Na reta de chegada da fase classificatória da Série A e da Série B do Campeonato Paulista, o São Bernardo é a melhor entre os quatro equipes da região. Vêm a seguir São Caetano, Água Santa e Santo André. O novo ranking é resultado de observações nas ultimas rodadas. Desde a chegada do técnico Sérgio Soares, o São Bernardo virou de ponta cabeça o esquema tático.
A goleada de 4 a 1 no final de semana no Interior contra o Rio Claro mostrou um time mais uma vez solto, ofensivo, utilizando esquema semelhante ao de Tite, no Corinthians, com apenas um volante (Daniel), quatro jogadores mais à frente (Marino, Jean Carlo, Cañete e Waldinson) e um atacante com mobilidade mais restrita (Henan). Um time que procura atacar e defender com o máximo possível de jogadores. E que por isso mesmo surpreende adversários engessados por práticas conservadoras.
O Santo André despencou por falta de elenco e pelo excesso de contusões. O São Caetano continua na toada de segurança de sempre, que tanto lhe tem custado na hora da onça beber água. E o Água Santa, de vexaminosa goleada no meio da semana diante do Novorizontino, encontrou no Palmeiras a oportunidade que tanto esperava para se reabilitar. Resta saber se a recuperação virá de forma sólida nas rodadas decisivas da Série A ou entrará para o folclore esportivo tendo o Palmeiras, mais uma vez, como protagonista de lambança numérica.
Mata-mata viável
A três rodadas do final da etapa classificatória da Série A, o São Bernardo não só se afastou da zona de rebaixamento dos seis últimos colocados como passou a alimentar expectativa de classificação à fase de mata-mata, como um dos oito primeiros colocados -- dois de cada um dos quatro grupos. Na classificação geral, que vale para fugir do rebaixamento, o São Bernardo tem 16 pontos, quatro acima do marco inicial. O Água Santa tem 15 pontos.
O que diferencia as duas equipes em termos de perspectivas é que o São Bernardo consolida rodada a rodada os ensinamentos do técnico Sérgio Soares, especialista em futebol ofensivo. Já o Água Santa trocou de treinador após a goleada no meio da semana em Novo Horizonte. Márcio Bittencourt substitui a Marcio Ribeiro. A goleada contra o Palmeiras é um bom alento para o Água Santa exorcizar o espírito de time de acesso com que foi esculpido pelo técnico Marcio Ribeiro. O futebol de bolas longas e entrechoques dificilmente dá bons resultados na Série A. Contra o Palmeiras o Água Santa teve mais posse de bola, aproximação e um nível razoável de compactação.
Avanço significativo
Mas o time de Diadema está muito atrás dos avanços do São Bernardo de Sérgio Soares. De time ultradefensivo, que vivia de contragolpes, o São Bernardo tornou-se protagonista com ocupação do meio de campo, triangulações laterais e centrais, combatividade em todos os setores e surpreendente poder de contragolpe. A derrota no meio de semana diante do Corinthians por três a zero foi um acidente numérico. Não fosse a expulsão do atacante Tatá no final do primeiro tempo, o jogo teria sido menos desigual no segundo. O São Bernardo surpreendeu o Corinthians no primeiro tempo com marcação alta e muita aplicação defensiva.
No segundo tempo, com um a menos, cedeu à maior qualidade e organização de um adversário no qual parece se espelhar. Tanto que, em Rio Claro, sábado à tarde, Sérgio Soares utilizou o mesmo esquema tático de Tite para fulminar o time da casa quase rebaixado à Série B. O 4 a 1 diante do Rio Claro não significou um jogo perfeito do São Bernardo. Houve oscilações naturais e certa dificuldade em segurar a vantagem de um gol durante o começo do segundo tempo. Nada surpreendente para um time que se recicla em plena disputa.
O São Bernardo ultrapassou o São Caetano no ranking regional neste final de semana porque confirmou o avanço técnico e tático das rodadas anteriores enquanto o concorrente segue jogando com excesso de cautela. A derrota do São Caetano em casa para o União Barbarense foi consequência disso.
Sistema conservador
O técnico Luiz Carlos Martins manteve o sistema tático do jogo de três dias antes com a Portuguesa, no Canindé, com três volantes de marcação no meio de campo e somente Neto para organizar as jogadas. Um exagero que desta vez custou caro -- a equipe sofreu um gol no primeiro tempo e quando pressionou no segundo, com alterações que deram mais agressividade, foi surpreendida em contragolpe.
É impossível uma equipe com três volantes de contenção chegar ao ataque com qualidade. O São Caetano do primeiro tempo não chutou uma vez sequer a gol com alguma possibilidade de sucesso.
Já o Santo André segue roteiro mais que delineado como natural: sem banco de reservas à altura dos jogadores mais estratégicos e, pior que isso, sem ritmo de jogo, além de sofrer perdas por contusão, só poderia aspirar vaga no G-8 se os adversários se rivalizassem em semelhante desidratação. Não é o que está ocorrendo.
Agora em décimo lugar e praticamente fora da disputa de mata-matas, o Santo André terá de aprender a lição de que a montagem de um elenco não pode ficar ao sabor de circunstâncias. Preparar um time sem pelo menos dois jogadores de meio de campo que tratem a bola com competência, é o fim da picada. O São Bernardo se reestruturou com Sérgio Soares a partir da escalação de Jean Carlo e Cañete na mesma equipe, em vez de separados, entre outras mudanças.
Ranking desmistificador
O ranking de desempenho das equipes da região nas duas competições mais importantes do Estado segue alguns referenciais que podem descartar o índice de aproveitamento. Não é o fato de o São Caetano ter somado proporcionalmente mais pontos que o São Bernardo que o coloca no topo de avaliações. O filme das duas competições favorece tanto o São Caetano como o Santo André, que somam mais pontos ganhos em relação aos pontos disputados. Mas a fotografia do momento enquadra muito melhor o São Bernardo em relação ao São Caetano e o Água Santa em relação ao Santo André.
Nem mesmo o fato de São Bernardo e Água Santa disputarem competição mais qualificada que São Caetano e Santo André serve de obstáculo ao ranking. Seja qual for a competição em disputa, o que pesa para valer na hierarquia de rendimento das quatro equipes é o nível de competitividade.
Pode ser que no encerramento da fase classificatória dos dois campeonatos o ranking regional volte a ser alterado, como o foi ao longo das duas competições. Pode ser. Mas a reta de chegada precisaria mostrar um São Caetano, já classificado, mais disposto a jogar ofensivamente, com mudanças significativas, para deslocar o São Bernardo da primeira colocação. Da mesma forma que só um milagre retiraria o Santo André do quarto e último lugar.
Talvez Sérgio Soares tenha chegado tarde demais para levar o São Bernardo à etapa de mata-mata e também a uma das vagas à Série D do Campeonato Brasileiro. Mas não teria atrapalhado em nada uma lição que as demais equipes da região deveriam aprender correndo: o excesso de volantes, a falta de jogadores de articulação e sede de gols no meio de campo, a dispersão na ocupação de espaços, entre outras pragas de times convencionais, sempre custam muito às pretensões delineadas. A frustração é companhia inseparável da improvisação, do medo e do exagero defensivista.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André