Faltam apenas cinco rodadas para o encerramento da fase classificatória da Série A do Campeonato Paulista. E apenas quatro rodadas para que a Série B deflagre a disputa da fase de mata-mata. O que vai acontecer com o futebol da região está mais ou menos encaminhado, salvo surpresa: o São Caetano vai para o mata-mata, o Santo André deve ficar no pelotão intermediário, o São Bernardo tem tudo para escapar do sufoco da ameaça de queda e o Água Santa que se cuide, porque pode voltar à Série B no ano que vem.
Uma semana após o último balanço, o ranking de desempenho das equipes não se alterou: o São Caetano segue em primeiro, o São Bernardo em segundo, o Água Santa em terceiro e o Santo André em quarto. Até agora, as quatro equipes da região ganharam 52,3% dos pontos disputados nas duas competições, marcaram 66 gols e sofreram 54. A melhor campanha é do São Caetano: após vencer o clássico contra o Santo André, de virada, por dois a um, assumiu a liderança da Série B com 30 pontos, um a mais que o vice-líder Bragantino. Já o Santo André, com 22 pontos, caiu para o 10º lugar. Na Série A, o São Bernardo agora soma 13 pontos, após vencer a Ferroviária em Araraquara por dois a zero. E o Água Santa chegou a 12 pontos, com o empate de um a um em casa diante do Botafogo de Ribeirão Preto.
Numa nova e breve análise sobre o comportamento das equipes da região, deixamos claro que não temos nenhum time dos sonhos do acesso, mas, em contraposição, também não temos nenhuma condenação ao rebaixamento. O São Caetano não é por acaso a melhor equipe da região na média de rendimento. O time é praticamente o mesmo que disputou a Série D do Campeonato Brasileiro do ano passado. Um conjunto cujo diferencial costuma aparecer quando a corda aperta. Mesmo que demore para aquecer as turbinas.
Apenas um terço de novo
O São Caetano deveria propor à Fifa encurtamento do tempo regulamentar para 30 minutos. No clássico com o Santo André, como em tantos outros jogos, a equipe só jogou efetivamente como mandante sedenta por vitória um terço do tempo determinado. E desta vez foram os últimos 30 minutos, quando virou o placar. O resultado de dois a um é a moldura do que foi o confronto, mas não assegura que o São Caetano quase classificado ao mata-mata oferecerá desenlace diferença da decepção do ano passado, na Série D do Campeonato Brasileiro, quando terminou na liderança na fase classificatória e caiu diante do Botafogo de Ribeirão Preto na segunda série de mata-mata.
Menos mal que o técnico Luiz Carlos Martins acertou o time no segundo tempo contra o Santo André, com substituições que deram mais poder ofensivo. Principalmente a troca do lento e sem imaginação Daniel Costa pelo rápido e agressivo Diego Sales.
Quando o primeiro tempo terminou o zero a zero era melhor para o Santo André, mais compacto e definido na consecução de uma tática de contragolpes. O São Caetano não exercia controle tático do jogo entre outras razões, além da lentidão na troca de passes, porque o motorzinho da equipe, Neto, não se livrava da marcação de Luciano Sorriso. O São Caetano não encontrava espaços para penetrações centrais porque esbarrava num sólido bloco do adversário. Mas o que mais assustou mesmo quem esperava ver mais da equipe foi a inapetência ofensiva. O goleiro Zé Carlos praticamente não passou por nenhum momento de incômodo. O São Caetano era inútil no ataque.
Foi a partir de mudanças no segundo tempo, do deslocamento de Gercimar da lateral para a função de primeiro volante, da passagem de Ferreira de segundo volante à lateral-direita, e, principalmente, da entrada de Diego Sales, que o São Caetano ganhou mais velocidade e agressividade. E contou com o cansaço do Santo André, um time sem as mesmas opções de banco do adversário. Quando sofreu o gol logo no começo do segundo tempo, numa cobrança de escanteio, o São Caetano foi obrigado a sair da letargia de movimentos. Daí à virada foi questão de tempo. A equipe faz transposições com mais naturalidade que o Santo André.
O São Caetano continua bastante sólido no sistema defensivo, mas segue a cometer infrações demais e desnecessárias na linha intermediária defensiva. Aquelas bolas paradas cruzadas na entrada da área são sempre uma complicação adicional. Evitá-las deveria ser prioridade nos treinamentos. Bola parada, qualquer bola parada, representa um intervalo perigoso no contexto do jogo. Não interessa quem está melhor quando a bola é disparada em cobrança de falta ou de escanteio. Desdenhar dessa verdade é entregar a rapadura.
Uma melhora com limitações
O Santo André perdeu o clássico para o São Caetano depois de empatar três dias antes com a Portuguesa no Canindé. Nos dois jogos a equipe do técnico Toninho Cecílio sofreu para manter a estabilidade tática. O cansaço de um time reincidente em problemas de contusão e de jogadores que chegaram fora de ritmo pesa muito nessas horas decisivas. O encaixotamento imposto pelo São Caetano no segundo tempo no Estádio Anacleto Campanella tem a ver com a debilidade do grupo em termos de condicionamento físico associado a ritmo de jogo -- que consiste em ter jogadores não só preparados fisicamente, mas também aptos a execução técnica e tática sem embaraços maiores.
O técnico Toninho Cecílio deu mais força de conjunto à equipe. Mais uma vez, contra o São Caetano, fez uso de três volantes de marcação e escalou três atacantes. E fez do terceiro volante Dudu, de velocidade e força de penetração, um fator surpresa nos contragolpes. Foi de uma puxada de Dudu que saiu o escanteio do gol contra o São Caetano.
A maior consistência defensiva do Santo André tem um preço a pagar. A equipe tem baixa densidade ofensiva. A ausência de um jogador capaz de ditar o ritmo no meio de campo, de forma a aproximar os setores quando a equipe tem a posse de bola, torna o Santo André previsível na construção ofensiva. E disperso também. Por isso -- e também porque o cansaço bateu -- não sustentou o controle tático do jogo contra o São Caetano. Um controle exercido no primeiro tempo, período no qual o adversário manteve a bola por mais tempo mas sem ditar o ritmo tático. Tanto que o São Caetano não chegou uma vez sequer com perigo ao gol de Zé Carlos. No segundo tempo, com maior intensidade ofensiva do adversário, o Santo André sucumbiu. Tanto que Luciano Sorriso, o melhor do primeiro tempo, foi se entregando fisicamente. Até Neto sair da escuridão e brilhar como o melhor do São Caetano.
Merecimento e muita sorte
O goleiro Daniel deixou o Estádio da Fonte Luminosa, em Araraquara, desfilando coleção de razões que poderiam ter levado a Ferroviária a vencer o jogo de ontem à noite. E completou com uma frase metafísica: “O São Bernardo foi abençoado”. A declaração resume uma parcela significativa do jogo vencido pele equipe da região, mas seria injusto relacionar apenas a sortilégios de bolas nas traves e gols desperdiçados de forma impressionante pelo time mandante os motivos do resultado surpreendente contra uma das melhores equipes do campeonato. Antes de ter muita sorte o São Bernardo teve ousadia e personalidade. Entrou em campo com apenas um volante de marcação – Daniel Pereira – e, mais que isso, se lançou ao ataque. Surpreendeu tanto que fez dois gols em 22 minutos em dois contragolpes letais.
A Ferroviária ficou aturdida e só controlou o jogo com intensidade no segundo tempo. Foi quase um massacre, de defesa contra ataque. O São Bernardo teve a virtude de fechar os espaços até onde era possível. As virtudes da Ferroviária -- muita posse de bola, triangulações, penetrações em diagonal e todo o receituário de uma equipe bem treinada -- explicam as oportunidades desperdiçadas.
O jogo em Araraquara comprovou que o São Bernardo do técnico Sérgio Soares é bem diferente do São Bernardo de Roberto Fonseca. Acabou aquele time encolhido, que só jogava no contra-ataque. Agora atacar é palavra de ordem, mesmo quando submetido ao domínio de uma Ferroviária avassaladora. O time de Sérgio Soares não abdicou jamais de procurar o ataque, mas foi neutralizado pela eficiência adversária. Somente nos últimos 20 minutos é que Sérgio Soares reforçou o sistema de marcação, mas sem excesso.
O São Bernardo talvez tenha exagerado na dose de fixar apenas um jogador de contenção à frente dos zagueiros, mas a filosofia do técnico Sérgio Soares parece simples: para escapar do rebaixamento talvez o melhor antídoto seja procurar o gol adversário. Uma fórmula que é o perfil do treinador, independentemente de estar em jogo a queda ou a disputa por uma vaga importante. Foi assim que ele levou o Santo André ao título de vice-campeão paulista contra o Santos de Neymar e Ganso. O São Bernardo já tem personalidade. Deixou de lado os chutões para trocar passes verticais em triangulações e procura sempre uma virada de jogo para escapar pelas beiradas do campo com laterais sempre prontos a atacar. O primeiro gol de ontem não foi por acaso, quanto Tata completou no meio um cruzamento da esquerda de Magal, agora jogando de lateral bem ofensivo. Nem quando fez dois a gol, em triangulação por dentro.
Rolando ladeira abaixo
O Água Santa de Diadema está rolando ladeira abaixo na mesma Série A do São Bernardo. O empate de um a um com um desfalcadíssimo Botafogo de Ribeirão Preto no Estádio Distrital do Inamar foi um desastre. O Água Santa joga um jogo manjado pelos adversários porque não teve, ao contrário do São Bernardo, capacidade de se reciclar durante a competição. Como já não existe mais equipe que os adversários não saibam como joga, a banda de uma nota só do Água Santa já não faz sucesso. Os lançamentos longos, geralmente em diagonal, já não encontram atacantes livres.
O distanciamento entre os setores, a baixa capacidade de trocas de passes em evolução, o posicionamento sempre desarrumado dos zagueiros cada vez mais próximos do goleiro, os passes errados, o excesso de infrações, tudo isso facilita a vida dos adversários. Diante do Botafogo, o Água Santa foi melhor nos dois inícios de períodos.
Quando fez um a zero, no começo do segundo tempo, resultado da troca de um jogador mais defensivo por um ofensivo, o Água Santa voltou correndo para garantir o resultado. O Botafogo também trocou um volante por um atacante e chegou ao empate. Poderia ter vencido se acreditasse mais, porque o Água Santa entrou um parafuso.
A equipe de Diadema parece estar sofrendo pane coletivo diante da possibilidade de voltar à Série B. Um caminho que parece bastante delineado.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André