Esportes

Um clássico de duas escolas e de
perspectivas definidoras na Série B

DANIEL LIMA - 06/03/2015

O clássico deste sábado à tarde no Estádio Bruno Daniel entre o Santo André e o São Caetano pela Série B do Campeonato Paulista mostra o quanto as duas equipes se transformaram desde a temporada do ano passado. Não nos últimos três meses como escrevi na primeira versão deste texto. Em abril, na última rodada do campeonato de 2014, o Santo André venceu o São Caetano por 3 a 1 no Estádio Anacleto Campanella e ficou a um ponto apenas do acesso à Série A. Já o São Caetano escapou por pouco do rebaixamento à Série C. Neste sábado o São Caetano defende a liderança invicta enquanto o Ramalhão joga o futuro na competição. Qualquer resultado que não seja a vitória poderá colocar a equipe mais distante do G-4. Além do contraste ditado pelo tempo, São Caetano e Santo André também são antagônicos na forma de atuar: o Azulão é mais incisivo, mais vertical, mais força, mais conjunto, enquanto o Santo André é mais clássico e faz da posse de bola a principal arma.


 


Somente o fato de se tratar de um clássico, definição que costuma equilibrar as probabilidades de vitória por mais que os números antecedentes sejam favoráveis a uma das equipes, explicaria a perspectiva de um jogo sem prognóstico de favoritismo do São Caetano. Não fosse o rótulo de que clássico é clássico e por ser clássico tudo pode acontecer, o São Caetano seria dado como potencial vencedor. Mesmo considerando-se que o Santo André promove a estreia do técnico que quase o levou ao acesso no ano passado.


 


Vilson Tadei ocupa o posto que até a rodada do final de semana foi de Ivan Izzo, seu auxiliar na temporada passada. Os quatro a zero contra o Atlético em Sorocaba foram demais para a paciência da direção do Santo André. Não bastassem os quatro a dois ante o Água Santa de Diadema na rodada inicial.  


 


A expectativa do Santo André é que com Vilson Tadei e grande parte dos jogadores que atuaram na campanha quase consagradora do ano passado o Santo André reencontre o equilíbrio entre o jogo leve e solto e os cuidados defensivos que estão a faltar nesta temporada. Tanto que em sete jogos o Santo André sofreu 11 gols e se converteu no quarto pior índice entre os 20 participantes.


 


Já o São Caetano conta a defesa menos vazada até agora, com apenas quatro gols sofridos. E no ataque a vantagem também é do São Caetano, com 14 gols anotados (o melhor do campeonato ao lado do Água Santa), enquanto o Santo André fez nove.


 


Objetividade versus dispersão


 


Se o passado recente não deixa dúvidas que o São Caetano está mais bem organizado que o Santo André, seria natural maior dose de probabilidade de vitória do Azulão no clássico de amanhã. Entretanto, por mais que os números não mentem e por mais que há um fosso entre as duas escolas aplicadas, a do São Caetano de objetividade voraz e a do Santo André de excessos de dispersão, o melhor mesmo é esperar pelos 90 minutos.


 


Mesmo desfigurado em relação ao ano passado o Santo André que Vilson Tadei colocará em campo neste sábado deverá recuperar parte do equilíbrio tático que surpreendeu a maioria dos adversários que davam a equipe como eliminada de qualquer projeto de acesso em 2014. Com pequenas alterações, sobretudo no fortalecimento do sistema defensivo frouxo demais e no aumento do ritmo ofensivo, Vilson Tadei poderá dar mais segurança ao Santo André, mesmo sem atingir o índice de eficiência do ano passado.


 


E que eficiência!. Quando chegou para dirigir o Santo André no ano passado Vilson Tadei pegou uma equipe com apenas 45,8% de aproveitamento em oito jogos disputados, sete gols marcados e oito sofridos. Onze rodadas depois, o Santo André alcançou 61,4% de aproveitamento, marcou outros 18 gols e sofreu apenas nove. Ou seja: com Vilson Tadei o Santo André registrou 75,75% de aproveitamento, margem que asseguraria o primeiro lugar na classificação geral caso as oito rodadas iniciais fossem desconsideradas.


 


Mudanças viscerais


 


As mudanças no São Caetano foram viscerais. Do time que enfrentou o Santo André na última rodada da Série B do ano passado não sobrou como titular um único jogador. A reformulação completa adaptou o novo orçamento do clube à experiência do técnico Luiz Carlos Martins, um especialista em estruturar elencos vitoriosos na divisão de acesso. Luiz Carlos Martins é espécie de Tite do Interior. Trabalha com intensidade no dia a dia tanto jogadas de laboratório quanto fundamentos técnicos e mantém o ambiente saudável, sem privilégios e favoritismos. Quem conhece o cotidiano do Azulão diz que Luiz Carlos Martins é unanimidade entre titulares e reservas.


 


A organização tática que o São Caetano exibiu nos primeiros jogos da Série B é uma sequência evolutiva que não deixa dúvidas sobre o empenho com que o treinador se dedica à montagem de alternativas técnicas e táticas. Quem procurar um São Caetano com posse de bola vai ficar surpreso porque essa não é a premissa de Luiz Carlos Martins nesse início de trabalho na equipe. Há jogadas preparadas e executadas com simplicidade e letalidade.


 


A entrada do centroavante Diogo Acosta, artilheiro do campeonato com sete gols, definiu de vez um sistema tático que dá liberdade aos laterais, segura os dois volantes, abre os meias que também têm a missão de infiltrações centrais e coloca nos pés e na inteligência espacial de Xuxa o poder de conexão entre o meio de campo e o ataque.


 


Em resumo, o São Caetano ainda não é um time que encanta. Nesse ponto, perde para a fluidez de movimentação e mobilidade do Santo André no campo de ataque. A diferença é que o Santo André destes tempos ensaia demais e finaliza de menos. O São Caetano é o reverso dessa partitura.


 


Quem for ao Estádio Bruno Daniel não ficará frustrado ao encontrar duas escolas do futebol brasileiro. Se há dúvida se prevalecerá a leveza agora em fase de reconstrução do Santo André ou o sincronismo de laboratório do São Caetano, pouco importa. O mais importante mesmo é que é muito provável que o nível de competição será elevado. Clássico é um momento muito especial no futebol. Sem contar que nessa oitava rodada de 19 previstas repousa a convicção de que o vencedor terá um campo de perspectivas bastante favorável. O São Caetano encaminharia mais consistentemente o acesso. O Santo André poderia passar a acreditar que a história do ano passado poderia se repetir. 


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