Esportes

Mata-mata antecipado revela
São Caetano mais experiente

DANIEL LIMA - 10/10/2016

Oficialmente, pelo regulamento, as oitavas de final da Copa Paulista (competição que dará ao campeão uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro do ano que vem) não reserva o que se convencionou chamar de mata-mata, sistema que elimina um dos adversários em jogos de ida e volta. Mas, de fato, o jogo que o São Caetano venceu o Rio Claro ontem por dois a zero, pelo Grupo 8, teve esse significado para o time da região. 

Um empate seria desastroso e praticamente eliminaria o São Caetano das quartas de final. O trauma do time do técnico Luiz Carlos Martins com os últimos mata-matas parece ter sido exorcizado, mas ainda requer confirmação. Tanto que o jogo desta quarta-feira, em Mirassol, tem características semelhantes. Se perder, o São Caetano pode ficar de fora da próxima etapa. Um castigo para a equipe que fez a melhor campanha na fase inicial entre os 26 competidores. 

Para entender a transformação de uma fase em que os quatro times do mesmo grupo jogam entre si em turno e returno em algo que tem toda a característica de mata-mata, basta pegar a tábua de classificação. Ao faltarem apenas duas rodadas para o encerramento da etapa, São Caetano, Rio Claro e Mirassol dividem o primeiro lugar com sete pontos ganhos. Também empatam em número de vitórias. No critério seguinte, o São Caetano passa para o terceiro lugar e o Rio Claro assume o primeiro. É o peso regulamentar do saldo de gols. 

Confrontos decisivos 

As três equipes que dividem a classificação por pontos ganhos jogam as duas últimas rodadas com se cada confronto fosse uma decisão. Qualquer erro será fatal. O São Caetano está em situação incômoda não necessariamente pelo terceiro lugar na classificação detalhada, mas porque não pode perder em Mirassol. Se for derrotado, certamente poderá dançar na competição. Tudo porque o Rio Claro joga no Morumbi com o São Paulo, saco de pancadas no grupo com apenas um ponto ganho (no empate de zero a zero com o São Caetano, no Morumbi). 

Se vencerem neste meio de semana, Rio Claro e Mirassol saltariam a 10 pontos ganhos. O São Caetano permaneceria com sete. Com isso, na rodada do final de semana, a última do segundo turno, o São Caetano poderá somar nova decepção. É verdade que o São Caetano enfrentará um São Paulo já sem perspectiva na competição, mas um empate entre Mirassol e Rio Claro no mesmo horário classificaria as duas equipes em detrimento de São Caetano que não teria razões para comemorar a vitória provável diante do São Paulo. 

Quem conhece futebol sabe que não faltam exemplos de equipes que jogaram em situações semelhantes a que poderia estar reservada ao Mirassol e ao Rio Claro. O resultado, coincidentemente, foi mutuamente festejado. 

Muito equilíbrio 

A vitória do São Caetano diante do Rio Claro não demarcou superioridade dos vencedores a ponto de se desprezarem as próximas rodadas. Durante mais de dois terços do jogo o Rio Claro manteve uma disputa equilibrada. Jamais se fixou defensivamente. Foi atrevido, marcou intensamente no campo adversário, avançou a linha de zagueiros, não se deixou pressionar e só não ameaçou de forma contundente porque o São Caetano do técnico Luiz Carlos Martins segue sendo um time bem distribuído no sistema defensivo. Fosse assim também ofensivamente, seria invejável. 

O que mudou no São Caetano em relação ao time que perdeu para o Santo André na fase de mata-mata da Série B do Campeonato Paulista no primeiro semestre do ano é que passou a contar com pelo menos um atacante de velocidade e, com isso, adicionou escapatória tática. 

Pikachu é um atacante pelas beiradas sempre à espreita para infiltrações em diagonal. O time sabe disso e procura lançá-lo geralmente sem grande alarde. Não se trata – pelo menos foi o que se viu diante do Rio Claro – de obsessão que o adversário logo trataria de neutralizar. Como tem boa técnica, Pikachu também volta para ajudar o meio de campo. Mas o bote ofensivo é a sua maior virtude. 

Foi assim que Pikachu sofreu a penalidade máxima no final do primeiro tempo. E foi assim também, no segundo tempo, quando o jogo parecia mais complicado com o Rio Claro todo ofensivo, que Pikachu recebeu pela esquerda em rápido contragolpe e criou toda a jogada que se encerrou com o segundo gol do São Caetano, marcado por Daniel Costa. 

Mais transformações 

Mas não foi só Pikachu que alterou o jeito de jogar do São Caetano. O time também usa mais as extremidades do campo em jogadas de inversão (foi assim que Norton achou Pikachu solto entre dois zagueiros no primeiro gol), conta com mais intensidade na construção ofensiva, troca menos passes laterais e se agrupa ainda mais fortemente sem a posse de bola. 

Faltam ao São Caetano mais triangulações laterais e centrais e jogadas de infiltração pelo centro. Mas é um time mais arrumado que o do Campeonato Paulista. O meio de campo ainda é conservador, com dois volantes que mais marcam que apoiam, mas os laterais têm ampla liberdade. E não se pode esquecer do centroavante Jô. Ele fez um jogo perfeito taticamente, quer enfiado entre os zagueiros, quer se deslocando lateralmente para abrir espaços. Jô combina a grandiosidade de um corpo de 1,90 metro com técnica suficientemente incômoda aos zagueiros. O problema do São Caetano é que nem sempre conta com Jô nos momentos decisivos. Ou, quando conta, Jô não está na plenitude da forma física e clínica. 

Com todas as qualidades que o São Caetano expôs, entretanto, o resultado com o Rio Claro só se traduziu em vitória porque a equipe de Luiz Carlos Martins não cometeu falhas individuais. O Rio Claro não venceu por acaso o jogo de ida na semana anterior. Tanto que dominou completamente o São Caetano no primeiro tempo e se acomodou no segundo. 

O São Caetano só teve o controle total do jogo de ontem nos últimos 15 minutos, notadamente a partir do segundo gol. Fora isso, o jogo foi dividido, quase enxadrístico. O Rio Claro pareceu cansar no segundo tempo, principalmente Moisés, um meia de armação com muita visão tática. 

Mas os méritos maiores devem ser mesmo creditados ao São Caetano. A experiência do sofrimento em mata-matas anteriores parece ter deixado marcas que podem fazer a diferença nas próximas etapas. Desde que passe pelas oitavas de final. Mata-matas não oficiais esperam por São Caetano, Mirassol e Rio Claro no grupo mais equilibrado das oitavas de final da Copa Paulista. 



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