Nem se compara o currículo do São Caetano com o do Água Santa de Diadema. O Azulão, sensação nacional no começo deste século, está em 43º lugar no Ranking da Confederação Brasileira de Futebol. O Água Santa jamais participou de uma competição nacional. Mas quem for nesta quarta-feira ao Estádio Distrital do Inamar verá um jogo em que o favorito é o time mandante sem muita história para contar. Quem perder os três pontos dificilmente conseguirá chegar ao G-4, o grupo de acesso à Série A do Campeonato Paulista da próxima temporada. Água Santa e São Caetano têm o mesmo número de pontos (26) e estão a apenas um ponto dos dois times que ocupam a terceira e a quarta colocações (Novorizontino e Independente), mas o time de Diadema está muito melhor que o adversário.
A tomada geral da classificação da Série B do Campeonato Paulista favorece equívoco de interpretação. A igualdade de pontos entre Água Santa e São Caetano esconde o declínio do time visitante e o fortalecimento do mandante. Nas últimas sete rodadas o São Caetano deixou a liderança que ostentava e caiu para o sexto lugar. O Água Santa saiu do oitavo para o quinto. Mas isso não quer dizer muita coisa. O detalhamento desse período é emblemático ao favoritismo do Água Santa.
O time de Diadema ganhou 15 dos 21 pontos que disputou no período, com aproveitamento de 71,42% dos pontos. O São Caetano ganhou apenas 42,85%. Se o campeonato tivesse começado a partir da sétima rodada o Água Santa estaria em segundo lugar na classificação, juntamente com a Ferroviária de Araraquara e o Mirassol, e atrás apenas do Novorizontino, que ganhou 16 dos 21 pontos, com aproveitamento de 76,19%.
Retrato e filme
O que o retrato classificatório da Série B indica o filme da competição esclarece. Entre as 10 equipes que ainda lutam por uma das quatro vagas de acesso à Série A, o São Caetano é a que apresenta aproveitamento mais baixo nos últimos sete jogos. A campanha nesse trecho assemelha-se aos índices gerais de equipes que, no conjunto da competição, ocupam posições intermediárias, sem possibilidades de acesso.
O São Caetano só está na disputa por uma vaga porque os sete jogos iniciais foram excepcionais. Ganhou 81% dos pontos, com cinco vitórias, dois empates e nenhuma derrota. Marcou 14 gols e sofreu quatro. Nos últimos sete jogos ganhou apenas 42,85% dos pontos, com duas vitórias, três empates e duas derrotas. Marcou apenas seis gols e sofreu quatro.
Afinal, o que se passa com o São Caetano que, de favorito a uma das vagas, agora se vê ameaçado de esperar mais um ano para voltar à Série A? A resposta é que o sistema ofensivo não funciona à altura do sistema defensivo. O técnico Luiz Carlos Martins até fez experiências ao trocar o sistema 4-2-3-1 pelo 3-5-2 domingo contra o Matonense e também em outros jogos. Nada deu certo. O São Caetano conta com o artilheiro da competição, o centroavante Diogo Acosta, com 10 gols, mas ele joga isolado demais. O sistema 4-2-3-1 não conta com um segundo atacante de velocidade e profundidade. Xuxa é articulador, Wesley atua de costas para os zagueiros e Neto sai de trás, onde os volantes, sempre fixos, cuidam da defesa. Os laterais têm dificuldades para virar alas. Ângelo é o mais apropriado à função, mas tem errado demais nas finalizações.
Tropeços em casa
Os tropeços do São Caetano no Estádio Anacleto Campanella, onde ganhou 10 dos 21 pontos que disputou, com aproveitamento de apenas 47,62%, são a prova de que a equipe de Luiz Carlos Martins não encontrou a embocadura esperada. Robson é uma das melhores opções para dar mais agressividade ao ataque, mas tem sido pouco utilizado e ainda por cima foi abatido por dengue. Clebinho também tem velocidade e infiltração, mas só é escalado no segundo tempo, e mesmo assim com pouco tempo para mudar o jogo.
O São Caetano das últimas rodadas, mesmo na goleada de 4 a 0 sobre o pobre e irremediavelmente rebaixado Guaratinguetá, não consegue sair do marasmo. Cria poucas oportunidades de gol, erra muitos passes, alonga demais as jogadas, não marca a saída de bola do adversário, não avança a defesa para encurtar o contragolpe adversário. É um time amarrado ao quadradismo de um defensivismo forte, de melhor desempenho no campeonato, mas de baixa capacidade de produzir gols – foram apenas 20 em 14 jogos, só superior a três das outras nove equipes que estão ocupando os primeiros 10 lugares na classificação (Mirassol, Santo André e Guarani).
Time dos gols
Os jogos do Água Santa têm muito mais gols que os jogos do São Caetano. Enquanto o Azulão marcou 20 gols e sofreu oito, totalizando 28, o Água Santa totaliza 47: marcou 29 e sofreu 18. É a equipe que lidera a artilharia entre os 20 participantes da Série B. O placar médio do Água Santa lhe é favorável por 2,07 a 1,28. Já o placar médio do São Caetano é 1,43 a 0,57.
Esses números retratam o perfil tático das duas equipes. A cautela do São Caetano se contrapõe à agressividade a qualquer custo do time de Diadema. Como nos últimos sete jogos o Água Santa tem se dado muito melhor que o São Caetano em todos os quesitos, o favoritismo no clássico desta quarta-feira parece patente.
O que pode fazer a diferença é a experiência e a tradição do São Caetano. Se conseguir pautar o jogo, poderá surpreender o mandante. A premissa de que o Água Santa vai ao ataque de qualquer jeito pode favorecer o sistema tático do São Caetano, conforme mostram os números dos jogos realizados fora de casa. O São Caetano jogou sete vezes como visitante e conquistou 16 pontos. Nada menos que um índice de 76,19%. Embora não tenha força no contragolpe em velocidade, o São Caetano compensa fora de casa com jogadas de laboratório em bolas paradas. Faltas e escanteios são um convite à festa do Azulão. Sem contar o centroavante Diego Acosta na individualização de jogadas.
Outro ponto que pode favorecer o São Caetano em Diadema é a história das duas equipes. Quem acredita que camisa vai muito além do cumprimento de uma das regras do futebol e entende que a tradição costuma entrar em campo em situações especiais, não teria dúvidas em retirar o favoritismo do Água Santa. Pode ser que o peso do Azulão ante o chamado Netuno seja inibidor à maquinaria ofensiva do mandante. Mas até que isso se confirme na prática, o Água Santa de melhor ataque do campeonato e de permanente melhoria de rendimento em campo é mesmo candidatíssimo a somar novos três pontos que, finalmente, poderiam catapultá-lo ao G-4 que jamais frequentou.
O contraponto do São Caetano também é possível: raras foram as vezes no campeonato, como agora, que a equipe deixou escapar presença no G-4. Nas poucas oportunidades em que isso ocorreu, recuperou posição na rodada seguinte. O desafio de jogar mais quando as circunstâncias se apresentam complexas faz do São Caetano um time forte.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André