Já venho escrevendo faz um bocado de tempo que o São Caetano é candidatíssimo ao rebaixamento na Série C do Campeonato Brasileiro. Nesse período, houve mídia que publicasse insistentemente que o São Caetano reunia possibilidades de chegar entre os quatro primeiros e, com isso, passaria à etapa seguinte. Entre minhas observações que não podem ser rotuladas de céticas e as projeções sem dúvida alguma otimistas, o site Chance de Gol aparece com parafernália metodológica que chega à mesma conclusão deste jornalista: o São Caetano está com um pé na cova.
A diferença entre este jornalista e o Chance de Gol para perscrutar o futuro é que minha metodologia é simples e geralmente certeira, enquanto a do site especializado é sofisticada. A quatro rodadas do encerramento da competição o site especializado afirma que o São Caetano reúne 68,5% de possibilidades de cair. Prefiro escrever que seria melhor esperar os 90 minutos do jogo de segunda-feira em Caxias do Sul contra o Juventude.
Entre os 68,5% atribuídos ao São Caetano e os 11,1% conferidos ao Juventude como risco de queda, prefiro dizer que esses percentuais prevaleceriam somente em caso de vitória do time gaúcho no confronto direto. Se o São Caetano vencer, as possibilidades de queda praticamente se igualam. Por isso, não podem ser tão díspares antes de a bola rolar.
A pressa não me permitiu invadir os meandros metodológicos do Chance de Gol para desvendar a métrica da realidade prevista para o futuro. Sei de outras consultas que o trabalho é sério e embasado em variáveis que se complementam. Pesam vários fatores. Minha metodologia, mais simples, tem funcionado tão bem que alguns leitores chegam a imaginar que tenho pacto com alguma entidade sobrenatural.
Margem de manobra
Basicamente, minhas projeções não são sentenças definitivas. São possibilidades mais palpáveis. Diferentemente do Chance de Gol, não exagero na dose. O uso da casa decimal parece excesso para dar sustentação científica aos números, como se todo o resto, que é o entrecruzamento de variáveis, não fosse suficiente.
Já cheguei, em outras temporadas, a traduzir minhas impressões em números, mas jamais invadi o terreno decimal. Não quero e não devo parecer um cientista maluco do futebol. Acho que números redondos, que simbolizariam didaticamente a situação de cada equipe com vistas ao acesso ou ao descenso, ou mesmo ao título, passam mais credibilidade. Os alquimistas macroeconômicos costumam quebrar a cara quando querem parecer mais do que são.
As vigas mestras que me movem a construir a casa de probabilidades de sucesso ou fracasso de uma equipe numa competição estão ligadas principalmente à linha de corte. No caso da Série C do Campeonato Brasileiro, minha movimentação matemática ou aritmética sempre teve como âncora a projeção de pontos para fugir das duas últimas colocações. Caso o São Caetano houvesse feito uma campanha melhor e disputasse os primeiros quatro lugares, o conceito seria o mesmo.
Com base nisso, tudo fica mais fácil. E mesmo assim é sempre aconselhável deixar a análise sujeita a alterações, porque a base de cálculo poderá se alterar. Tanto que o índice de manutenção de uma equipe na Série C flutuou entre 20 e 26 pontos até agora. Deverá ultrapassar 22 pontos. O Guarani, antepenúltimo colocado, joga três das últimas quatro partidas em casa e parece ter se arrumado diretivamente com a queda da diretoria que tantos problemas provocava. O clube parece unido para fugir do rebaixamento. O Chance de Gol calculou que com 22 pontos têm-se 99,5% de probabilidade de fugir da queda. Com 19 pontos o índice de manutenção seria de 60%.
O Chance de Gol chega ao requinte de apontar as probabilidades de cada um dos resultados dos jogos. Por exemplo: para o jogo do São Caetano contra o Juventude, a equipe da região só reúne 13,5% de possibilidades de voltar com os três pontos, contra 38,4% de trazer um ponto e 48,1% de ser derrotada. O que me intriga são os decimais. Por mais que o trabalho dos especialistas do site deva ser respeitado, acho um risco enorme colocar o prestígio de macroestudos em cada uma dos jogos da competição.
Transparência numérica
O Chance de Gol atua com honestidade de manter à consulta dos leitores todos os resultados dos jogos e os respectivos percentuais de probabilidades apontados. Em apenas 40% das partidas realizadas até agora o Chance de Gol acertou nas previsões. Não é uma marca das mais interessantes, sobretudo porque, por exemplo, no Grupo B o Duque de Caxias virou saco de pancadas e cada jogo que disputa é um convite a apontar o adversário como vencedor.
O São Caetano não goza de muito prestígio no Chance de Gol porque faz campanha errática. No jogo disputado domingo no Estádio Anacleto Campanella, quando venceu o Madureira por 1 a 0, o Chance de Gol antecipou que empate com 34,3% de probabilidade era o resultado mais à vista. Outros 32,4% credenciavam a vitória do visitante. O São Caetano contava com apenas 33,3% de possibilidades de vitória. Ante os últimos resultados do São Caetano na Série C, o Chance de Gol errou feio na projeção.
Prometo que vou dar uma vasculhada mais detalhada no Chance de Gol. Acho preliminarmente, com indícios fortes de ser definitivamente, que o site deveria abandonar a bandeira de autoafirmação do decimal como indicativo de que seus estudos têm consistência científica.
Futebol não é ciência exata, embora todos os estudos de probabilidades que possam ser produzidos sejam bastante úteis. Inclusive para provar que futebol não é ciência exata.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André