Esportes

Alex Silva seria mais útil entre
zagueiros, não como volante

DANIEL LIMA - 06/02/2015

Dez entre dez treinadores de futebol instados a observar a atuação do zagueiro Alex Silva terça-feira diante do XV de Piracicaba na função de volante vão afirmar sem medo de errar que nada teria sido mais equivocado. É claro que os técnicos não costumam dizer publicamente o que pensam, embora nos bastidores se tornem cáusticos. Edson Boaro, o treinador do São Bernardo, clube ao qual Alex Silva está vinculado, provavelmente não se deu conta da aberração, porque Alex Silva jogou o tempo todo na função. Jogou é força de expressão. Foi escalado para tal.


 


Quais são as condições desfavoráveis à escalação de Alex Silva na função de volante.


 


Primeiro, o afastamento de jogos competitivos durante os últimos 18 meses, após passagem sofrível pelo Boa Esporte de Minas Gerais e uma série de problemas de ordem pessoal, levou Alex Silva a um estágio físico-técnico abaixo da normalidade. Está completamente sem ritmo de jogo. Quem entende de futebol sabe que ritmo de jogo está para um atleta assim como a ausência de ondas para surfista e indolência para qualquer trabalhador no retorno de temporada de férias.


 


No caso de atletas profissionais o caso é mais grave porque a concorrência dentro de campo está apta a produzir o máximo. Alex Silva foi um fantasma ambulante em campo diante do XV. Só apareceu mesmo nas bolas paradas, porque parado sempre esteve com seu metro e noventa de altura. É possível que a crônica em estado crônico lhe atribuísse a marca de destaque do jogo se marcasse um gol de cabeça.


 


O melhor é jogar bem


 


Segundo, Alex Silva é zagueiro de área por vocação e também por condições biotécnicas. Os volantes não precisam ser qualificados demais na arte de controlar a bola, de observar o espaço lateral, frontal e mesmo de retaguarda, mas também não podem ser caneleiros. Os zagueiros normalmente são caneleiros, especialistas na arte de dar caneladas quando saem do arroz com feijão. Alex Silva joga a contragosto de volante, embora afirme o contrário. Para ele, após tantas decepções fora de campo que o levaram ao quarto de despejo de celebridade que caiu no anonimato após passar inclusive pela Seleção Brasileira, qualquer oportunidade será bem vinda. O que importa é estar no gramado. Um equívoco, é claro. O melhor mesmo é jogar onde sabe jogar.


 


Terceiro, Alex Silva afirma que já jogou de volante no futebol alemão. Era mais jovem, estava em forma física e as circunstâncias favoreciam o que ele mesmo, em declarações à imprensa naquele período, dizia que não passava de improvisação. Quem acreditar que Alex Silva tem alguma qualificação para atuar como volante provavelmente entende muito de turfe. Alex Silva não conta com a dinamicidade dos volantes, com o passe mesmo que curto mas persistente dos volantes, com o senso de colocação e de cobertura dos volantes, com a intuição de descobrir atalhos para interromper um passe precioso de um adversário que poderia redundar em gol como os volantes mais competentes e também não desenvolve uma combinação de técnica, velocidade, equilíbrio físico e inteligência espacial para aparecer no campo adversário e se oferecer como opção de infiltração e finalização. Tivesse tudo isso naquele tamanhão físico, não jogaria e não se tornaria um vencedor como zagueiro do São Paulo. Seria volante.


 


Como terceiro zagueiro


 


Já que parece existir imperiosidade de escalar Alex Silva no time titular do São Caetano, entre outros motivos porque o presidente da equipe é são-paulino saudoso dos bons tempos de Alex Silva no time do Morumbi – sempre como zagueiro, é bom que se reforce – por que o técnico Edson Boaro não encaminhou a lógica de montar um sistema 3-5-2 que instalasse o zagueiro entre os dois titulares que estão, convenhamos, infinitamente mais em forma do que ele? Com dois zagueiros a lhe dar suporte, Alex Silva poderia devagar, devagar, recuperar parte da eficiência perdida porque teria mais facilidades para redescobrir os espaços dos quais tem de dar conta e que estão longe do meio de campo.


 


É muito menos arriscado para o São Bernardo escalar Alex Silva entre os zagueiros, como terceiro zagueiro, do que manter no banco de reservas qualquer um dos volantes de ofício que estão em plena forma. Daniel Pereira ficou no banco diante do XV e ao entrar no segundo tempo passou a preencher um espaço frontal à defesa do São Bernardo que Alex Silva jamais soube encurtar aos adversários.


 


Será que o treinador do São Bernardo ainda não se deu conta de que no futebol o que parece ganhar formas de benemerência pode custar caro e tornar injusto o processo decisório que privilegia a fama em detrimento da dedicação? É melhor um Daniel Pereira que não passa de volante razoável para combater os adversários que tentam penetrar na área do São Bernardo do que um Alex Silva que ,além de não ser volante, não ter características de volante e de não se sentir bem como volante ainda vai levar tempo para readquirir a mecânica do futebol que a inatividade prolongada costuma enferrujar.


 


A torcida do São Bernardo precisa rezar para Alex Silva não fazer um gol de cabeça em bola parada porque assim é possível que se perpetue como volante e obrigue o time inteiro ou os meio-campistas mais próximos a se desdobrarem para compensar os espaços que ele não conseguirá preencher, os passes que não dará, as coberturas defensivas que não fará. 


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