um estádio quase lotado. Não teve pressa, explorou a posse de bola e não perdeu o foco em momento algum. Uma exibição que o teria levado a números bem mais efetivos na competição.


 


Pena que o São Caetano de Nedo Xavier privilegiasse só a técnica e até recentemente o São Caetano de Paulo Cezar Catanoce entendesse que Série B é apenas correria. Qualidade técnica, empenho tático, controle emocional e determinação física são os melhores ingredientes para quem quer vencer.  Qualquer que seja a competição. Os jogos que restam na Série B do Paulista podem ser um ótimo laboratório para definir o São Caetano que teremos em seguida na Série C do Brasileiro.


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