O clássico deste sábado à tarde no Estádio Bruno Daniel entre o Santo André e o São Caetano pela Série B do Campeonato Paulista promete ser praticamente decisivo às pretensões do mandante e fortalecedor ao visitante. Depois de sete rodadas, o São Caetano lidera o campeonato com 17 pontos ganhos, um à frente da Ferroviária de Araraquara. A retomada da liderança se deu porque o São Caetano goleou sábado o Monte Azul no Estádio Anacleto Campanella por 4 a 1 e a Ferroviária, algumas horas depois, perdeu fora de casa para o Batatais por 1 a 0. O Santo André foi goleado em Sorocaba pelo Atlético por 4 a 0.
O clássico definirá a sorte do Ramalhão na competição. Se vencer, entra na briga por uma das quatro vagas. Se perder, vai correr praticamente para fugir da zona de rebaixamento. Já o São Caetano dará passo enorme rumo à classificação se somar mais três pontos e seguir como único invicto.
O que poderia embalar o Santo André a acreditar em reviravolta no campeonato é que no ano passado, quando a fórmula de disputa foi introduzida, somava igualmente apenas 10 pontos em sete rodadas. Ao final de 19 rodadas chegou muito próximo da classificação à Série A, com 35 pontos -- apenas um atrás do quarto colocado Marília. Repetir aquela reação, que significou aproveitamento de 70% dos pontos que restavam, seria pouco provável a uma equipe em estágio técnico e coletivo inferior ao da temporada passada. As goleadas diante do Água Santa por 4 a 2 e do Atlético Sorocaba por 4 a 0 são emblemáticas.
Já o São Caetano faz campanha que restaura parcialmente o prestígio de grande sensação do futebol brasileiro na primeira década deste século. No ano passado, ao final de sete rodadas da Série B, a equipe contabilizava apenas nove pontos. E após 19 rodadas, totalizou somente 19 pontos. Ou seja: se vencer o clássico do final de semana terá somado em oito rodadas mais pontos do que em todo o campeonato de 2014.
Mandantes mandam
A rodada do final de semana da Série B do Campeonato Paulista registrou o maior número de vitórias dos mandantes: foram oito nos 10 jogos. Além da vitória do São Caetano sobre o Monte Azul por 4 a 1 e do Atlético Sorocaba sobre o Santo André por 4 a 0, o Batatais venceu a Ferroviária por 1 a 0, o Velo venceu o Matonense por 1 a 0, o Comercial venceu o Guaratinguetá por 2 a 1, o União Barbarense venceu o Rio Branco por 1 a 0, o Independente de Limeira venceu o Mirassol por 1 a 0 e o Guarani venceu o Catanduvense por 1 a 0. A única derrota de mandante foi do Paulista de Jundiaí ante o Oeste de Itápolis por 3 a 1. E o único empate foi conquistado pelo Água Santa de Diadema diante do Novorizontino no Interior.
O Oeste de Itápolis é o único integrante do G-4 da Série B (equipes que subirão à Série A) que jogará em casa no final de semana: vai enfrentar o Batatais. Além de o São Caetano jogar em Santo André, a Ferroviária enfrenta o Mirassol no campo do adversário e o Independente joga com o Água Santa com mando da equipe de Diadema, possivelmente na Rua Javari. O São Caetano é a única equipe que não corre risco de deixar o G-4, mesmo que seja derrotada pelo Santo André. Ferroviária, Independente e Oeste podem ter vagas ocupadas pela concorrência.
Goleada sem esforço
A goleada que o São Caetano aplicou no Monte Azul por 4 a 1 no Estádio Anacleto Campanella não foi consequência de massacre impiedoso. O time de Luiz Carlos Martins jogou com esforço comedido e, ao contrário de outras partidas, até se deu ao luxo de oscilar rendimento ao sentir que poderia relaxar diante de um adversário que não jogou retrancado demais, num 4-4-2 de combatividade pouco intensa.
Mesmo quando deixou o adversário tomar supostamente as rédeas da partida, logo após sofrer o primeiro gol após ter marcado três, o São Caetano sugeria que o fazia de propósito, pronto para criar condições de contra-ataque. Quando o Monte Azul ficou com 10 jogadores, após a expulsão do lateral Rafael aos 34 minutos do segundo tempo – o São Caetano decidiu acabar com a brincadeira de se fazer de defensivo e imprimiu ritmo suficiente para marcar o quarto gol.
Dificilmente se elege o melhor em campo num jogo terminado em goleada que não seja o artilheiro que tenha balançado a rede três vezes. O centroavante Diogo Acosta fez três gols com estilo, o primeiro dos quais com muito estilo, aliás, mas o melhor jogador no Anacleto Campanella foi o meia-atacante Wesley. Seria exagero relacionar a chuva ao seu futebol, mas foi excepcional na movimentação por todos os lados do campo ofensivo, na criação de espaços, nos passes precisos e até mesmo na marcação de um dos meio-campistas adversários, participando ativamente do processo de destruição.
Wesley chegou ao São Caetano debilitado fisicamente e quando estava entrando em forma sofreu contusão. Contra o Monte Azul parecia inesgotável. Ele joga com mais liberdade ofensiva do que Neto, que sai de trás para empurrar o adversário campo defensivo adentro. Neto apareceu menos aos olhos do torcedor, mas foi fundamental ao equilíbrio do sistema 4-2-3-1 adotado pelo técnico Luiz Carlos Martins, com variantes ao 4-4-2 durante o jogo. Xuxa, o outro jogador responsável pelo equilíbrio entre marcação e construção de jogadas, foi mais discreto que em outros jogos. Mas sempre efetivo.
Prevendo o clássico
O jogo com o Monte Azul foi resolvido no primeiro tempo com os dois a zero anotados aos 19 e 24 minutos. Por isso o técnico do São Caetano tirou Neto, autor do segundo gol, durante o intervalo. O São Caetano voltou com Arthur na lateral-direita e empurrou o lateral Ângelo para jogar como atacante pela direita. Neto ficou de fora porque recebeu o terceiro cartão amarelo e não poderá enfrentar o Santo André. Luiz Carlos Martins aproveitou os 45 minutos finais para ensaiar a escalação contra o Santo André. Com Ângelo o São Caetano ganha mais profundidade pela extrema, mais infiltração na diagonal, mas perde em densidade de jogo por dentro, e também em marcação na saída de bola, além de um finalizador mais contundente.
O resultado diante do Monte Azul mostrou que o São Caetano é um time em construção permanente. Não dá espaço a improvisações. O técnico Luiz Carlos Martins é dogmático na filosofia de organizar um edifício sem desconsiderar que a operação tijolo-por-tijolo é prova de sensatez. As alternativas individuais se consolidam. O jovem Clebinho, elétrico na movimentação, sempre entra nos 15 minutos finais para dar mais dinamismo ofensivo. E incendeia os companheiros.
A escalação do time titular do São Caetano pode ser repetida sem sustos por qualquer torcedor que acompanha os jogos. Luiz Carlos Martins sabe que a regularidade nos resultados é o subproduto mais evidente dos cuidados durante a semana da preparação e do equilíbrio na hora de definir o grupo que entra em campo. Sem provocar estresse nos titulares e sem causar desestimulo aos reservas imediatos.
Quem procurar defeitos no São Caetano acabará por encontrar. Ainda há compactação deficiente entre os setores em determinados momentos dos jogos, a pressa de articulação ofensiva na retomada de bola poderia ser objeto de reparos e as infiltrações centrais dependem demais de poucos jogadores porque os volantes Esley e Ferreira (sábado jogou Leandro Carvalho porque o titular não poderia ser escalado contra o clube que o revelou) não penetram com constância. Mas nada disso interdita a possibilidade de acesso à Série A Paulista da próxima temporada porque, finalmente, o São Caetano tem uma cara definida de time de futebol.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André