O futebol da região representado por quatro equipes que disputam a Série A e a Série B do Campeonato Paulista ganhou apenas cinco dos 12 pontos no final de semana, mas demonstrou que está em evolução na reta de chegada da fase de classificação. Exceto o Água Santa.
A equipe de Diadema, derrotado pelo Santos sábado no Pacaembu por um a zero, continua a jogar sem engenharia tática. Como se ainda disputasse um campeonato de acesso de muita transpiração.
O Santo André estreou o técnico Toninho Cecílio e uma nova organização tática para derrotar sábado à tarde o forte Mirassol por dois a zero no Estádio Bruno Daniel.
No mesmo dia em que São Caetano empatou de zero a zero em casa, com o líder Bragantino, jogando como jamais o fizera até então, partindo decididamente em direção ao gol adversário.
Para completar, no domingo de três apagões no Estádio Primeiro de Maio, o São Bernardo empatou de três a três com o Audax de Osasco. O técnico Sérgio Soares alterou mesmo o modo de jogar de uma equipe que agora procura o gol e joga com mais qualidade no passe e valoriza a posse de bola.
Rodadas decisivas
Faltam apenas seis rodadas para o final da fase classificatória das duas competições. Resta saber qual será o futuro das equipes da região. O São Caetano e o Santo André lutam para chegar à fase de mata-mata da Série B, reservada aos oito primeiros colocados. As duas equipes estão no G-8, mas há muito equilíbrio entre pelo menos 11 dos 20 times. Tanto que o Bragantino soma 26 pontos (66,7% de aproveitamento) e a Portuguesa, 11ª colocada, 19 pontos (51,3% de aproveitamento).
Já o São Bernardo e o Água Santa, na Série A, devem mesmo correr para fugir do rebaixamento, reservado às seis últimas colocadas. O São Bernardo integra o G-6, o grupo dos seis rebaixáveis, com a quinta pior campanha: são 10 pontos em 18 disputados. Está acima de Oeste, Mogi Mirim, Rio Claro e Capivariano e junto com o Botafogo, que completa a lista mas que tem vantagem nos critérios de desempate. Apenas um ponto separa o São Bernardo de três equipes: Água Santa, XV de Piracicaba e Novorizontino têm 11 pontos.
É pouco provável que o sonho do Água Santa chegar à Série D do Campeonato Brasileiro seja alcançado. Para isso, precisa ficar entre os dois primeiros do grupo de 12 times da Série A que não constam do calendário nacional. O Água Santa está quatro pontos atrás do Red Bull Brasil, três abaixo de Ituano e São Bento e dois aquém de Audax e Linense. Chegar à Série D do Brasileiro é o sonho de consumo de equipes que querem manter-se ativas durante toda a temporada.
O que vai acontecer?
Tudo pode acontecer com as equipes da região quando se projeta a próxima temporada, mas é pouco provável que teremos quatro representantes entre as 16 equipes que disputarão a Série A. São Caetano e Santo André deram claros sinais de que podem evoluir na reta de chegada da Série B, embora a competição é muito encardida. Há adversários em estágio superior de amadurecimento tático, mas sem larga diferença.
Já o Água Santa e o São Bernardo precisam de superação para escapar do rebaixamento à Série B do ano que vem. A vantagem do São Bernardo é que o técnico Sérgio Soares está tendo tempo para organizar a equipe que jogou apenas duas vezes nos últimos 15 dias e terá mais uma semana inteira para se preparar.
O Água Santa pratica um futebol que se pauta pelo voluntarismo e o pragmatismo. Deixa muito a desejar pela quase ingenuidade de acreditar que pode atacar sem cuidar do sistema defensivo. O um a zero contra o Santos poderia ter sido muito mais. Além disso, a equipe comete infrações demais. Tanto que ficou com apenas 10 jogadores diante do Santos.
São Caetano agrada
Depois de perder a invencibilidade no meio de semana na derrota de dois a zero para o Mirassol no Interior, o São Caetano empatou de zero a zero com o Bragantino jogando um futebol que a torcida tanto esperava: tomando a iniciativa de ataque, marcando no campo adversário, explorando as laterais e dificultando os contragolpes de um adversário qualificado. Por isso o jogo foi tão bom que a torcida aplaudiu o São Caetano quando o árbitro apitou o final.
Quem cobrava do São Caetano melhor ocupação do espaço ofensivo, subidas dos volantes e dos laterais e movimentação do ataque, não ficou frustrado. A equipe poderia ter vencido, principalmente no segundo tempo, mas o resultado está longe de ser danoso. O Bragantino mantém estrutura tática com que se tornou conhecido em todo o País: marca forte e contragolpeia em velocidade. Conta com jogadores altos na defesa e no ataque e explora as laterais. É um adversário tão indigesto que não seria aconselhável enfrentá-lo na fase de mata-mata, quando os oito primeiros colocados jogarão de acordo com a distribuição classificatória.
Toninho acerta Ramalhão
A troca de técnico no Santo André foi providencial. Luciano Dias estava desgastado demais, principalmente porque não enxergou que o meio de campo era uma festa para os adversários ao atuar com dois volantes de marcação e mais ninguém. Branquinho, Diego Viana, Gilmar e Robson, entre outros, são atacantes ou meias-atacantes. A estreia de Toninho Cecílio contra o Mirassol com a vitória de dois a zero dá novo alento porque o treinador foi cirúrgico: escalou um time com três volantes de contenção (Diogo Orlando, Tiago Ulisses e Dudu) que deram mais liberdade ofensiva a Branquinho, Diogo Viana e Gilmar. Ainda não é o time de que o Santo André precisa para ter estabilidade. Falta um meia de articulação com capacidade de dar o ritmo à equipe.
A equipe melhorou tanto que o Mirassol praticamente não incomodou o goleiro Zé Carlos. E o Santo André ganhou o jogo em duas bolas paradas, completadas por zagueiros travestidos de atacantes. Branquinho, para variar, foi incisivo, agora mais próximo do centroavante Diego Viana. Xuxa, o articulador do Mirassol, foi sequestrado pela marcação de Diogo Orlando no primeiro tempo e, principalmente, por Tiago Ulisses no segundo. No mesmo segundo tempo em que Toninho Cecílio corrigiu uma escalação equivocada, de Gilmar como atacante aberto, mesmo sem ter velocidade, resistência, explosão muscular e um mínimo de recomposição. O mais jovem Robson entrou pela direita e ajudou a alterar o jogo definitivamente com penetrações em diagonal.
Liberdade demais
O Água Santa de Diadema precisa aprender que Série A não é Série B. Parece óbvio, mas o técnico do Água Santa ainda não descobriu que não é possível permitir que o adversário tenha tanta liberdade com a bola dominada. Está certo que o Santos é quase uma exceção que combina técnica e velocidade, além de muita movimentação, principalmente nas jogadas em diagonal, mas o equívoco já se manifestou em outros jogos: o Água Santa permite o controle do jogo pelo adversário ao acreditar que basta ter voluntarismo. É precisa mais que isso: engenharia tática para fechar os espaços defensivos.
O time que é especialista em contragolpes, sempre com lançamentos em profundidade, principalmente em diagonal para o atacante Everaldo, está sendo minado pelos adversários, que descobriram como reduzir o grau de risco. Poucas vezes diante do Santos o Água Santa deu sinais de vitalidade ofensiva. E durante todo o jogo foi tão mal defensivamente que o goleiro Richard se tornou o melhor em campo. Quando o goleiro é o melhor do jogo, alguma coisa está fora do lugar. O Água Santa desdenha do nível de acertos dos adversários. Imagina-se ainda integrante da divisão de acesso. Série A é, em média, uma competição para poucos erros. Principalmente nos jogos diante dos grandes.
Apagões elétrico e individual
Já o São Bernardo do técnico Sérgio Soares poderia ter conquistado os três pontos contra o Audax e saído da zona de rebaixamento, mas teve de correr atrás do empate três vezes em 90 minutos interrompidos por apagões do sistema de iluminação do estádio. Os erros primários de Diego Ivo, zagueiro estabanado, quase custaram a derrota. Ele falhou nos dois primeiros gols do Audax ao perder infantilmente uma saída de bola e ao cometer um pênalti.
Sérgio Soares trocou no segundo tempo um volante de contenção, Daniel Amaro, por um atacante, Tatá, como no jogo com o São Paulo. O São Bernardo virou o primeiro tempo em desvantagem de um a zero e a entrada de Tatá deu mais repertório ofensivo a uma equipe muito mais equilibrada taticamente do que nos tempos de Roberto Fonseca, defensivista demais. O São Bernardo já consegue valorizar a posse de bola, busca as laterais do campo e também procura triangulações. Enfrentou um adversário mais bem estruturado e de característica especial na competição, pela capacidade de sustentar a posse de bola -- embora na maioria das vezes de forma lenta e previsível.
É possível que com futebol ofensivo e marcação mais próxima e intensa o São Bernardo escape do rebaixamento. Para isso precisa de mais cuidados defensivos. Não se pode errar tanto individualmente como no jogo com o Audax. Sérgio Soares descobriu um atacante rápido – Alyson – encaixou dois meias que se completam – o mais explosivo Jean Carlo e o clássico Cañete – e aos poucos faz do centroavante Henam atacante mais próximo do gol. Também os laterais estão mais soltos. Se consertar o miolo da defesa, sofrível desde as primeiras rodadas, Sérgio Soares livrará o São Bernardo da queda.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André