Esportes

Como voltar de Barretos com
um lugar na Primeira Divisão?

DANIEL LIMA - 25/04/2016

O técnico Toninho Cecílio é o grande responsável pela situação em que se encontra o Santo André, a um passo da Série A do Campeonato Paulista da próxima temporada. A vitória de dois a zero sobre o Barretos sábado à tarde no Estádio Bruno Daniel, no primeiro jogo do mata-mata das semifinais, provou mais uma vez que o treinador faz a diferença.

Toninho Cecílio chegou a um Santo André desacreditado, praticamente fora da zona de classificação, e o instalou a duras penas em oitavo lugar no G-8. Depois de superar o líder e mais poderoso São Caetano, colocou a equipe em situação privilegiada na rodada seguinte, diante do Barretos. Seria preciso errar demais para o Santo André perder o acesso. Por isso, é quase certo que enfrentará o Mirassol no jogo decisivo que valerá o título, apenas o título, porque a Série A já estaria assegurada. O Mirassol ganhou fora de casa do Batatais por um a zero na outra semifinal e decide a vaga à finalíssima com apoio de sua torcida.

Toninho Cecílio sabe que conta com um grupo de jogadores de capacidade técnica e tática bastante restrita mesmo para o padrão de uma Segunda Divisão que, nesta temporada, está bem abaixo do que se viu no ano passado, por exemplo. O Santo André é um time tão modesto que o próprio treinador desconfia das limitações. Tanto que, mesmo sendo o que é um time voluntarioso e somente agora com razoável força coletiva, poderia ter liquidado de vez com o Barretos na tarde de um sábado de muito sol e uma torcida barulhenta. E também numerosa o suficiente para dispensar garrafas pet para lotar as arquibancadas do Estádio Bruno Daniel.

Primeiro tempo descartável

Não desconfiasse, com toda razão, do time que dirige Toninho Cecílio não teria esperado um primeiro tempo inteiro para colocar o Santo André mais decididamente no ataque. Depois de uma primeira etapa sofrível, com repetidas tentativas de encontrar o caminho do gol usando os laterais, apenas os laterais, diante de um adversário que jamais se fechou na defesa, o Santo André voltou com mudanças providenciais no segundo tempo.

O que está em jogo na decisão fora de casa com o Barretos é a definição do time que Toninho Cecílio vai levar a campo. O esquema que funcionou no segundo tempo no Bruno Daniel possivelmente não funcionaria fora de casa, quando o adversário deverá ir ao ataque como uma avalanche. O meia de articulação Fernando fez os dois gols em Santo André – o primeiro numa penetração desde a intermediária ofensiva e o segundo ao converter um pênalti que ele próprio sofreu – mas dificilmente será escalado fora de casa.

Primeiro porque ocupou o lugar de Branquinho, o melhor jogador da equipe, suspenso com três cartões amarelos. Segundo porque Fernando é lento demais, apático demais, permissivo demais, para dar o dinamismo que se espera de um time de contragolpes que Toninho Cecílio certamente escalará em Barretos. Chega o sufoco diante do São Caetano no Estádio Anacleto Campanella.

A volta de Branquinho mudará o jeito de o Santo André jogar. Branquinho não tem nada de meia-armador. É um meia-atacante que coloca a bola onde quer, principalmente nas cobranças de faltas e escanteios e em infiltrações verticais. Ele deverá jogar livre de maiores preocupações defensivas porque a equipe contaria com três volantes de marcação a proteger uma defesa que tem os dois zagueiros de área – Samuel Teram e Diogo Borges – como pontos altos, e os laterais como marcadores deficientes.

Antônio Carlos cerebral

Talvez a novidade que Toninho Cecílio reserve para a decisão em Barretos seja a manutenção de Antônio Flávio como titular, tanto quanto o sempre ágil Guilherme Garré. Ou seja: o Santo André jogaria num 4-3-3. Antônio Flávio atuou de centroavante falso no primeiro e no segundo tempo. No primeiro tempo sua movimentação não teve efeito porque Garré e Fernando não se aproximaram da área e os três volantes ficaram na marcação. No segundo tempo, com a retirada do terceiro volante Dudu e a entrada do rápido Robson aberto pela direita, a mobilidade inteligente de Antônio Flávio foi mais intensa e produtiva. Ele flutuou entre os zagueiros e os volantes do adversário. Abriu espaços a penetrações.

O gol de Fernando surgiu de um contragolpe raro concedido pelo adversário. A penalidade máxima convertida por Fernando saiu de uma combinação com Antônio Flávio. Branquinho faz muito melhor a função de ponta de lança do que Fernando, porque é mais constante, mais rápido, mais agudo. Fernando tem a qualidade do passe e de finalizações. Está mais para a meia-armação do que para a função de meia-atacante.

É muito pouco provável, portanto, que Antônio Flávio deixe o time em Barretos. O 4-3-3 parece mais plausível. O Santo André não cometeria o erro de voltar a jogar tão mal fora de casa como o fez diante do São Caetano, quando ficou o tempo todo na defesa e não criou praticamente nenhuma jogada de contragolpe. O Barretos tem menos qualidades individuais e coletivas que o São Caetano, mas não parece tão repetitivo na forma de jogar. Pode surpreender com jogadas individuais principalmente nas infiltrações centrais que ensaiou várias vezes no Bruno Daniel. A volta de três titulares deverá dar mais confiança à equipe do Interior.

Posse de bola é fundamental

É indispensável que o Santo André apresente no Interior do Estado o que lhe tem faltado inclusive nos jogos em casa: mais posse de bola e mais mobilidade, especialmente na transição do campo de defesa ao ataque. Nesse ponto, não estaria descartada a entrada do experiente Luciano Sorriso para compor o sistema de bloqueio no meio de campo com o sempre bem colocado Thiago Ulisses e o experiente Agenor, responsável pelo passe que levou Fernando às redes no primeiro gol. Luciano Sorriso tem sido utilizado praticamente em todos os segundos tempos por Toninho Cecílio.

Com Luciano Sorriso, o jovem Dudu ficaria no banco de reservas. Dudu tem uma qualidade importante para quem tem a missão de mais atacar que defender – mete-se de vez em quando em jogadas ensaiadas campo adversário adentro – mas se tornaria menos relevante num time que contaria com Branquinho, Antônio Flávio e Garré nas arremetidas ofensivas. Luciano Sorriso tem mais experiência e um passe muito mais qualificado que Dudu.

Essa especulação em torno da escalação do Santo André é fruto de observações. O reconhecimento de que a equipe tem limitações individuais e coletivas profundas – que o próprio treinador admite ao priorizar o defensivismo radical – está na raiz do sucesso de Toninho Cecílio. Não houvesse priorizado a organização defensiva de um time que peca por não contar com um bom articulador de meio de campo, o Santo André não teria se classificado. Agora que está com a mão na classificação, pode manter a robustez defensiva com três volantes de contenção e ganhar fôlego com três meias-atacantes.

Pressão previsível

A opção de deixar de lado um dos meias-atacantes (Garré ou Antonio Flávio, já que Branquinho é titular absoluto) e escalar um centroavante de ofício – Diego Viana ou Trípodi -- não parece mais adequada. Tanto um quanto outro não tem explosão muscular, não tem velocidade como opção de bola longa. Numa primeira investida tática a medida pareceria pouco recomendável. Diego Viana poderia ser recomendável se não estivesse fora de ritmo, porque conhece os atalhos que levam ao gol adversário.

Não se pode esquecer jamais que o Barretos vai exercer intensa mobilização ofensiva – porque precisa de dois gols de diferença para levar a disputa aos pênaltis e de três para liquidar o resultado nos 90 minutos. Qual seria o melhor antídoto contra um time que joga contra o relógio? Que o adversário, no caso o Santo André, jogue com o relógio e o regulamento debaixo do braço e gaste o tempo de forma objetiva, progressiva, com qualidade coletiva.

Aos trancos e barrancos, o técnico Toninho Cecílio construiu uma espinha dorsal que explica a arremetida do Santo André rumo à Primeira Divisão: o goleiro Zé Carlos, os dois zagueiros de área e os dois volantes, Thiago Ulisses e Angenor, dão estabilidade defensiva à equipe. Falta ganhar tônus ofensivo, dependente demais de Branquinho. Antônio Flávio apareceu no segundo tempo contra o Barretos como possível salvação de dar mais engenhosidade ao ataque. Garré, mais explosivo, pode ajustar o ímpeto ao lado dele e de Branquinho.

Um time que tem a vantagem de dois gols – poderia ser maior, se acreditasse um pouco mais nos últimos 30 minutos do segundo tempo em que o Barretos balançou emocional e taticamente – não pode cair na armadilha da impetuosidade de um adversário em desespero.

Não interessa se o Santo André desta temporada está muito abaixo de tantas outras formações que o levaram a vários sucessos. O que vale mesmo é que nestas alturas do campeonato um acesso improvável até outro dia bate à porta. Um time desacreditado pelos próprios torcedores e dirigentes transformou-se em favorito a uma das vagas à Primeira Divisão do ano que vem. Nada mais comprovador de que o sistema de mata-mata reserva surpresas quando equipes de estruturas semelhantes se enfrentam.



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