O céu estatístico não é totalmente de brigadeiro, mas a previsão do tempo esportivo é suficientemente clara para indicar que o São Caetano festejará nesta sexta-feira à noite, no Estádio Anacleto Campanella, uma vaga à Série C do Campeonato Brasileiro. A estação de previsão futebolística Chance de Gol, como poderia ser chamado o site especializado em projetar resultados com base nos resultados do passado, destaca que o São Caetano reúne 69,3% de possibilidades de vencer o Botafogo de Ribeirão Preto e outros 62,4% de passar às semifinais da Série D do Campeonato Brasileiro. Ou seja: a vitória do São Caetano praticamente encaminharia o acesso à Série C.
Como perdeu em Ribeirão Preto domingo à noite por 2 a 1, o São Caetano precisa vencer o Botafogo nesta sexta-feira por 1 a 0 para assegurar a vaga. Uma vitória por 2 a 1 levaria a decisão aos pênaltis. Qualquer outra vitória por diferença de um gol representaria a classificação do Botafogo que também joga pelo empate. Os critérios de desempate da Série D do Campeonato Brasileiro são os mesmos adotados na Copa do Brasil.
O site Chance de Gol tem semelhança com estações meteorológicas. A diferença é que em vez de analisar o espaço, cavouca os resultados em campo. Ao credenciar o São Caetano como vencedor do jogo com o Botafogo e, em menor proporção, como equipe classificada às semifinais da Série D, o Chance de Gol coloca o representante da região de volta à Série C. Afinal, os quatro primeiros colocados estarão automaticamente garantidos na divisão superior.
Quarto maior favorito
Não seria preciso recorrer a numeralhas para atribuir favoritismo ao São Caetano -- mesmo após a derrota de 2 a 1 no primeiro jogo das oitavas de final. Alguns números-chave dizem muito, embora não tudo. O São Caetano ganhou mais pontos até agora que o Botafogo na competição (22 a 19) e tem saldo de vitórias e de gols muito superior. Mas nada disso terá valido se deixar escapar a oportunidade de aplicar vitória com margem necessária de gol ou de gols.
De maior favorito a uma das vagas à semifinal, o São Caetano caiu para o quarto lugar entre os oito participantes das oitavas de final. Com 62,4% de possibilidades de chegar à etapa, sofreu queda após a derrota em Ribeirão Preto. Agora o maior favorito a uma das vagas nas semifinais é o River, que atuou em casa no jogo de ida e derrotou o Lajeadense por 3 a 0. O time do Piauí tem 95,9% de possibilidades. Mais que os 83,4% do Ypiranga do Rio Grande do Sul, que joga em casa com a Caldense, após empatar de 1 a 1 em Minas Gerais. O Remo venceu o Operário em Ponta Grossa por 1 a 0 e soma 76,1% de probabilidades de chegar à semifinal. Basta empatar em casa no jogo de volta com o time paranaense.
A derrota em Ribeirão Preto deixou lições que devem balizar a atuação da equipe do técnico Luiz Carlos Martins nesta sexta-feira. O controle dos principais quesitos que demarcam resultados em jogos do sistema mata-mata não pode sofrer avarias novamente. Organização tática, estabilidade emocional, ambiente no estádio e desequilíbrios técnicos fazem a diferença para o bem e para o mal.
Tempos diferentes
No primeiro tempo em Ribeirão Preto, quando o São Caetano vencia por 1 a 0, houve sincronia entre esses vetores. No segundo tempo, quando sofreu a virada, os desarranjos foram notórios. A posse de bola, característica essencial para quem pretende manter os ajustes entre os setores em ambiente hostil, se perdeu em meio à agressividade da marcação e à velocidade imposta pelo Botafogo.
É consenso que o time de Ribeirão Preto perde em qualidade técnica e em organização coletiva para o São Caetano, mas decisão de vaga vai além disso. O ambiente num estádio com 25 mil torcedores contribuiu para o declínio do São Caetano no segundo tempo na exata medida em que o tempo de posse de bola se esvaia.
Se contar nesta sexta-feira com o fator torcida em intensidade suficiente para provar que é o mandante do jogo, o São Caetano dificilmente deixará de expressar em campo as qualidades superiores em relação ao adversário aguerrido e decididamente disposto a jogar na defensiva, característica do técnico Marcelo Veiga que fez fama de truculência técnica no Bragantino. Aliás, com um futebol de corpo a corpo agressivo, contando inclusive com a permissividade do árbitro, o Botafogo virou o resultado em Ribeirão Preto.
Trapalhadas do árbitro
Mas não foi apenas nesse ponto que o árbitro atrapalhou a vida do São Caetano. A penalidade máxima que assinalou no começo do segundo tempo e que o goleiro Saulo defendeu com um dos pés foi um erro crasso. O árbitro inverteu a marcação. Quem cometeu falta foi o centroavante Nunes. Ele se agarrou ao lateral Bruno Recife na pequena área, depois de rebatida da defesa. Na sequência, deslocado, Bruno Recife reagiu e segurou o atacante. Além do erro técnico, o árbitro puniu indevidamente o jogador do São Caetano com cartão amarelo, e poupou Nunes.
No primeiro tempo houve um lance semelhante na intermediária ofensiva do São Caetano: o centroavante Jô foi derrubado por um adversário e o árbitro, além de inverter a marcação, mostrou cartão amarelo ao jogador do São Caetano. A diretoria do São Caetano preferiu não se manifestar, mas é certo que se ouvisse o centroavante Jô confirmaria as imagens mostradas pela TV Brasil: o Botafogo de Marcelo Veiga é um time que sabe bater no adversário. Tanto que Jô passou dois dias na enfermaria para se recuperar de pancadas por todo o corpo.
Sem poder contar com o atacante Robson, suspenso com três cartões amarelos, o técnico Luiz Carlos Martins faz mistério sobre o substituto. Mas não tem alternativa melhor que o meia-atacante Ricardinho, com passagem por vários clubes, entre os quais o São Bernardo. Canhoto em vez de destro como Robson, insinuante e hábil ao deslocar-se em diagonal, Ricardinho não alteraria muito o esquema tático da equipe. Teria menos facilidades para deslocar-se da extrema ao meio justamente por ser canhoto, mas pode compensar a mudança ao procurar mais a linha de fundo e, com isso, descongestionar o meio do ataque, onde provavelmente o Botafogo concentrará três zagueiros e dois volantes. Tudo no estilo de um treinador que não dá a menor bola ao espetáculo. O resultado é seu dogma.
Atacar sempre
A necessidade de construir a vitória deve levar o técnico Luiz Carlos Martins a fazer uma mudança no meio de campo, com a substituição do volante Leandro Carvalho por Ferreira. Nesse caso, Esley, que vem jogando como segundo volante, seria deslocado à frente dos zagueiros e Ferreira atuaria mais adiantado, com ordens para atacar. Com Ricardinho mais aberto, Ferreira poderá ter espaço de sobra às infiltrações. Defensivamente, o São Caetano não correria risco sem Leandro Carvalho. Esley se adapta a qualquer função de viés defensivo porque é um combatente experiente, dono de condicionamento físico invejável. Leandro Carvalho é mais clássico e de menor mobilidade na cobertura dos laterais sempre prontos a avançar.
O São Caetano que decide com o Botafogo de Ribeirão Preto não tem escapatória: precisa atacar o tempo todo, valendo-se da condição de mandante. Nem mesmo a marcação de um gol deverá induzir postura defensiva. O empate basta para o Botafogo classificar-se e a equipe de Ribeirão Preto tem uma qualificação técnica que a levou à vitória domingo passado: as bolas paradas. Quanto mais tempo o Botafogo estiver no ataque, mais riscos de faltas e escanteios.
A estação estatística Chance de Gol torce pelo São Caetano para contabilizar novo ativo de acerto e credibilidade no mundo complexo, quando não pouco previsível, do futebol. Mais que o mundo complexo, mas menos imprevisível, da meteorologia.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André