Esportes

Dois campeonatos vão desafiar
o futuro do futebol da região

DANIEL LIMA - 26/01/2016

Quem disser que o futebol da região terá todas as possibilidades de sucesso na temporada que começa neste final de semana corre o mesmo risco de quem disser exatamente o contrário. O que espera por Água Santa de Diadema e São Bernardo na Série A e por Santo André e São Caetano na Série B do futebol paulista é um imenso ponto de interrogação. Fora isso, até que ao menos meia dúzia ou mais de rodadas sejam disputadas, tudo não passará de especulação.


 


O São Bernardo e o Água Santa vão correr atrás das duas únicas vagas da Séria A do Campeonato Paulista que levam à disputa da Série D do Campeonato Brasileiro no segundo semestre. Essa é a parte nobre da jornada que se inicia. Há também o osso de pescoço do rebaixamento. Pela primeira vez a Série A vai rebaixar os seis últimos classificados entre os 20 concorrentes à Série B do ano que vem.


 


Numa decisão corajosa do ponto de vista político e acertadíssima em termos de valorização técnica e de espetáculo, a Federação Paulista de Futebol do novo presidente Reinaldo Carneiro Bastos decidiu reduzir o número de participantes da competição. Com os seis rebaixamentos programados para este ano e apenas dois times da Série B tendo acesso, a Série A do ano que vem terá apenas 16 equipes.


 


O calendário para as disputas estaduais está cada vez mais apertado num esporte que se transformou em grande negócio dos grandes clubes e também ou principalmente para as emissoras de televisão e os patrocinadores. Acabou há muito tempo o romantismo no futebol. Dentro e fora de campo.


 


Espernear contra a mudança como esperneou o presidente do São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira, faz parte do enredo. Principalmente para quem tem um olho na bola e outro nas urnas, deputado estadual que é.


 


Agrupamentos equilibrados


 


A diminuição de participantes vai dar flexibilidade à direção técnica da Federação na busca por um sistema de disputa menos frágil. Mais uma vez nesta temporada as 20 equipes jogarão em turno único em 15 rodadas. Divididas em quatro grupos de cinco equipes cada, os confrontos reservados não envolverão as equipes do mesmo grupo. O São Bernardo e o Água Santa não enfrentarão seus parceiros de agrupamento.


 


Há suposto equilíbrio técnico nos agrupamentos porque a FPF adotou como critério um sorteio dirigido que levou em conta a hierarquia das equipes no circuito nacional e estadual. Os times grandes da Série A do Campeonato Brasileiro ocupam cabeças de chave. Os demais que constam do calendário nacional, em diferentes divisões, foram harmoniosamente instalados em grupos distintos. E quem não faz parte do calendário nacional, casos do São Bernardo e do Água Santa, entre outros, formaram o pelotão complementar dos sorteios. São candidatos potenciais ao rebaixamento. Por mais que se esforcem, não contam com a estrutura sistêmica das equipes que jogam toda a temporada.


 


Por isso, na Série A do Campeonato Paulista tudo é menos potencialmente imprevisível do que na Série B, na qual as forças são aparentemente menos desiguais. Até porque não há nenhum time de grande expressão estadual entre os também 20 participantes.  Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos dificilmente deixarão de lutar diretamente pelo título na Série A. Um lance de surpresa como o que bafejou o Ituano, campeão da temporada de 2014, não passaria mesmo de surpresa. Na Série B, por outro lado, qualquer um dos 20 concorrentes, a princípio, reuniria possibilidades de sucesso.


 


Riscos de apostar


 


Se houvesse uma casa de apostas que medisse o tamanho de favoritismos ao título da Série A do Campeonato Paulista, os quatro grandes dominariam amplamente. Já na Série B seria um salve-se-quem-puder. Talvez recebessem mais apontamentos as equipes que já viveram grandes momentos, casos do São Caetano, do Bragantino, do Guarani de Campinas e mesmo do Santo André, ex-integrantes da Série A do Campeonato Brasileiro.


 


Entretanto, o passado não costuma fazer muita diferença quando envolve equipes médias e pequenas, sujeitas a chuvas e trovoadas de ciclos de sucesso e fracasso. O São Caetano é um bom exemplo: no ano imediatamente ao rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista, só escapou da queda à Série C na última rodada. Já no ano passado, preparou-se melhor, entendeu o ambiente do campeonato e por pouco não subiu.


 


A semelhança de disputa da Série A e da Série B do Campeonato Paulista parece uma boa notícia. Finalmente os clubes da Série B aderiram à modalidade de mata-mata, que também consta do cardápio da fase decisiva da Série A. A diferença é que na Série A os mata-matas envolvendo os oito primeiros colocados se darão como consequência de uma fase classificatória de 15 jogos para cada equipe, por conta da divisão em quatro grupos de cinco. Na Série B não há divisão alguma.


 


Os 20 times jogam em turno único entre si e os oito primeiros colocados ganham vagas para a fase de mata-mata. Apenas os dois primeiros colocados sobem. Os seis últimos da fase de classificação vão descer. Tudo indica, por conta disso, que muitas emoções vão marcar as 19 rodadas classificatórias. Haveria a disputa por oito vagas à série de mata-matas e a corrida para fugir dos seis últimos lugares.


 


Preparação regional


 


O melhor dos sonhos do futebol da região nesta temporada seria o São Bernardo e o Água Santa de Diadema conquistarem as duas vagas à Série D do Campeonato Brasileiro e, com isso, recolocarem a região no circuito nacional. E também o São Caetano e o Santo André obterem o acesso à Série A da temporada seguinte.


 


As duas mais antigas agremiações da região vivem tempos difíceis. O São Caetano joga pela Série B do Paulista pelo terceiro ano seguido. O Santo André completará a quarta edição seguida. O São Caetano manteve o técnico Luiz Carlos Martins, contratado para a edição do ano passado e para a disputa da Série D do Brasileiro, quando o São Caetano chegou às quartas-de-final.


 


O Santo André trouxe um técnico experiente na divisão, Luciano Dias. A equipe foi toda montada para a competição. Sem calendário nacional, o Santo André desativou a equipe que disputou a Série B no ano passado. O São Caetano fez várias contratações, mas segue com boa parte do elenco do ano passado. Tem, portanto, mais organização coletiva. Essa é uma vantagem que pode ser decisiva à consolidação de uma campanha sem grandes sustos e com imenso potencial de sucesso.


 


O São Bernardo disputa a Série A pela quinta vez, a quarta seguida. Foi rebaixado numa das edições e nas outras três safou-se do rebaixamento apenas na última rodada. Perdeu muito da força de contratações desde que a Administração Luiz Marinho sofreu abalos com a quebra de investimentos do governo federal em obras. Time adotado pelo PT, o dinheiro anda curto. Talvez da escassez resulte mais lucidez. Com abundância de recursos nos anos anteriores, o São Bernardo se perdeu no excesso de jogadores contratados. No futebol, fartura nem sempre é sinônimo de eficiência.


 


Já o Água Santa é estreante na Série A. Vem de acessos seguidos. Conta com uma torcida enlouquecida e uma sustentação financeira evoca intensas especulações éticas. É poderoso na medida em que por trás de tudo estão empresários do setor de transporte público da Capital. Gente com muita influência na política. Tanto que a vaga conquistada dentro de campo não se diluiu nos bastidores e na oficialidade das regras do jogo, flexibilizadas justamente para permitir a adequação física do estádio às condições técnicas exigidas pela FPF.


 


Melhor é esperar


 


Não existe uma fórmula acabada para antecipar o que pode acontecer com as equipes da região nas duas competições. Uma boa largada sempre é considerada ótima alternativa para se chegar entre os classificados, mas há históricos que contrariam frontalmente essa premissa. O São Bernardo já saiu estourando e precisou de recursos extraordinários para não cair. O São Caetano liderou a Série B do ano passado durante muitas rodadas e aos poucos cedeu espaço à concorrência, até ficar fora do baile da Série A.


 


A diferença entre os times do Campeonato Paulista é que a transmissão de todos os jogos da Série A permite que, em poucas rodadas, treinadores e jogadores e também a crítica decifrem táticas e técnicas. Já na Série B poucos jogos são transmitidos pela TV e os chamados observadores das equipes, que geralmente anotam tudo sobre o adversário, ao acompanhar o jogo imediatamente anterior ao confronto, podem ser ludibriados por atuações individuais e coletivas que não se confirmam na sequência.


 


É claro que tanto num caso, da Série A, como no outro, da Série B, vasculhar informações relativas à preparação das equipes durante a pré-temporada e também o balanço das contratações e dispensas, ajudam a diminuir o grau de incertezas. Mas como futebol é essencialmente uma obra coletiva e os encaixes nem sempre correspondem às expectativas sustentadas por elevado índice de subjetividades, o melhor mesmo é não arriscar prognósticos.  Não custa nada esperar pelo adensamento dos números da tabela de classificação.


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