Em 24 de novembro de 2012 o São Caetano venceu o Guarani em Campinas por 2 a 1 e só não retornou à Série A do Campeonato Brasileiro porque perdeu nos critérios de desempate para o Vitória da Bahia e o Atlético Paranaense. Foi uma das melhores campanhas na história do principal campeonato de acesso do País. O Guarani acabou rebaixado à Série C do Brasileiro. Ontem à noite, sem entrar em campo, o São Caetano foi rebaixado à Série D do Campeonato Brasileiro pelo Guarani de Campinas, que venceu o Caxias no Rio Grande do Sul por um a zero e escapou de nova queda.
Debater o que aconteceu com o São Caetano em menos de dois anos, quando caiu da Série B do Brasileiro para a Série C no ano passado, e também foi rebaixado, ano passado, à Série B do Campeonato Paulista, não é algo que se deva fazer sob pressão. Por mais que o rebaixamento tenha sido uma caçapa cantada por quem entende que uma competição em regime de todos contra todos, mesmo subdividida em grupos, é uma construção temporal, não ocasional, o melhor que o São Caetano tem a fazer é dar uma folga a si mesmo. O futebol está repleto de exemplos de clubes que caíram anda mais na tentação de responder rapidamente a pressões de várias fontes.
Dar tempo ao tempo e, mais que isso, parar para analisar detidamente o que se pode fazer para que o futuro não agrave o presente, é a melhor resposta. O São Caetano começou bem a fase de reestruturação com a contratação do técnico Luiz Carlos Martins, especialista em acesso, ou seja, em levar equipes a divisões superiores. Luiz Carlos Martins preferiu acompanhar como observador os últimos dois jogos do São Caetano, após a demissão voluntária do técnico Paulo Roberto dos Santos. Deve ter saído satisfeito do Estádio Anacleto Campanella no começo da noite de domingo. Viu o time dirigido interinamente por Márcio Gríggio vencer o Guaratinguetá por 3 a 2. Foi uma das melhores partidas do São Caetano num campeonato recheado de decepções.
Cuidado com o andor
Um balanço geral do São Caetano é o melhor caminho para a construção do futuro. Nenhuma equipe em tão curto espaço de tempo saiu da boca da Série A do Campeonato Brasileiro e mergulhou na Série D. Há uma conjunção de fatores que devem ser pesados e relativizados. O risco é o radicalismo de medidas. O Fluminense foi campeão brasileiro em 2012, caiu dentro de campo em 2013 e nem por isso entrou em parafuso. Tanto que disputa os primeiros lugares nesta temporada da mesma Série A da qual não foi apeado porque a Portuguesa fez uma trapalhada burocrática que lhe custou a vaga sustentada dentro de campo.
O São Caetano passa por processo de mudanças desde que foi abalado com duplo rebaixamento no ano passado, para a Série C do Brasileiro e para a Série B do Paulista. A redução de custos tornou-se inevitável a uma agremiação que perdeu duas importantes fontes de receitas, as cotas da Federação Paulista de Futebol e da Confederação Brasileira de Futebol. Faltaram respostas principalmente dentro de campo nas duas últimas temporadas. Os dirigentes carregam uma parcela de responsabilidade, mas não se pode imunizar jogadores e principalmente treinadores.
O nível dos profissionais que cuidam da saúde técnica e tática das equipes no futebol brasileiro está longe do endeusamento da mídia nos dias de vitórias e de demonização na sequência de derrotas. Falta equilíbrio à identificação dos profissionais de qualidade. O emocionalismo é incentivado pela mesma mídia que pede planejamento mas cobra resultados imediatos dos dirigentes. Há técnicos de futebol que são embustes sacralizados por conta de relações muito próximas com formadores de opinião da imprensa esportiva. Cometem-se erros primários na definição das equipes, os quais são subestimados se o placar final é favorável. Há acertos ridicularizados se as circunstâncias do jogo sabotam a probabilidade em favor da surpresa.
Cuidado com a terapia
Talvez o mais importante para o São Caetano nestes próximos tempos seja ouvir com cautela os fabricantes de cenários idealizados normalmente ao sabor de interesses pessoais ou de antipatias gratuitas. Analisar o elenco de que dispõe e procurar preencher espaços técnicos e táticos de acordo com a estratégia que se delinearia para a próxima temporada de Série B do Paulista e de Série D do Brasileiro são recomendações básicas.
O time que caiu nesta temporada da Série C do Campeonato Brasileiro só contou com um jogador (Moradei) que entrou em campo contra o Guarani, em Campinas, em novembro de 2012. Qualquer semelhança com outras equipes, mais e menos poderosas, que também não se deram bem nos últimos tempos não será mera coincidência. Não custa puxar essa lembrança para evitar radicalismos típicos de tempos de vacas magras que desclassificam um elenco inteiro sem considerar nuances do futebol como o peso psicológico de uma equipe que jogou o tempo todo pressionada pelo fantasma do rebaixamento, entre tantos outros fatores.
Rebaixado dentro de campo três vezes nas quatro últimas competições de que participou, o São Caetano não pode cometer o pecado de acreditar que tudo não passa de falta de sorte, bem como não tem sentido supor que o elenco de que dispõe é completamente descartável. A próxima temporada de sucesso começa obrigatoriamente com cabeça fria, porque o mal já está feito e precisa ser combatido com terapia que não provoque efeitos colaterais mais danosos.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André