Esportes

Seis caminhos se cruzam para
decidir clássico deste sábado

DANIEL LIMA - 14/04/2016

Há seis caminhos que se cruzam e que deverão conduzir São Caetano ou Santo André ao sucesso na tarde deste sábado, quando estará em disputa uma vaga à semifinal da Série B do Campeonato Paulista, penúltimo passo ao acesso. Esses seis caminhos de influência técnico-tática não necessariamente precisam ser completamente integrados, mas quem juntá-los em maior quantidade e intensidade deixará o Estádio Anacleto Campanella festejando classificação.

Em quase todos esses quesitos o Santo André foi melhor que o São Caetano no jogo de ida. Por isso ganhou de dois a um e, agora, só deixará escapar a classificação no tempo regulamentar se sofrer derrota por dois gols de diferença ou se, caso perca por apenas um gol, também seja derrotado nas cobranças de penalidades máximas.

Vou utilizar nessa análise o mesmo princípio conceitual que adotei em setembro do ano passado para explicar as razões que levaram o São Caetano a perder em casa, para o Botafogo de Ribeirão  Preto, a classificação para a Série C do Campeonato Brasileiro. O São Caetano foi a melhor entre as 40 equipes da fase inicial da Série D do Brasileiro e entrou na disputa do mata-mata como favorito. Venceu o primeiro desafio contra o Coruripe, mas caiu nas quartas- de-final diante do Botafogo de Ribeirão Preto, que se classificara apenas em 15º lugar na primeira etapa. O Botafogo acabou campeão da competição na final contra o Remo de Belém do Pará.

A decisão do São Caetano contra o Santo André lembra o jogo com o Botafogo. Como no ano passado, a equipe dirigida por Luiz Carlos Martins perdeu como visitante por dois a um. Precisava no jogo de volta vencer por apenas um gol de diferença. Mais simples que agora, quando precisa vencer por dois gols de vantagem para evitar as penalidades máximas.

O que São Caetano e Santo André precisam para chegar à semifinal da Série B do Campeonato Paulista? São seis os pontos centrais que poderiam determinar o resultado final: 

 Arranjo tático 

 Posse de bola produtiva 

 Alta intensidade 

 Compactação espacial 

 Alta mobilidade 

 Equilíbrio emocional

Em todos esses vetores, considerando-se o primeiro jogo disputado sábado no Estádio Bruno Daniel, o Santo André do técnico Toninho Cecílio foi mais efetivo. Resta saber se repetirá aquele desempenho.

Agora, breves explicações sobre esses caminhos: 

 Arranjo tático – Um erro na escalação da equipe poderá ser fatal porque tanto contaminaria o restante do grupo como incidiria em falhas específicas a serem exploradas pelo adversário. No primeiro jogo o São Caetano teve de improvisar o volante Gercimar na lateral-direita, situação que proporcionou a concentração de ataques do Santo André naquele setor, numa ação claramente treinada durante a semana. O desencaixe funcional na defesa criou instabilidade. Talvez o São Caetano volte a contar com um lateral de ofício, Grafite, que se contundiu no início da competição. Vai depender muito das definições de Toninho Cecílio e Luiz Carlos Martins a eficiência tática das duas equipes. A ausência de três jogadores defensivos no Santo André – o zagueiro Diogo Borges e os volantes Dudu e Thiago Ulisses – poderá comprometer o sistema de marcação se o técnico Toninho Cecílio fizer escolhas arriscadas, mas o mais provável é que preserve a forma de atuar, independente dos jogadores a escalar. Do outro lado, Esley e Ferreira provaram durante toda a competição que executam funções defensivas, de marcação, com brilho, mas não se completam ofensivamente porque são pouco produtivos na articulação verticalizada. Substituir um dos dois por um meia atacante, como Diego Salles, poderia abalar a marcação do Santo André. 

 Posse de bola produtiva – O Santo André deu um show de rapidez e agilidade no primeiro jogo porque não se preocupou em manter a bola nos pés, mas sim em transformá-la em objeto de preocupação defensiva do São Caetano. Já o São Caetano se excedeu na troca de passes laterais, sem verticalidade alguma. A marcação forte do Santo André ajuda a explicar a improdutividade do São Caetano, mas não é tudo. Houve por parte da equipe de Luiz Carlos Martins esmero exagerado  de sugerir que posse de bola é controle tático. Com laterais imobilizados e dois volantes sem ambição e traquejo ofensivos, o São Caetano sofreu para burlar a marcação adversária. Tudo indica que o Santo André, menos agressivo do que no jogo de sábado passado, será ainda mais incisivamente objetivo neste sábado. 

 Alta intensidade – Sair da defesa em direção ao ataque em velocidade, que não pode ser confundida com pressa, pode ajudar a traçar o destino do resultado do clássico. O Santo André desempenhou bem essa função no jogo da semana passada, enquanto o São Caetano foi extremamente moroso. Aliás, esse é o comportamento padrão do time de Luiz Carlos Martins. O São Caetano reserva apenas um terço de cada jogo para imprimir ritmo veloz. Esse tempo é curto demais para a responsabilidade de buscar dois gols de diferença. Contra o Botafogo de Ribeirão Preto foi exatamente assim, e o resultado final foi doloroso. 

 Compactação espacial -- Para saber como está a ocupação de um território futebolístico, ou seja, como estão distribuídos os jogadores em campo, não basta uma ou outra olhada geral. É preciso estar atento continuamente aos movimentos das peças com bola e sem bola. Quanto maior o distanciamento entre zagueiros e atacantes, intermediados pelos jogadores de meio de campo, mais se consuma a dispersão territorial. Nem Santo André nem São Caetano foram eficientes nesse quesito no clássico de sábado passado. É indispensável muito treinamento para melhorar essa postura, mas, mesmo assim, as dificuldades aparecem porque o ambiente de um jogo decisivo gera movimentos erráticos de jogadores ansiosos demais em busca de um resultado. Quem se agrupa mais, que se aproxima mais nos três setores, desgasta-se menos e reduz a potencialidade de criação do adversário. Ocupar permanentemente um terço do campo de jogo quando se defende, quando se organizam as jogadas e quando se busca o ataque é uma obra de arte coletiva à qual somente times de alto rendimento, como o Barcelona, alcançam. 

 Alta mobilidade – Ocupar espaços de um campo de futebol com a aproximação entre os setores está longe de ser o pó de pirlimpimpim ao sucesso. É imprescindível contar com mobilidade dos jogadores. Mobilidade é a combinação de velocidade, agilidade e progressividade tanto para defender como para armar e atacar. Um time de alta mobilidade raramente deixa de balançar as redes, porque  o processo de desgaste do adversário é algo como água mole em pedra dura. O São Caetano errou demais no primeiro jogo nesse quesito. Jogou em câmera lenta, enquanto o Santo André, mesmo longe do ideal,  revelou potencial mais produtivo em várias situações. O ativo do São Caetano, formado há bem mais tempo que o adversário, é muito maior. Mas alta mobilidade não se manifesta em time sem coragem, com amarras táticas exageradas. 

 Equilíbrio emocional – Quem estará mais bem preparado emocionalmente para o clássico deste sábado? O São Caetano acusará o golpe da desvantagem no placar do primeiro jogo? O Santo André sentaria no resultado favorável? Quem está mais consciente de que em jogo de mata-mata o estresse ganha dimensão muito maior e por isso mesmo precisa ser canalizado de forma benéfica em favor do conjunto? Qual será a influência de Toninho Cecílio sobre os jogadores do Santo André em contraponto à catequese de Luiz Carlos Martins, quando se sabe que eles , os dois treinadores, são antagônicos nos vestiários e nos bancos de reservas? O incendiário Toninho Cecílio prevalecerá no comando do Santo André, como no jogo de sábado passado? O geralmente frio Luiz Carlos Martins manterá a postura quase olímpica? Seria o modelo de inquietude de Toninho Cecílio mais apropriado ao calor de uma decisão ou a serenidade de Luiz Carlos Martins vai se sobrepor? A atmosfera do jogo, agora favorável ao São Caetano, que contará com o apoio de grande torcida, poderá influenciar para valer no comportamento das equipes em campo. O quesito emoção faz parte do espetáculo em percentual relativo que não pode ser desprezado. Não fosse assim, não seria considerada vantagem a disputa do segundo jogo na casa da equipe que fez melhor campanha. Resta saber se o São Caetano geralmente frio será suficientemente abrasivo para acrescentar um ingrediente que o adversário soube explorar no primeiro jogo.



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