O Estádio Primeiro de Maio foi palco de épicas jornadas do movimento sindical a partir da revolução no chão de fábrica comandada pelo então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula da Silva. Fonte de oxigenação de rebeldia contra o empresariado então mal-acostumado com relações trabalhistas protegidas pelo Regime Militar, o estádio virou espécie de ícone do movimento sindical. Agora, três décadas depois, reformado e modernizado, deveria chamar a atenção da mídia internacional. Afinal, o público que apoia o São Bernardo na Série A do Campeonato Paulista tem a magia de esconder-se aos olhos dos mortais. A maioria dos torcedores é fantasma. Só aparece no borderô da Federação Paulista de Futebol. O que se pergunta é simples: por que o São Bernardo infla os resultados da bilheteria em contraponto à baixa presença de torcedores?
No jogo de domingo contra o Botafogo de Ribeirão Preto, e nos jogos anteriores contra outras equipes pequenas, o público médio no Estádio Primeiro de Maio não chegou a 1,5 mil torcedores. A gravação dos jogos está disponível para mostrar que as arquibancadas estavam praticamente vazias. Bem diferente de outros tempos em que o São Bernardo colocava mesmo por volta de cinco, seis, sete mil torcedores no estádio. A maioria de graça, com farta distribuição de ingressos pagos por empresas apoiadoras da equipe, sempre com o suporte da Prefeitura petista.
Time partidário
O São Bernardo é um time partidário porque a burrice dos dirigentes é maior que a previdência de enxergar o Município sem contaminar-se com as cores do PT. Até a camisa 13 foi aposentada em homenagem ao então presidente Lula da Silva. O mesmo 13 designa uma torcida organizada que não passa de gatos pingados.
As 6.269 pessoas que ocuparam as arquibancadas e as numeradas do Estádio Primeiro de Maio sábado à noite para ver o São Bernardo vencer o Botafogo por um a zero só existem mesmo no borderô da Federação Paulista de Futebol. As informações estão no boletim financeiro oficial do jogo. A renda alcançou R$ 95.055,00. Há uma especificação no documento da FPF que abre a possibilidade de o São Bernardo oficializar a torcida fantasma como algo que não lhe causaria qualquer problema, como se a transmissão dos jogos se limitasse ao gramado. Os ingressos fariam parte de pacotes especiais, adquiridos antecipadamente. Ou seja: o clube vendeu os ingressos apontados.
Como o público não chegou a 1,5 mil torcedores sábado à noite, houve nada menos que 66% de ausência em relação aos dados oficiais. Um resultado completamente fora de parâmetros de sistemas análogos de compra antecipada, cujos índices não ultrapassam a 10%. Ou seja: de cada 10 torcedores que garantem lugar antecipadamente nos jogos de Corinthians e Palmeiras, por exemplo, apenas um não comparece. No São Bernardo, de cada 10 quase sete não deram as caras.
A pergunta que se faz nestas alturas do campeonato é a seguinte: por que o São Bernardo faz questão de produzir borderôs completamente fora da realidade? Qual é o interesse em jogo se, quanto maior a arrecadação, maiores são os descontos fiscais? A Federação Paulista de Futebol e o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) recebem 5% cada da renda bruta. Outras despesas são contabilizadas. Para se ter ideia mais precisa, da renda anunciada de R$ 95.055,00, o São Bernardo ficou com apenas R$ 60.298,88.
Vizinhança explicaria fenômeno?
Para quem tem a mania de colecionar números, quando se recorrer aos dados do São Bernardo no Estádio Primeiro de Maio o que saltará dos arquivos será a dopagem deliberada que desfigurará os fatos. É possível que essa prática tenha sido exercitada nas edições anteriores de participação do São Bernardo na Série A do Campeonato Paulista, quando o público médio era flagrantemente maior mas nem por isso menos sujeito a reparos.
O mínimo que se espera da direção do São Bernardo Futebol Clube, principalmente porque o presidente Luiz Fernando Teixeira é deputado estadual, são explicações à enxurrada de fantasmas no mesmo local onde no passado os metalúrgicos reuniram milhares de trabalhadores de carne, osso e muita determinação para mudar as relações trabalhistas no chão de fábrica. Desconfia-se que a justificativa para tamanho disparate seja a invasão de um vizinho tão conhecido como o Estádio Primeiro de Maio, no caso os moradores do Cemitério de Vila Euclides.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André