Esportes

Seleção da região tem domínio
de São Bernardo e São Caetano

DANIEL LIMA - 05/04/2016

Dez dos 11 jogadores que estou escalando para formar a Seleção da região desta temporada de Campeonato Paulista da Série A e da Série B atuaram pelo São Bernardo (seis) e pelo São Caetano (quatro). O outro é do Santo André. O Água Santa não tem nenhum representante. O técnico é Sérgio Soares, do São Bernardo. Na sequência, vou revelar as razões que colocaram o São Bernardo e o São Caetano como fornecedores predominantes da seleção, e também a apontar o técnico Sérgio Soares como comandante desse grupo de jogadores.

Fosse possível colocar esse time em campo, provavelmente a região teria uma das melhores equipes dos últimos anos. O sistema que uniria o grupo é o 4-1-4-1, adotado por Tite no Corinthians e que aos poucos vem sendo adaptado por outros treinadores.  São modelos replicantes ainda embrionários, mas com tendência de compor nova escola conceitual no futebol brasileiro, da qual dificilmente os chamados cabeças de área, os volantes brucutus, terão vez em equipes com pretensões mais ambiciosas do que simplesmente jogar no erro do adversário.

O São Bernardo entra como o maior fornecedor de jogadores da seleção da região porque teve a capacidade de se reciclar em plena competição. De concorrente seríssimo ao rebaixamento sob o comando do técnico Roberto Fonseca, a equipe mudou completamente desde a chegada de Sérgio Soares, treinador que levou o Santo André ao título de vice-campeão Paulista em final contra o Santos.

Sérgio Soares não só retirou o São Bernardo da zona de rebaixamento como o levou a disputar uma vaga nas quartas de final na rodada deste domingo contra o Palmeiras. Nada mais natural para quem introduziu sem medo uma série de mudanças na equipe.

Soares rearranjou equipe

Sérgio Soares arranjou espaços para Cañete e Jean Carlos jogarem juntos e se completarem no meio de campo. Retirou Magal da inutilidade de atacante e o tornou eficientíssimo como lateral de vocação, com bom aproveitamento ofensivo. Definiu-se pela dupla de zagueiros com Diego Ivo e Luciano Castãn, que também se encaixam. Errou quando assumiu a equipe e escalou o jovem Luiz Daniel no lugar do experiente Daniel do gol. No jogo seguinte, ante os erros de Luiz Daniel, voltou ao que era antes. Fixou Eduardo na lateral-direita, em vez da improvisação à esquerda da defesa. Marino passou a exercer funções de segundo volante -- e também foi escalado como primeiro volante em substituição ao tosco Daniel Pereira. Henan foi mantido como titular do comando do ataque e já não se afastou tanto da área, embora tenha mobilidade. Descobriu Walterson e Tatá como opções de ataque.

Mas, muito mais importante que tudo isso, Sérgio Soares colocou o São Bernardo no ataque. Chegou a desprezar os riscos ao escalar a equipe sem ao menos um volante brucutu como Daniel Pereira. Perdia o jogo para o São Paulo, substituiu um volante pelo atacante Tata e obteve os três pontos. Repetiu a experiência em outros jogos.

Seleção definida

Com todo esse fichário de bons resultados seria natural que Sérgio Soares ocupasse a condição de melhor técnico da temporada na região. Superou Luiz Carlos Martins, que parecia fadado ao título pela regularidade da equipe de melhor aproveitamento. Superar um treinador cuja equipe terminou a primeira fase da Série B do Campeonato Paulista como campeã não é tarefa fácil -- principalmente ao assumir o posto durante a competição. Mas foi exatamente isso que levou Sérgio Soares à condição de vencedor.

A diferença do São Bernardo entre o antes e o depois de Sérgio Soares é estonteante. Por isso o São Bernardo conta com cinco titulares na seleção da região. Entre os zagueiros são três (Eduardo, Luciano Castãn e Magal), completando-se o setor com dois do São Caetano (goleiro Renan Rocha e o zagueiro Sandoval). No meio de campo, a seleção conta com um volante móvel (Marino do São Bernardo) e quatro jogadores de características complementares: Neto, do São Caetano, Jean Carlos e Cañete do São Bernardo e Branquinho do Santo André. O atacante centralizado, com inteligência, força física, boa técnica e capacidade de atuar coletivamente é Jô, do São Caetano. Esse é um time provavelmente indigesto aos adversários.

O predomínio do São Bernardo e do São Caetano na formação da seleção da região é compulsório. Juntas, as duas equipes ganharam 60% dos pontos que disputaram (o São Caetano 39 em 57 possíveis e o São Bernardo 20 em 42 possíveis), marcaram 49 gols e sofreram 36. O São Caetano tem o melhor índice de aproveitamento entre as equipes da região, com 68,4% de efetividade. O São Bernardo alcançou até agora 47,6%. Um pouco menos que os 50,9% do Santo André, que disputa uma competição de obstáculos inferiores porque não há confronto com os grandes. O Água Santa ganhou 38,1% dos pontos disputados.

Confiram a seleção da região, ainda não definitiva porque as competições ainda não se encerraram para as equipes locais. É pouco provável uma reviravolta nos nomes, mas não é descartável que um ou outro reserva não anunciado acabe por brilhar nos jogos decisivos deste final de semana e nas etapas de mata-matas.

Explicando as escolhas

Renan Rocha – Nos primeiros jogos do campeonato o goleiro do São Caetano pareceu sentir a força da tradição de uma equipe que contou nos últimos 10 anos, ou mais, com Silvio Luiz e Luiz, ídolos da torcida. Aos poucos foi conquistando a confiança dos torcedores. Ganhou confiança e com isso melhorou o que parecia ser um problema insuperável: as saídas do gol em bolas cruzadas em diagonal.

Eduardo – O lateral-direito do São Bernardo também joga pelo lado esquerdo, porque tem facilidade de adaptação ao outro lado do campo, mas foi com a contratação do técnico Sérgio Soares que ganhou espaço ofensivo. A estabilidade da equipe o favoreceu. As dificuldades como marcador e principalmente na cobertura, em bolas em diagonal, já foram maiores. O coletivo contribui para amenizar deficiências individuais.

Sandoval – Tem velocidade e uma qualidade que os zagueiros nem sempre exercitam: simplificada as jogadas em situação de potencial risco. O avanço do lateral-esquerdo Bruno Recife não sofre avarias defensivas porque Sandoval está sempre atento. Pode jogar mais centralizado à direita sem problemas de adaptação. Não é tão forte nas bolas aéreas quanto poderia, porque tem estatura elevada, mas o senso de colocação o auxilia muito. O São Caetano nunca é o mesmo sem Sandoval.

Luciano Castãn – Há jogos em que o São Bernardo parece contar com apenas 10 jogadores. Leandro Castãn se torna quase papel celofane. Mas essa é uma das virtudes dos bons zagueiros – aparecer apenas nos momentos incômodos. Formaria uma dupla de respeito com Sandoval porque ambos têm facilidade na leitura defensiva. Não dão passos em falso.

Magal – Mudou completamente o rendimento após a chegada de Sérgio Soares. De atacante pela esquerda que virava auxiliar do titular da lateral Velloso, ganhou a titularidade de lateral mesmo, de onde ganha impulso e folego para se tornar ofensivo com mais letalidade. Também precisaria apurar a segurança nas bolas em diagonal e aperfeiçoar as finalizações.

Marino – Pode exercer várias funções no meio de campo, mas se sai melhor saindo de trás, como volante marcador que vira segundo volante apoiador e se transforma em ponta de lança agressivo. Não tem tanta habilidade, mas é eficiente pela técnica e pela capacidade de decifrar espaços a ocupar. Virou primeiro volante no jogo de domingo contra o Red Bull, entre outros jogos, porque o titular Daniel Pereira não passa de cão de guarda inútil quando há necessidade de construir vitória com um mínimo de ousadia.

Neto – É o motor de arranque do São Caetano. Une qualidades técnicas com muita movimentação. Auxilia permanentemente a defesa, desloca-se por todos os setores do campo e finaliza com precisão e força pouco comum entre os meias-atacantes. Neto é a combinação de força e técnica que todo meio de campo precisa contar.

Jean Carlos – Estava quase jogado às traças no São Bernardo do técnico Roberto Fonseca. Jogava ele ou Cañete em tempos distintos. Ganhou a confiança do técnico Sérgio Soares e se tornou titular inquestionável. Passou a combater mais os adversários, a fechar espaços laterais, e aperfeiçoou os lançamentos longos com finalizações sempre impactantes.

Cañete – O crescimento de seu futebol com o desembarque do técnico Sérgio Soares é extraordinário. E aumentou ainda mais na medida em que o condicionamento físico deixou de ser obstáculo que limitava ações a apenas um tempo de jogo. Tem técnica refinada, enxerga espaços que a maioria não acredita existir e chama a responsabilidade para si em momentos de dificuldades da equipe.

Branquinho – Não teve um rendimento uniforme no Santo André porque a equipe não ajudou. Contasse com pelo menos um meio-campista capaz de organizar o setor, esse meia-atacante que finaliza com precisão tanto em jogadas em movimento quanto em bolas paradas teria sido mais produtivo ainda. Compensa a falta de maior mobilidade com extraordinário poder de escolher o melhor espaço a preencher.

Jô – O centroavante do São Caetano evoluiu a cada rodada do campeonato, mesmo no período de oito jogos sem marcar. Trabalha o tempo todo em favor da equipe, quer como centroavante fixo, circulando entre os zagueiros adversários, que recuando para abrir espaços às costas. É mais eficiente mais próximo da área como finalizador contundente ou como uma barreira móvel entre os zagueiros a permitir a penetração e a finalização de companheiros.



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