O São Bernardo que perdeu de um a zero ontem à noite para os reservas do Corinthians em Itaquera confirmou ser um time dividido e como todo time dividido não tem muito futuro. O time de Edson Boaro dividiu-se mais uma vez entre um sistema defensivo razoavelmente apetrechado e um sistema ofensivo sofrível. Somente no segundo tempo, quando algumas mudanças foram feitas e o Corinthians se acomodou, o São Bernardo mudou de figurino: passou a ser um time menos frágil no sistema ofensivo e menos compacto no sistema defensivo. Conclusão: por não ser uma equipe no sentido lógico do verbete, o São Bernardo amarga a zona de rebaixamento da Série A do Campeonato Paulista. Pode ir para a Série B do ano que vem com um dos melhores indicadores defensivos. E certamente o pior ofensivo.
A ideia de que os números detalhados de uma classificação revelam o poderio ofensivo e o poderio defensivo de uma equipe não pode ser desprezada como indicador do conjunto. Cada vez mais o futebol é a arte de multiplicação, de marcar e construir preferencialmente com equilíbrio. O São Bernardo não sabe atacar quando se defende e não sabe se defender quando ataca. Só poderia dar no que está dando.
Seria mesmo demais esperar que o São Bernardo somasse algum ponto no enfrentamento com o Corinthians recheado de reservas mas muito superior em tudo, mesmo com deficiências coletivas da falta de maior entrosamento. O que se poderia sugerir ao técnico Edson Boaro é que, sem abandonar o sonho de ganhar um ou três pontos, a equipe usasse o jogo na Capital para enfrentar o Rio Claro, no final de semana no Estádio Primeiro de Maio.
Jogo de seis pontos
Esse é o jogo que mais interessa ao São Bernardo. Uma vitória levaria a equipe a deixar a zona de rebaixamento para o Rio Claro, sem se preocupar com qualquer outro resultado da rodada. Se não vencer o time do Interior, as cinco rodadas restantes do campeonato vão ser ainda mais dramáticas. Na rodada seguinte o adversário será o Palmeiras.
Provavelmente o melhor que o São Bernardo fez – e mesmo assim com a colaboração do goleiro Cássio – foi um chute do meia-atacante Jean Carlos no final do jogo, da entrada da área. O goleiro corintiano caiu tarde e só não engoliu um frango porque a bola, na sequência, bateu na trave. Fora isso, nenhuma outra jogada contundente ou tramada foi contabilizada ao pobre acervo ofensivo.
Nada que não fosse esperado. O São Bernardo jogou todo o primeiro tempo com preocupação defensiva em excesso, com quatro jogadores de marcação e uma saída de bola sem arte e velocidade, com Marino e o centroavante Lúcio Flávio. No segundo tempo, com Vanger e Jean Carlos, o time de Boaro respirou um pouco na frente. Mas bastou Tite reforçar a marcação com a retirada de Ralph do banco de reservas para que os espaços se fechassem. Até o chute de Jean Carlos. Já o Corinthians, preguiçoso no segundo tempo, como afirmou Cristian ao final do jogo, teve apenas algumas oportunidades. Até que preferiu resguarda-se e economizar energias.
Falta velocidade
O técnico Edson Boaro justificou antes do jogo com razão que o sistema ofensivo sofre com a perda de vários jogadores. Só não explicou que Danielzinho e Gil, contundidos, poderiam mudar o histórico da equipe no campeonato porque têm velocidade para puxar e completar contragolpes. O São Bernardo é um time sem opção de jogadas rápidas. Até os laterais, que nos primeiros jogos deram substância a jogadas em profundidade, perderam força e fôlego. Eles estão sendo mais vigiados de perto pelos adversários.
Resta saber qual vai ser o comportamento da equipe contra o Rio Claro. O empate de cinco a cinco no ano passado no Estádio Primeiro de Maio foi -- ao contrário dos simplistas que acreditam que jogo de qualidade é necessariamente jogo de muitos gols -- uma pelada tática proporcionada por treinadores que não souberam garantir a vitória quando suas equipes contavam com dois gols de vantagem.
Qualquer vantagem parcial no jogo do final de semana poderá ser decisiva. Desde que o São Bernardo encontre o eixo tático que faz questão de descartar ao longo de cada 90 minutos. Um efeito-tobogã que convida ao rebaixamento inimaginado antes da competição, quando só se falava em uma das vagas para a Série D do Campeonato Brasileiro.
Situação crítica
Apenas duas das equipes do integram o G-12 da Série A do Campeonato Paulista estão abaixo do São Caetano na classificação geral. G-12 é o agrupamento de equipes que disputam duas vagas à Série D do Campeonato Brasileiro, no segundo semestre. O sonho de consumo do São Bernardo antes de o campeonato começar. Vai ser preciso recuperação extraordinária para retomar a expectativa da Série D.
Talvez seja melhor cuidar da zona de rebaixamento, da qual faz parte como 17º colocado com oito pontos ganhos, dois a mais que Bragantino e Linense e cinco acima do pobre Marília. Para chegar à Série D o São Bernardo precisa ultrapassar nove concorrentes. Audax e Ituano são os mais indigestos, porque já somam 13 pontos.
No ano passado, quando ficou fora da Série D, o São Bernardo somava 15 pontos nas mesmas nove rodadas desta temporada.
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