Após a derrota de ontem à noite diante da Ponte Preta em Campinas por 2 a 0 e da combinação de resultados da Série A do Campeonato Brasileiro, praticamente resta ao São Bernardo o que de fato é o maior objetivo na temporada: classificar-se à Série D do Campeonato Brasileiro, que será disputada no segundo semestre.
Se a classificação ao mata-mata do Campeonato Paulista é bastante improvável, porque o São Bernardo está sete pontos atrás do Mogi Mirim, segundo colocado de um grupo dominado pelo São Paulo, a briga por duas vagas à Série D é muito menos indigesta. Afinal, está a apenas dois pontos do Botafogo de Ribeirão Preto e do Ituano. Também está abaixo do Red Bull (oito) e Rio Claro (sete e com vantagem em critério de desempate).
A distância é quase nada quando ainda faltam nove rodadas para o encerramento da fase classificatória. E é com isso que o São Bernardo deveria se preocupar de agora em diante, definindo estratégia de combates.
Como se sabe, concorrem às duas vagas à Série D do Campeonato Brasileira as equipes paulistas que não disputam nenhuma das divisões do calendário nacional. A lista é integrada por Botafogo, Ituano, Red Bull, Linense, Penapolense, XV de Piracicaba, Marilia, Audax e Capivariano. Por isso, sem abandonar completamente a classificação do Grupo A do Paulista, o São Bernardo precisa dar prioridade no acompanhamento da classificação dos concorrentes ao Brasileiro.
Bipolaridade repetida
Talvez por conta dessa matemática seletiva o técnico Edson Boaro devesse redefinir a estratégia do São Bernardo nos jogos que restam na Série A do Paulista. A bipolaridade mais uma vez manifestou-se no jogo de ontem e pode comprometer de vez o estado emocional do elenco. O São Bernardo enfrentou a Ponte Preta em Campinas considerando que o empate seria um bom resultado e a vitória num lance fortuito uma benção. Quando sofreu o primeiro gol no começo do segundo tempo incidiu mais uma vez no radicalismo tático: abriu-se todo para buscar o contragolpe, sofreu o segundo gol e poderia ter outros dois para sacramentar uma goleada. Perder de um gol de diferença e perder de mais gols de diferença não são a mesma coisa. Derrotas acachapantes ferem a autoestima do grupo e fragiliza os números classificatórios.
O grande problema que o técnico Edson Boaro tem a resolver, além de observar com mais atenção e cuidados os 90 minutos sem achar que um gol do adversário é o fim do mundo, está na busca de pelo menos um atacante de velocidade. Gil seria uma ótima pedida, mas está se recuperando de contusão. Sem esse atacante, o São Bernardo não encontra respostas para um sistema defensivo monolítico, como o que montou em Campinas. Explorar os avanços dos laterais ou um gol de bola parada é muito pouco. Até porque os adversários sabem cada vez mais quais são os pontos fortes da equipe. Os jogos, sempre transmitidos pela TV, são esmiuçados pelos treinadores.
Quando terminou o primeiro tempo em Campinas com zero a zero no placar o que o São Bernardo precisava fazer era rezar para a Ponte Preta seguir num jogo sonolento, de pouca profundidade. A falta de intensidade só facilitava a tarefa destrutiva armada corretamente por Edson Boaro. O São Bernardo praticamente não correu riscos durante todo o primeiro tempo, embora seja tecnicamente inferior ao adversário. Edson Boaro deixou adiantado o meia-armador Cañete, que aos poucos melhora o condicionamento físico e técnico, e também o centroavante Lúcio Flávio. Com a posse de bola o São Bernardo adiantava sempre um lateral e também Jean Carlos, efetivado como titular para explorar os chutes fortes de fora da área.
E tudo desandou
Tudo desandou no segundo tempo quando a Ponte Preta marcou antes dos 15 minutos em jogada de laboratório, de cobrança de falta da esquerda em diagonal rumo à pequena área. Aí o técnico Edson Boaro saiu mais uma vez do oito para o oitenta. Substituiu ao longo do período o volante Daniel Pereira, o meia-atacante Jean Carlos e o centroavante Lúcio Flávio pelos atacantes Wanger, Hernan e Magrão.
O São Bernardo chegou a contar com dois centroavantes quando o grandalhão Magrão enfiou-se entre os zagueiros e Lúcio Flávio foi deslocado à direita do ataque. Um período de jogo inútil para o São Bernardo. Lúcio Flávio não tem velocidade para jogar pelas extremidades e já estava esgotado fisicamente. A retirada de Daniel Pereira da frente dos zagueiros abriu uma porteira aos atacantes da Ponte Preta. Marino, recuado em seguida à função, tem dificuldades em encaixar posicionamento como primeiro combatente.
Por isso a Ponte Preta poderia até ter goleado um adversário que, até sofrer o primeiro gol, não passara por grandes apertos defensivos. Ou seja: o São Bernardo tem imensa capacidade de desintegrar-se taticamente durante os jogos. Foi assim contra o Santos, uma semana antes.
Pauta obrigatória
A constatação de que apesar dos pesares o São Bernardo está vivo na disputa pela Série D do Campeonato Brasileiro deveria ser pauta obrigatória dos jogos que restam na competição. No ano passado, após as mesmas seis primeiras rodadas, o São Bernardo somava 10 pontos. Estava em segundo lugar entre os times que concorriam à Série D, atrás apenas do Botafogo de Ribeirão Preto. Ao priorizar uma vaga ao mata-mata do Paulista o São Bernardo se deu mal e perdeu a classificação ao Brasileiro para o Ituano, que se consagrou campeão paulista daquela temporada, e também para o Botafogo. As duas equipes totalizaram 28 pontos, contra 23 do São Bernardo, que ficou em terceiro lugar.
Tudo indica que com menor pontuação será possível chegar à Série D do Brasileiro nesta temporada. Restaria ao São Bernardo colocar a cabeça no lugar, largar de vez a classificação à próxima etapa do Paulista e pensar estrategicamente na passagem à competição nacional do segundo semestre.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André