Esportes

Até que ponto matemática garante
probabilidades de subir ou descer?

DANIEL LIMA - 17/04/2015

Há até um site especializado em medir o tamanho das possibilidades das equipes numa competição, tanto na luta pelos primeiros lugares como na fuga do rebaixamento. O Chance de Gol é o mais conhecido. Tem prestígio, mas nem por isso é infalível. Como sê-lo se o futebol pode não ser uma caixinha de surpresa ao longo de uma competição, mas é uma caixinha de surpresa pontualmente?

 

Explico: se o futebol não fosse relativamente lógico, considerando-se lógico o entrelaçamento de uma variedade de fatores, o Linense poderia ser apontado como favorito ao título da Série A do Campeonato Paulista desta temporada. Ou qualquer outra equipe considerada pequena. Se nem na matemática o Linense conseguiu essa perspectiva, o que dirá então no gramado?

 

O Chance de gol mede o tamanho das possibilidades com base no que ocorreu nos gramados nas rodadas anteriores, numa combinação de dados que refletem o desempenho de cada equipe em casa e fora de casa, tudo contraposto ao que se apresenta do lado adversário. O Chance de Gol não costuma errar. Os acertos são em muito maior número. Mas erros, ou imprecisões, ocorrem.

 

Um exemplo mais recente tem o Penapolense como protagonista. A equipe do Interior foi rebaixada à Série B do Campeonato Paulista na última rodada, quando perdeu em casa para o São Bento de Sorocaba, enquanto o Linense ganhou surpreendentemente em Campinas do já classificado às quartas de final Red Bull e a Portuguesa sucumbiu diante do São Paulo no Morumbi. O São Bernardo também ajudou a afundar o Penapolense, porque ganhou em casa do então já rebaixado Marília. Um resultado mais que esperado.

 

Queda surpreendente

 

A queda do Penapolense surpreendeu a todos porque o Chance de Gol lhe atribuía não mais que 1,6% de probabilidade de rebaixamento na última rodada. Os favoritos a juntarem-se ao Marília e ao Bragantino eram a Portuguesa, com 90,9% de possibilidades, e o Linense, com 83%. O São Bernardo não contabilizava mais que 0,2%. O Capivariano, que venceu a Ponte Preta, disputou a última rodada com mais risco de queda do que o Penapolense: o Chance de Gol lhe atribuiu 24,4% de probabilidades.

 

Como se explica o rebaixamento do Penapolense se nas últimas rodadas o histórico de risco era quase tão baixo quanto o que antecedeu a última rodada? Ao final da 10ª rodada de 15 da fase de classificação o Penapolense registrava 41,7% de risco de queda. Na rodada seguinte caiu para 20,5%. Na 12ª rodada baixou ainda mais, para 1,4%. Na 13ª rodada, manteve o 1,4%. Na última rodada subiu levemente para 1,6%.

 

Ou seja: quando o time do Interior entrou em campo para enfrentar o São Bento, na rodada final, era residual a possibilidade de disputar a Série B  do ano que vem. O regulamento do campeonato é tão exótico que o Penapolense poderia, com uma vitória, ter-se classificado às quartas de final da Série A. Tudo porque a classificação aos mata-matas obedece à ordem de pontos dos respectivos grupos, enquanto o rebaixamento é ditado pela classificação geral.

 

E a Série B?

 

O Chance de Gol não tem acompanhado com estatísticas a Série B do Campeonato Paulista. Faltam três rodadas apenas. Ainda na semana passada, a pedido do Diário do Grande ABC, o responsável pelos estudos afirmou que o São Caetano era o principal concorrente da região a uma das quatro vagas que darão direito à Série A do ano que vem. O Azulão tinha 55% de possibilidades de subir ao final das 19ª rodada. A quanto teria se reduzido esse percentual do São Caetano após o jogo do final de semana em casa quando perdeu para o Guarani de Campinas, no Estádio Anacleto Campanella, e,  com outros resultados associados, caiu para o sétimo lugar na classificação?

 

Um sétimo lugar, a bem da verdade, que pode induzir a erro de avaliação, porque a distância que separa a equipe do quarto colocado, Novorizontino, não passa de um ponto.

 

Surpresas dificilmente deixarão de existir num esporte em que, apesar de todo o arcabouço técnico, tático e emocional que lhe confere previsibilidade até onde é possível, também carrega uma porção de imponderável que costuma fazer estragos. Quando vistas individualmente, nem sempre as equipes que mais bem jogam saem vencedoras. Numa perspectiva de conjunto da obra, a realidade costuma ser diferente. Por isso que o núcleo de estudos do site Chance de Gol é respeitável, fundamentado no que poderia ser chamado de desempenho continuado de cada agremiação numa competição.

 

Leitura apressada

 

Uma leitura bruta dos números classificatórios costuma criar encrencas aos analistas. Numa competição relativamente longa, mesmo que não passe de 19 rodadas, como é o caso da Série B do Campeonato Paulista, nem tudo que parece na tábua de classificação é de fato na prática do momento.

 

Quem pegar a classificação do Paulista de Jundiaí, com apenas 23 pontos acumulados em 16 rodadas, provavelmente será traído porque nas últimas nove rodadas foi uma das equipes que mais pontos somaram na competição. Uma reação fantástica para quem ocupava a zona de rebaixamento. O peso desse Paulista num pacote de valores agregados que determinam risco ao adversário é muito maior, portanto, do que parece.

 

Já o São Caetano vive situação oposta: depois de sete rodadas deslumbrantes, quando ocupava a liderança com 82% de aproveitamento dos pontos disputados, sofreu forte declínio e colecionou nas mesmas nove rodadas do Paulista pontos que, eliminados os anteriores, o colocariam entre os candidatos ao rebaixamento, ou muito próximo disso.

 

São, portanto, essas nuances temporais que determinam a medição do tamanho de possibilidades de vitória, empate ou derrota de cada equipe na próxima rodada e -- numa perspectiva mais alongada, de definição de posicionamento -- estabelecem pesos que procuram diagnosticar o estado de competitividade individual. Parece simples.

 

O Penapolense acreditou que a previsibilidade do Chance de Gol era o antídoto a qualquer situação desagradável. Seus jogadores e dirigentes se esqueceram que os resultados dos jogos são tudo o que se imagina como efeitos diretos e indiretos dentro de campo, inclusive as circunstâncias.

 

E olhem que não me refiro à chamada mala branca, que consiste em oferecer dinheiro para uma equipe empatar ou derrotar um adversário incômodo na classificação, cuja utilização geralmente está por trás de situações de dramaticidade nas últimas rodadas. Na Série B, por exemplo, a mala branca já entrou em campo há várias rodadas, alimentada por um dos times que faz tudo para chegar ao G-4.



Leia mais matérias desta seção: Esportes

Total de 985 matérias | Página 1

05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André
26/07/2024 Futuro do Santo André entre o céu e o inferno
28/06/2024 Vinte anos depois, o que resta do Sansão regional?
11/03/2024 Santo André menos ruim que Santo André. Entenda
05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?
01/03/2024 Só um milagre salva o Santo André da queda
29/02/2024 Santo André pode cair no submundo do futebol
23/02/2024 Santo André vai mesmo para a Segunda Divisão?
22/02/2024 Qual é o valor da torcida invisível de nossos times?
13/02/2024 O que o Santo André precisa para fugir do rebaixamento?
19/12/2023 Ano que vem do Santo André começou em 2004
15/12/2023 Santo André reage com “Esta é minha camisa”
01/12/2023 São Caetano perde o eixo após saída de Saul Klein
24/11/2023 Como é pedagógico ouvir os treinadores de futebol!
20/11/2023 Futebol da região na elite paulista é falso brilhante
16/10/2023 Crônica ataca Leila Pereira e tropeça na própria armadilha
13/10/2023 Por que Leila Pereira incomoda tanto os marmanjos do futebol?
10/10/2023 São Bernardo supera Santo André também no futebol
10/08/2023 Santo André prestes a liquidar R$ 10 mi de herança do Saged