Esportes

São Caetano, Água, São Bernardo
e Santo André, eis nosso ranking

DANIEL LIMA - 07/03/2016

Trinta e oito jogos depois, alteramos o por natureza provisório ranking das equipes da região nas Séries A e B do Campeonato Paulista. Pela primeira vez o São Caetano, único invicto entre as 40 equipes que disputam as duas competições, ocupa a liderança do ranking regional, seguido pelo Água Santa de Diadema. Embora esteja no G-8 da Série B, grupo das equipes que disputarão a fase de mata-mata, o Santo André está atrás do São Bernardo, incomodado com a zona de rebaixamento da Série A.

Como é possível um time mais bem classificado numa competição perder no ranking regional de avaliação de rendimento para uma equipe que está na zona de rebaixamento num outra competição? Simples: os pontos acumulados têm muita validade, são essenciais, mas não são definitivos. O Santo André dá sinais de regressão tática enquanto o São Bernardo emite claras manifestações de que pode estar ganhando nova roupagem com a contratação do técnico Sérgio Soares.

Embora seja a equipe que lidera o ranking regional e detenha campanha que pode ser considerada invejável na Série B, o São Caetano não empolga. Joga literalmente para o gasto. A qualidade da maioria dos jogadores não tem o correspondente valor coletivo, principalmente no sistema ofensivo. A perspectiva de que o São Caetano deverá se classificar com certa folga à fase de mata-mata não é um selo de garantia de maiores possibilidades de acesso à Série A. Além de o mata-mata ter características próprias, de algo que praticamente zera a fase anterior, o São Caetano ainda não fez aflorar de forma permanente, durante a maior parte dos jogos, a intensidade indispensável quando se jogam 90 minutos decisivos.

O ranking de rendimento das equipes da região nas duas competições continua sujeito a mudanças nas próximas rodadas. O que vai acontecer com cada uma das equipes da região terá peso decisivo. Rodadas já disputadas tanto podem avalizar quanto anular observações. O Santo André caiu de rendimento quando se analisam as primeiras rodadas, mesmo considerando os últimos bons resultados. O São Bernardo caiu e agora parece ganhar novo ímpeto. O Água Santa de Diadema segue o mesmo. Tanto quanto o São Caetano. Ficar na mesma não parece ser o mais indicado quando se levantam dúvidas sobre os objetivos perseguidos. Há que se considerar que não se joga futebol com apenas uma equipe em campo.

Como a dinâmica dos dois campeonatos é muito semelhante, porque se corre por uma das oito vagas de mata-matas e se foge das seis últimas colocações de rebaixamentos, o perfil de rendimento obedece a certa lógica interpretativa. O São Caetano e o Santo André têm amplas possibilidades de chegar à etapa de mata-mata da Série B, enquanto Água Santa e São Bernardo precisam se preocupar mais com o rebaixamento. Esse é o retrato do momento. Um retrato que, com a variável do Água Santa até outro dia, consta da lista de prioridades das equipes.

Na sequência, uma breve avaliação das quatro equipes da região pela ordem de importância de desempenho até agora.

Um time frio e calculista

Esperar que o São Caetano encante é cair no conto da carochinha. O time de Luiz Carlos Martins parece ter feito pacto de discrição absoluta. A liderança da Série B do Campeonato Paulista com 23 pontos em 33 disputados lhe dá índice de aproveitamento de 69,7%. São seis vitórias, cinco empates e nenhuma derrota. Um time que não brilha nem nos números, mas que não pode ser subestimado. Luiz Carlos Martins montou uma equipe que é seu espelho: metódica, fria, calculista. Muito raramente o São Caetano intensifica o jogo a ponto de eletrizar as ações. As bolas paradas, em faltas e de escanteios, são um ponto diferencial. E o meia-atacante Neto é a principal fonte de inspiração e transpiração: ele tanto ajuda o meio de campo e a defesa como dá suporte ao ataque. Mateusinho brilhou em jogos seguidos mas nos últimos caiu de produção. Até já trocaram seu nome, retirando o diminutivo. Ainda é titular porque existe o recall dos jogos anteriores, mas não seria surpresa se perdesse a posição.

A maior virtude do São Caetano é o coletivo, principalmente o sistema de marcação defensivo. Um equilíbrio pautado na redução de espaços, na ocupação de espaço de proteção ao goleiro. Um esquema apropriado para chegar em primeiro na fase de classificação, como na Série D do Campeonato Brasileiro do ano passado. Mas que não oferece a garantia de sucesso numa etapa de mata-mata. Como na Série D nacional.

A ausência de um atacante pelas beiradas do campo, como Robson na Série D do ano passado, dificulta os contragolpes planejados. Outras deficiências para um time que lidera a competição são a baixa intensidade durante quase todo o jogo, combinada com uma densidade de triangulações aquém do desejado.

O São Caetano também demora em sentir a necessidade de aquecer o jogo, principalmente quando atua em casa. Mas tudo isso se diluiu na competição porque o pragmatismo acaba por prevalecer diante de adversários na maioria dos casos menos qualificados.

Ainda faltam oito jogos para o São Caetano elevar o grau de confiança de que pode voltar à Série A. O empate com o Juventus na Rua Javari mostrou uma equipe surpreendentemente aguerrida durante todo o tempo, mas na sequência, em casa contra o Guarani, voltou à lentidão, à dependência da bola parada e também a se sustentar no sistema defensivo. Mesmo assim com descuidos no lado direito, depois que o técnico Pintado, do time de Campinas, enfiou um atacante para explorar as costas de Leo Pereira.

Um time mobilizador

O Água Santa de Diadema precisa jogar no limite físico para que a tática e a técnica funcionem a contento e os resultados sejam alcançados. As goleadas de quatro a zero que sofreu do São Paulo e do Linense provam que a equipe não pode se descuidar da concepção de jogo do técnico Márcio Ribeiro: marcação contínua no campo de defesa e contragolpes rápidos, principalmente em bolas esticadas ao atacante Everaldo, geralmente deslocado à esquerda. Dono de chute fortíssimo, associado a uma procura permanente pelo gol adversário, Everaldo é o retrato do Água Santa: dispensa firulas e arte para ser incisivamente simples e funcional.

Nos oito jogos que já disputou na Série A do Campeonato Paulista o Água Santa alcançou aproveitamento de 45,8% dos pontos, com três vitórias, dois empates e três derrotas. Marcou nove gols e sofreu 13. A briga para chegar entre os dois primeiros colocados no grupo de 12 equipes que não constam do calendário nacional -- e com isso disputar a Série D -- ter se comprometido nos dois últimos jogos, quando empatou em casa com o São Bento de Sorocaba e foi derrotado em Itápolis pelo Oeste por um a zero. Com 11 pontos, o Água Santa está abaixo do XV de Piracicaba (com a mesma pontuação mas melhor num dos critérios de desempate), e também do Audax (12 pontos), Linense, Red Bull e Ferroviária (todos com 13 pontos).

Talvez o técnico Márcio Ribeiro tenha de rever conceitos e dar à equipe variação de jogadas que a retir3 da camisa de força dos passes longos em diagonal, principalmente.  A aproximação ofensiva dos laterais e dos meio-campistas pode se tornar imperativa para que o Água Santa seja menos previsível. O que não falta no futebol de hoje são adversários estudiosos, sempre prontos a neutralizar as principais armas dos adversários. O Água Santa é um time de uma nota tática só, cada vez mais dependente de transpiração.

A grande dúvida que se coloca na caminhada do Água Santa é saber se brigará por uma dessas vagas ou se poderá, nas próximas rodadas, começar a se preocupar com o rebaixamento, que atingirá os seis últimos colocados. Afinal, a equipe está apenas dois pontos fora da marca da degola, aberta pela Ponte Preta com nove pontos e fechada pelo Capivariano com apenas quatro e virtual integrante da Série B. O jogo do final de semana contra o Santos, na Vila Belmiro, poderá levar o Água Santa à zona de rebaixamento. É preciso que essa possibilidade não vire trauma. Perder para time grande faz parte do enredo. Qualquer ponto que se ganhe deve ser comemorado. Quando se ganham três, então, como o São Bernardo diante do São Paulo, tudo pode mudar na sequência.

Um time que pode melhorar

O São Bernardo está na zona de rebaixamento da Série A do Campeonato Paulista com nove pontos em 24 disputados. Foram duas vitórias, três empates e três derrotas, com oito gols a favor e 11 contra. Os dois últimos jogos -- derrota em casa para o XV de Piracicaba e vitória no Pacaembu de 3 a 1 contra o São Paulo -- mostraram que o técnico Sérgio Soares, recém-contratado, pode promover recuperação que retire a equipe do rebaixamento.

Sérgio Soares é cultivador do futebol de triangulações e posse de bola. Por isso mudou o meio de campo com a escalação de dois articulistas, Jean Carlos e Cañete, recuou Marino para formar uma dupla de volantes com Daniel Amora, liberando-os, entretanto, para participar do jogo ofensivo, da mesma forma que está dando mais liberdade aos laterais. Joga com dois atacantes.  Um 4-4-2 básico com viés ofensivo. Tudo diferente do antecessor, que fez do São Bernardo um time combativo, mas extremamente inclinado a mais defender do que a atacar.

A vitória contra o São Paulo se deve à ousadia de Sérgio Soares, mesmo técnico que levou o Santo André ao título de vice-campeão paulista na final com o Santos dos meninos Neymar e Ganso. Sérgio Soares não se conformou com a derrota parcial de um a zero e substituiu o volante Daniel Amora pelo atacante Tatá, que estreou. Tata mudou inteiramente o rumo da partida, voltando para ajudar o meio de campo e participando de dois gols, além de marcar o primeiro da reação que deixou o Pacaembu perplexo. Os 37,5% de aproveitamento do São Bernardo no campeonato podem ser revertidos se Sérgio Soares continuar a encontrar ressonância na decisão de ir ao ataque com mais talento, sem abrir demais a defesa.

Um time que não se arruma

Embora tenha até agora 54,5% de aproveitamento na Série B do Campeonato Paulista, o Santo André está abaixo do Água Santa e do São Bernardo, integrantes da Série A, na avaliação de desempenho. Sobretudo porque até agora, passadas 11 rodadas, a equipe não encontrou formação que coloque o meio de campo como base da estabilidade de rendimento. O técnico Luciano Dias insiste em jogar com dois volantes marcadores e com quatro meias atacantes ou atacantes, sem ninguém na articulação. Só Luciano Sorriso tem algumas qualidades para dar ao meio de campo do Santo André algo mais que chutões em busca de atacantes.

É muito provável que o Santo André se classifique para a fase de mata-mata da Série B, mas precisa dar um mínimo de confiança aos torcedores. A equipe peca também pelo excesso de espaços aos adversários nos contragolpes porque os setores de defesa, meio de campo e ataque atuam distantes entre si. Meio de campo é força de expressão. Sem ocupar com arte aquela faixa do gramado, o Santo André recorre a saídas nem sempre bem postas dos laterais e, principalmente, a jogadas longas.

A virtuosidade ofensiva de Branquinho, tão bom nas bolas paradas quanto ao se aproximar dos atacantes é um ponto de qualidade  individual que interfere positivamente na gestão ofensiva. Mas Branquinho é utilíssimo da intermediária ofensiva para frente. Se contasse com pelo menos um companheiro que interpretasse bem o uso do espaço de criação, provavelmente seria ainda mais importante.

Os 18 gols marcados e os 12 gols sofridos colocam o Santo André como a segunda equipe da região que mais fez balançar as redes até agora na temporada (média de 2,72 por jogo, contra 2,00 do São Caetano, e 2,37 do São Bernardo e, 2,75% do Água Santa). Não são números ocasionais. Disputar com o Água Santa, que sofreu duas goleadas de quatro a zero em oito jogos, o balanço que envolve gols marcados e gols sofridos -- não é um indicador que deva ser exaltado. O equilíbrio entre sistema defensivo e sistema ofensivo é que transforma qualquer equipe em potencial sucesso numa competição. O Santo André sofreu o dobro de gols do São Caetano na Série B (12 contra seis).



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