Quanto se trata de futebol, circunstancialmente tudo é possível. Inclusive o impossível. Quem garante que, com um técnico interino, Márcio Griggio, o São Caetano não consiga o milagre de escapar do rebaixamento à Série D do Campeonato Brasileiro nas três rodadas que restam quando, provavelmente, precisará vencer todos os jogos e torcer contra adversários mais próximos na classificação? Mas, pela lógica ilógica também circunstancial do futebol, a saída do técnico Paulo Roberto dos Santos não é uma boa notícia. Da mesma forma que sua chegada, apenas na sétima rodada, foi um prejuízo e tanto.
Com Paulo Roberto dos Santos no comando do São Caetano desde o início da temporada da Série C do Campeonato Brasileiro o São Caetano não estaria na zona de rebaixamento com 15 pontos ganhos em 45 disputados, ou seja, com aproveitamento de 33,33%.
Os 12 pontos que ganhou em 27 disputados em nove jogos dariam ao time de Paulo Roberto dos Santos índice de 44,44% de aproveitamento, acima dos 42% do Guarani de Campinas, primeiro fora da zona de degola, e o mesmo tanto do Macaé do Rio de Janeiro. Ou seja: o São Caetano estaria a apenas um ponto do G-4, o grupo das quatro equipes que vão se classificar à próxima fase do campeonato.
Paulo Roberto dos Santos pediu demissão para dirigir um time da Série A do Campeonato Paulista da próxima temporada. Embora não tenha divulgado a equipe contratante, trata-se do São Bento de Sorocaba, com o qual o treinador subiu de divisão nesta temporada. Foi a campanha da equipe do Interior que levou o São Caetano a contratá-lo após a sexta rodada da Série C do Campeonato Brasileiro. A frustração com Vilson Tadei, que fizera sucesso na mesma competição paulista dirigindo o Santo André, quase igualmente classificado à Série A do Estadual, comprometeu o futuro do São Caetano na competição. Ganhar apenas três dos 18 pontos disputados num campeonato de tiro curto na primeira fase, com 57 pontos em disputa, é o pior dos mundos.
Campanha a reverenciar
Por isso a campanha de Paulo Roberto dos Santos no São Caetano precisa ser reverenciada. Ele lidou o tempo todo com o abalo psicológico do elenco atirado à zona de rebaixamento após uma queda e uma ameaça de queda consecutivas. O São Caetano, como se sabe, caiu da Série B para a Série C do Brasileiro no segundo semestre do ano passado e respirou aliviado o não rebaixamento à Série C do Campeonato Paulista na rodada final da Série B, beneficiado por resultados de terceiros.
Sem alterar profundamente a formação individual do São Caetano, Paulo Roberto dos Santos deu padrão de jogo defensivo à equipe. Faltaram, é verdade, variáveis ofensivas. O São Caetano segue sendo um dos times que menos fazem gols no campeonato (foram apenas oito em 15 jogos), mas se ainda respira possibilidades de fugir da queda é porque o sistema defensivo funcionou (sofreu 12 gols nos mesmos 15 jogos).
Paulo Roberto dos Santos raramente perde o controle tático de um jogo, mesmo quando o adversário é melhor. Controle tático em situação de inferioridade técnica e coletiva não é contradição. Um time pode sustentar vantagem no placar mesmo inferiorizado em campo. Ganhar do Guarani em Campinas por um a zero é um exemplo disso. O São Caetano jogou mais tempo na defesa, fez um gol e garantiu a vantagem. Contra o Juventude, segunda-feira, perdeu de um a zero mas não tinha saída: ficou com 10 jogadores logo aos 14 minutos do jogo, e ainda sofreu o baque da cobrança de pênalti traduzido em gol pelo time da casa.
Seguramente, Paulo Roberto dos Santos foi o treinador mais competente que passou pelo São Caetano nos últimos anos. O time ganhou padrão de jogo de viés defensivo, é verdade, mas raramente oscilou negativamente. Tivesse contado com a fartura de alternativas que o São Caetano ofereceu a tantos outros treinadores antes que vacas magras orçamentárias se manifestassem, teria deixado a equipe em situação diferente na competição.
Melhor treinador
Ser o melhor treinador dos últimos anos no São Caetano não é pouca coisa. O técnico Geninho, tão badalado, perdeu sete jogos consecutivos até ser dispensado. Marcelo Veiga chegou com fama de organizador defensivo e matador nos contragolpes e fracassou redondamente. Leão começou bem, é verdade, mas logo degringolou. Outros seguiram o mesmo caminho de infortúnio.
Agora que o São Caetano começava a dar sinais de que poderia engrenar ofensivamente, explorando as extremidades do gramado com triangulações entre laterais, meias e atacantes, Paulo Roberto dos Santos não resistiu à pressão natural de quem não pode perder a oportunidade de disputar a Série A do Campeonato Paulista. Com tempo de preparação que terá no São Bento, é possível que ganhe destaque na próxima temporada.
A fama de Vanderlei Luxemburgo do Interior não é de graça. O São Caetano de Paulo Roberto dos Santos ganhou personalidade tática que havia muitas temporadas estava a faltar. Tomara que Marcio Griggio, substituto interino, esteja abençoado e capitalize em campo o legado do antecessor.
Se escapar do rebaixamento, como teria escapado certamente se Paulo Roberto dos Santos chegasse antes, o São Caetano deverá estender agradecimentos ao treinador que se foi. Um treinador que, longe de ser gênio, é inteligentemente pragmático. E dedicado ao trabalho de esculpir um time em meio a escombros psicológicos e organizacionais de quem paga o preço de desmontes por causa do impacto de, num prazo de menos de dois anos, sair da condição de potencial integrante da Série A do Campeonato Brasileiro (só perdeu a vaga num dos critérios de desempate) para uma mais que provável inscrição na Série D. O São Caetano foi do céu ao inferno em menos de 24 meses, portanto. E ninguém mais que Paulo Roberto dos Santos para deixar duas certezas: chegou tarde demais e saiu cedo demais.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André